quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Zé Miguel Wisnik - Arte e Ciência - A mente e o poder da música - CCBB - BH - 2015

  

  


O José Miguel Wisnik demostrou noções de teoria musical e fronteiras entre frequências sonoras e ritmo no trecho final dessa palestra do ciclo Arte & Ciência (CCBB 2015)

Vale uma espiada neste trecho! [ 1h19m20s]
Arte & Ciência - A Mente e o Poder da Música

https://www.youtube.com/watch?v=ifB7cqyE1RQ&feature=youtu.be&t=1h19m20s


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Compositor e neurocientista abordam o efeito dos estímulos musicais no cérebro

O músico e escritor José Miguel Wisnik participa hoje de debate no CCBB BH. 


José Miguel Wisnik e Ésper Cavalheiro inauguram ciclo de palestras sobre arte e ciência
Em 1989, o escritor e compositor José Miguel Wisnik publicou o livro O som e o sentido (Companhia das Letras), sobre como os fênomenos sonoros são recebidos pelo ouvido e interpretados pelo cérebro. Na época, estava fortemente motivado pelas aulas sobre música que havia dado nos anos anteriores e que se tornaram possíveis no formato que ele imaginava graças à popularização do teclado, “o piano portátil”.

“Estava convicto de que, com exemplos concretos, era possível falar de música para leigos. O ouvido é um instrumento que todos nós praticamos, em diferentes níveis”, afirma Wisnik. Ainda bastante interessado no assunto, ele participa hoje em Belo Horizonte da mesa que abre o ciclo de debates Arte & Ciência, promovido pelo Centro Cultural Banco do Brasil, com entrada franca. Wisnik discutirá o tema “A mente e o poder da música” com o neurocientista Ésper Cavalheiro. A mediação é do filósofo e diretor teatral Luiz Carlos Garrocho. O evento prevê debates sempre às primeiras quartas do mês, até dezembro.

“Ésper tem mostrado como a prática musical ativa zonas do cérebro ligadas ao fazer música, inclusive transformando fisicamente o cérebro. Muitas perguntas nascem disso, e eu ainda não consegui fazer todas as que quero. Por exemplo, se a música desenvolve áreas específicas do cérebro, para que servem essas áreas quando não pela música? Ou seja, quais são as vantagens do ensino da música em escolas? E qual é a relação da música com a memória? Por que guardamos melhor um texto ritmado do que um outro qualquer? Onde está sediado o estúdio de gravação do cérebro?”, diz Wisnik.

Ele relata que Ésper também tem se mostrado interessado pelos pontos de vista que esse debate permite a partir da música. O momento atual é de interesse mútuo entre música e ciência e não permite fechar conclusões: “A música é muito emocional e também está relacionada às relações numéricas. Há na gente um computador funcionando na recepção da música, mas também ativando emoções. Ela é a arte que mais provoca amores e ódios, é invasiva. O Ésper falou que a música se localiza numa zona do cérebro relacionada à marcação de território, na qual estabelecemos lugares em que nos sentimos protegidos”.

Arte & Ciência

Debate 

“A mente e o poder da música”, com Ésper Cavalheiro e José Miguel Wisnik, com mediação de Luiz Carlos Garrocho. Hoje, às 19h30, no auditório do Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450, Savassi). 
Informações: (31) 3431-9400. 
Entrada franca (as senhas são distribuídas no local, uma hora antes).

Próximos debates

1/7  - MEMÓRIA E CRIATIVIDADE
Jociane Miskiw e Silviano Santiago

5/8 - O FUTURO DO HUMANO
Edgard Morya e Lúcia Santaella

2/9 - LÓGICA E ARTE
Francisco Antonio Doria e Arthur Omar

7/10 - A FÍSICA NA FRONTEIRA DA FILOSOFIA
Rogério Rosenfeld e Antonio Cícero

4/11 - A ÉTICA NOS TEMPOS DA BIOGENÉTICA
Mayana Zatz e Olgária Matos

2/12 - A TERCEIRA CULTURA
Luiz Pinguelli Rosa e Ivald Granato





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O insight abaixo, publiquei completo lá:

http://educambientando.blogspot.com.br/2015/09/re-encontrando-heidegger-salvar-e.html

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Penso que temos que estar sempre alternando entre a lembrança do passado na vivência de um presente consciente do seu desdobramento no futuro.

Não acho que isso seja algo trivial de se fazer dada a nossa cultura atual: pautada na satisfação de desejos imediatistas, na negação surda da nossa história e no cego fascínio pelo "novo".

Mas acho que uma vez internalizado o processo, ele dissolve as fronteiras culturais de passado/presente/futuro e nos situa conscientemente como os agentes que re-significam a todo momento a "realidade".

Essa assimilação consciente e dissolução cognitiva do "tempo" é o que me parece dar recheio a alguns rótulos culturais como "ética", "moral", "amor", "respeito" etc... que costumam ser buscados sempre fora de nós mesmos, como algo que nos falta.

De fato, falta: falta assumir a responsabilidade de já termos tudo isso dentro de nós. Ou em outras palavras: aceitar o passado como constitutivo do que somos no agora.

"Passado"Pelo que estou percebendo é essa a bandeira que o Heidegger está sacudindo na nossa frente: vamos tomar consciência do passado, não como um processo de culpa, mas como re-descoberta de nós mesmos. As mesmas crises de hoje já aconteceram antes em outros contextos, com outras velocidades, por outras pessoas. Os problemas e soluções encarados pela humanidade estão logo ali atrás no nosso passado, bem como estão aqui no presente (explicitados em realidade, ou latentes na nossa potência existencial como humanos), como vão estar também no futuro daqueles que de nós se desdobrarem.

Acho que a nosso papel biológico-evolutivo e/ou ontológico-existencial não está em assumirmos a responsabilidade de transformar o mundo atual em uma direção ou outra, mas tomarmos consciência da nossa consciência, nos assumirmos como vivos e naturalmente (ou autopoiéticamente, como diria o Maturana) agirmos em consonância com nossa estrutura interna de pensamento (sempre com o ouvido atento a nossa ressonância social).

OBS 1: Peguei um atalho sonoro-musical aqui, porque ainda não sei explicar o que eu entendo quando ouço sinfonias polifônicas... Mas isso deve ser o bê-a-bá de teoria musical... rsrs

O José Miguel Wisnik demostrou com as notas de um piano algo próximo ao que eu estou aqui chamando de consonância e ressonância nessa palestra...

Vale uma espiada neste trecho! [ 1h19m20s] Emoticon wink
Arte & Ciência - A Mente e o Poder da Música

https://www.youtube.com/watch?v=ifB7cqyE1RQ&feature=youtu.be&t=1h19m20s

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Cromatismo é a utilização das notas da escala cromática (composta de 12 semitons) no contexto de uma composição tonal. Os cromatismos são geralmente estruturados como frases musicais compostas de notas cromáticas, com a intenção de gerar tensão melódica ou harmônica, prolongando o desenvolvimento tonal e adiando a resolução melódica.
David Cope (1997) descreve três formas de cromatismo: modulaçãoacordes emprestados de tonalidades secundárias e acordes cromáticos, tais como acordes de sexta aumentada.
O cromatismo por modulação progride melodicamente, passando por notas cromáticas antes de retornar às notas da tonalidade original ou de assumir uma nova tonalidade. Isso prolonga a tensão natural da cadência melódica. Nas formas harmônicas são utilizadas notas pertencentes a acordes de função dominante ou subdominante secundários ou auxiliares, ou a acordes da relativa menor/maior da tonalidade original (empréstimo modal). Em geral, o cromatismo está associado à utilização de alguma forma dedissonância.
Como elemento de modulação já era parte integrante da música tonal desde sua sistematização. Nos dois volumes do "Cravo Bem Temperado", Bach utilizou todas as 12 tonalidades maiores e menores, demonstrando a relação do campo tonal ao campo cromático através das modulações e transposições (Wisnik (1989), página 141-142).
À medida que os compositores da segunda metade do século XIX expandiram os conceitos da música tonal, com novas combinações de acordes, tonalidades e recursos harmônicos, a escala cromática e os cromatismos se tornaram mais freqüentes. Como elemento expressivo, esta técnica encontrou seu auge no final do período romântico, com Franz LisztGustav Mahler e Richard Wagner (Wisnik (1989), página 115). Um dos melhores exemplos do papel expressivo do cromatismo é a ópera Tristão e Isolda de Wagner.
A utilização cada vez mais acentuada do cromatismo é apontada como uma das causas principais do rompimento com a tonalidade pelos compositores do início do século XX, que levou ao desenvolvimento da música dodecafônica e da música serial. Embora o cromatismo possa ser utilizado como uma forma dramática de prolongar a tensão tonal, ele também pode ser utilizado como uma forma de romper com a estrutura hierárquica da escala diatônica e criar composições que não possuem um centro tonal nem atingem nunca um repouso, no sentido utilizado pela música tonal.
Além da música erudita, o cromatismo também é utilizado frequentemente no jazzblueschoro e alguns outros gêneros populares.

Referências[editar | editar código-fonte]

Artigo parcialmente traduzido da versão em inglês da Wikipedia. versão consultada em 8/7/2007.
  • WISNIK, José Miguel. O Som e o Sentido. Uma outra história das músicas, 1989. São Paulo. Companhia das Letras.
  • COPE, David (1997). Techniques of the Contemporary Composer, p.15. New York, New York: Schirmer Books. ISBN 0-02-864737-8.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cromatismo
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Apostila de Educação Musical - Colégio Pedro II

http://www.portaledumusicalcp2.mus.br/apostilas/pdfs/9ano_00_apostila%20completa.pdf

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A Musica das Esferas



Sons articulados, arranjos harmoniosos, combinações de cálculos matemáticos estão por trás dos sons musicais que se desenvolveram em diferentes culturas. A música da China, da Índia, do Ocidente, erudita ou popular, no passado ou no presente, move ritmos e sentimentos. A investigação de Pitágoras na organização dos sons na escala musical e a obra de Bach com sua escala temperada evidenciam a criação da linguagem da música. Ao ouvir 07_AF_03.indd 1 28/05/10 17:49 2 Bach estamos ouvindo complexos arranjos logarítmicos, mas os sons suscitam a elevação do espírito e sentimentos. Trama inventiva Ponto de contato, conexão, enlaçado em Os olhos da Arte com um outro território provocando novas zonas de contágio e reflexão. Abertura para atravessar e ultrapassar saberes: olhar transdisciplinar. A arte se põe a dialogar, a fazer contato, a contaminar temáticas, fatos e conteúdos. Nessa intersecção, arte e outros saberes se alimentam mutuamente, ora se complementando, ora se tensionando, ora acrescentando, uns aos outros, novas significações. A arte, ao abordar e abraçar, com imagens visionárias, questões tão diversas como a ecologia, a política, a ciência, a tecnologia, a geometria, a mídia, o inconsciente coletivo, a sexualidade, as relações sociais, a ética, entre tantas outras, permite que na cartografia proposta se desloque o documentário para o território das Conexões Transdisciplinares. Que sejam estas então: livres, inúmeras e arriscadas. O passeio da câmera O documentário se divide em dois blocos. No primeiro, depois de questões iniciais provocadoras, são mostrados diferentes tipos de música, orquestras e solistas, ritmos como rap, blues, jazz, a percussão nos sons dos tambores africanos, negras culturas no ritmo da mistura afro-brasileira. A matéria-prima – o som – é destrinchado em explicações visuais. Maneiras diversas de fazer música são apresentadas: Alberto Marsicano nos apresenta a música indiana e seu ritmo que faz contraponto à percussão de Caito Marcondes e Vitor da Trindade. A música espiritual de Johann Sebastian Bach abre a segunda parte do documentário. A escala temperada de Bach marca história e vira regra a ser ensinada nas futuras gerações. Esse músico é visto como grande pesquisador, assim como Pitágoras que, tempos antes, já havia criado a escala musical visualizada como uma espiral, enquanto a escala temperada cria uma geometria musical em 07_AF_03.indd 2 28/05/10 17:49 material educativo para o professor-propositor 3 MÚSICA DAS ESFERAS forma de círculo. A explicação a partir dos logaritmos de John Napier contribui para compreender a música de Bach. Dedilhar Bach é como dedilhar sobre logaritmos. Inúmeras são as possibilidades de construção de conceitos a partir deste documentário. Além do território das Conexões Transdisciplinares, o som como matéria da linguagem musical nos leva para o território da Materialidade focalizando também as ferramentas e os procedimentos específicos dessa linguagem, retomada ainda nos territórios de Forma-Conteúdo, Saberes Estéticos e Culturais e Linguagens Artísticas. Os olhos da Arte A música é uma harmonia agradável pela honra de Deus e os deleites permissíveis da alma. (Johann Sebastian Bach) Sentimentos sagrados, profanos, reações emotivas, equações matemáticas, pensamento lógico aliado ao fazer estético, belezas construídas nas investigações de matemáticos e músicos, materializados no som que se comprime e se rarefaz no ritmo da imaginação humana. Pautado pelos contextos culturais, o som se faz linguagem. É na materialidade dos instrumentos musicais, da voz humana ou mesmo no batucar dos dedos que a linguagem da música vai encontrando sonoridades, modos de execução e de registro. No sitar, tocado por Alberto Marsicano, o som ganha uma sonoridade especial. Esse instrumento, criado no século XIII, é símbolo da música da Índia e nos provoca pensar: como foram inventados os instrumentos? O que nos dizem com suas sonoridades? Para Vitor da Trindade, o tambor é um convite para outras percepções. Cada instrumento tem sua própria característica, seu próprio timbre que o distingue dos demais, como uma voz se distingue de outras. Para Schafer (1991, p. 75), o timbre é “a cor do som – estrutura os harmônicos. Se um trompete, uma clarineta e um violino tocarem a mesma nota, é o timbre que diferencia o som de cada um”. E a busca desses timbres fez 07_AF_03.indd 3 28/05/10 17:49 4 Ravi Varma - Saraswati pintura Phintias - Lição de música, c.550-500 aC. pintura em vaso, 47 cm Staatliche Antikensammlungen, Munique/Alemanha 07_AF_03.indd 4 28/05/10 17:50 material educativo para o professor-propositor 5 MÚSICA DAS ESFERAS nascer os instrumentos, que se modificam pela inventividade humana e pelas transformações tecnológicas. Johann Sebastian Bach reinventou o cravo, instigado pela física de seu tempo. Foi uma transformação tecnológica, pois antes, era comum usar o cravo afinado no temperamento (equilíbrio) desigual: as distâncias sonoras das notas não eram iguais. Com Bach as notas da escala musical receberam um “temperamento” diferenciado: O sistema de “temperamento igual” ou “afinação temperada” que já vinha sendo postulado pelos teóricos da música desde o século XVI, foi popularizado por Bach em sua obra O cravo bem temperado (1722- 1744), na qual ele experimenta as tonalidades maiores e menores em afinação temperada em 24 peças denominadas Prelúdios e Fugas. Foi uma obra composta para estudantes de instrumentos de teclado de temperamento igual, e que se tornou peça de estudos básica para alunos de nível intermediário de instrumentos mais modernos, como o piano e o vibrafone. (São Paulo, 2009, v.3, p. 18-19) Avanços na tecnologia da construção de instrumentos musicais e a busca inquieta dos músicos geram novos instrumentos ou recursos outros. Há muitas possibilidades de classificar os instrumentos. A mais tradicional é dividi-los em instrumentos de cordas, de sopro e de percussão. Podemos classificar também pelo modo de se tocar o instrumento: friccionando (cuíca, violoncello...), percutindo (piano, carrilhão, pandeiro...), pinçando (violão, cravo...). Podemos distinguir os acústicos (piano, atabaque, xilofone, harpa etc.); os elétricos (órgãos elétricos, violinos elétricos etc.) e os eletroeletrônicos (sintetizadores e samplers, equipamentos que guardam sons em uma memória digital para posterior reprodução). No monocórdio, um instrumento de uma nota só, Pitágoras criou uma escala musical, dividindo a corda do monocórdio mais ou menos assim: primeiro dó  corda inteira, segundo dó  ½ da corda. Quando se dividia a corda ao meio encontravase um som igual, porém com um tom acima, e quando tocados simultaneamente os dois sons entravam em harmonia, isto é, combinavam. Assim, percebeu intervalos entre as notas como relação de frequências e chamou de oitava a nota que dá um novo ciclo de notas em sequência como em uma espiral, bem explicada no documentário. As notas foram separadas em sete 07_AF_03.indd 5 28/05/10 17:50 6 sons – dó, ré, mi, fá, sol, lá, si – em uma relação aritmética entre tamanho da corda e sons produzidos. Pitágoras acreditava que cada um dos planetas e estrelas fazia música quando se movia nos céu – a música das esferas. Uma ordem perfeita reinava no universo e elas deviam soar do mesmo modo que a vibração da corda produzia harmônicos perfeitos. Como disse o velho mestre hindu, entretanto, a música é como água a correr por infinitos fluxos, permitindo infinitas divisões. Na China e no Japão a base musical tem cinco notas, mesma base do blues norte-americano, mas no mundo árabe são 136 possibilidades de dividir os sons. Na concepção dos sons tocados em tambores ritmados nas festas profanas e religiosas, encontramos complexas combinações de batidas que cadenciam em consonância com a natureza e nos convidam a outros estados da alma. Bach mudou a forma de divisão da escala musical em 12 partes, para compor sons agradáveis ao ouvido e à alma com sua escala temperada, pois a afinação pitagórica parecia inadequada para os instrumentos que iam sendo criados, com mais alcance, com mais sons agudos e graves. Em suas pesquisas é provável que Bach tenha encontrado a teoria dos logaritmos de Napier, que tinha proposto em 1614 uma forma de cálculo que agradou muito as contas do comércio, da navegação e da astronomia. Sua proposição de potenciação usada para multiplicar um número base tantas vezes quantas for o expoente foi além dos cálculos cotidianos. Essa maneira de fazer matemática seria imortalizada na linguagem da música, na beleza das possibilidades descritas em cálculos temperados na escala musical de Bach. A afinação temperada consistia em dividir a distância entre os dois dós em 12 intervalos sonoros iguais e não em frações simples. Nessa divisão, passa-se de uma nota para a nota aguda seguinte multiplicando a frequência da primeira por 2 1/12. Como afirma Luiz Barco no documentário, “dedilhar Bach é dedilhar sobre logaritmos!”. E nossos ouvidos podem apreciar a música de muitos e diversos modos. Esse é o convite! 07_AF_03.indd 6 28/05/10 17:50 material educativo para o professor-propositor 7 MÚSICA DAS ESFERAS O passeio dos olhos do professor Convidamos você para a viagem no universo da matemática e da música. Mas para uma boa viagem acontecer é importante pensar sobre os melhores caminhos a trilhar. Anotar suas impressões no momento em que assiste ao documentário é fundamental. Você pode pensar em uma pauta do olhar para apoiar/provocar/ levantar questões. Algumas possibilidades são aqui apresentadas: Quais instrumentos musicais presentes no documentário você conhece? Quais tipos de música são os seus preferidos? O que provoca estranhamento em você? E o que causaria em seus alunos? O que é exigido de você para pensar o som como uma relação matemática? Como o contexto cultural interfere na produção e audição da linguagem musical? Em quais aspectos as duas disciplinas – Arte e Matemática – parecem dialogar neste documentário? Você sente necessidade de pesquisar sobre algum assunto para melhor compreender ou aprofundar conteúdos que o documentário suscita? Para você, quais focos de trabalho podem ser desencadeados partindo dos assuntos abordados no documentário? Suas anotações, durante ou após a exibição, podem revelar modos singulares de analisar o documentário que marquem o início de seu diário de bordo como um instrumento para o seu pensar pedagógico para melhor utilização deste documentário, tanto na formação de educadores como com alunos a partir do 9º ano do Ensino Fundamental e Ensino Médio. 07_AF_03.indd 7 28/05/10 17:50 8 Percursos com desafios estéticos O passeio dos olhos dos alunos Algumas possibilidades para provocar a entrada no documentário: Como uma forma de instigar a percepção dos alunos proponha que eles se lembrem das produções musicais que conhecem ou tragam para a sala de aula seus CD para compartilhar com a turma suas músicas preferidas, artistas e estilos. Uma primeira cartografia pode ser feita a partir desse levantamento, que pode abordar também os instrumentos musicais presentes, os gêneros e ritmos. Eles imaginam que há matemática na música? A partir dessa discussão, apresente o documentário, todo ou em partes. Na primeira parte do documentário Música das esferas, há uma série de imagens e sonoridades que mostram musicas de vários tempos e estilos. Você pode iniciar a projeção justamente por esse trecho. O que percebem? Volte a projetar o mesmo trecho para melhor percepção: O que reconhecem? Quais tipos de instrumentos sonoros aparecem? De que época são? O importante é educar o ouvido, aguçar a percepção para o universo da música de maneira prazerosa e significativa, levantando questões para a exibição do documentário completo. Ou você daria continuidade a partir de outro trecho determinado? Seus alunos têm instrumentos musicais em casa? Sabem tocá-los? Se houver possibilidade, peça para que tragam, se apresentem e sejam entrevistados pelos demais alunos. Você também pode trazer instrumentos de percussão, de cordas ou sopro. Ou diferenciar pelo modo como são usados, por exemplo, cordas batidas (piano), cordas beliscadas (violão), percussão com as mãos (pandeiro), com baquetas (bateria). Ou ainda trazer imagens, tanto de instrumentos tradicionais como também explorações sonoras feitos por músicos como Hermeto Pascoal, grupo Uakti ou Walter Smetak. Para seus alunos, os músicos apenas aprendem a tocar os 07_AF_03.indd 8 28/05/10 17:50 material educativo para o professor-propositor 9 MÚSICA DAS ESFERAS instrumentos ou são também pesquisadores? O que sabem da escala musical? Neste momento da conversa você pode exibir o documentário com os cálculos e divisões de escalas musicais criadas por Pitágoras e Bach. Ampliando o olhar Vamos construir um monocórdio? Para fazê-lo vamos precisar de uma caixa de madeira, sobre a qual é esticado um fio, que será tangido para provocar tensão quando for tocado o instrumento. Na confecção podemos usar uma caixa de madeira de 75 cm × 15 cm × 10 cm, feita com tábuas de madeira maciça com 1,5 cm de espessura. Nas extremidades da caixa no lado interno use blocos de madeira para reforçar e ter apoio para a ficção dos eixos que vão prender o fio, a corda sonora: uma corda de violão ou guitarra vendida em lojas especializadas ou fio de aço. Os eixos para fixação da corda podem ser feitos com pequenas barras ou parafusos de aço para que a corda fique bem esticada para criar uma tensão. Para fazer as divisões das notas e fracionar os sons podemos usar uma peça de acrílico ou metal que seja maior que a altura dos eixos para criar tensão na corda e produzir sons (a peça é colocada entre a base de madeira e o fio). Lembramos que Pitágoras criou uma escala musical dividindo a corda do monocórdio mais ou menos assim: primeiro dó  corda inteira, segundo dó  ½ da corda. Usando outras frações (3/4, 3/5 etc.) foram criadas as notas que chamamos ré, mi, fá etc. Bach criou a afinação temperada que consistia em dividir a distância entre os dois dós em 12 intervalos sonoros iguais e não em frações simples. Nessa divisão, passa-se de uma nota para a nota aguda seguinte multiplicando a frequência da primeira por 2 1/12; desse modo, temos: dó(1), dó# - lê-se o símbolo como sustenido (21/12), ré ( 22/12), ré# (23/12), mi (24/12), fá (25/12), fá# (26/12), sol (27/12), sol# (28/12), lá (29/12), lá# (210/12), si (211/12), dó em escala acima (2). O dó é considerado com frequência 1 (frequência é o número de oscilações por segundo). Assim sendo, o sustenido teria a frequência da 07_AF_03.indd 9 28/05/10 17:50 elementos da linguagem musical matemática, logarítmo arte, ciência e tecnologia sociologia da arte música qual FOCO? qual CONTEÚDO? o que PESQUISAR? Zarpando Saberes Estéticos e Culturais história da arte Conexões Transdisciplinares arte e ciências humanas procedimentos Materialidade Forma - Conteúdo procedimentos tradicionais, procedimentos técnicos inventivos Linguagens Artísticas MÚSICA DAS ESFERAS cultura oriental, cultura ocidental, história, religião ferramentas instrumentos musicais, computador natureza da matéria som, matérias não convencionais música oriental, música ocidental, música religiosa, percussão som, escala musical, escala pitagórica, escala temperada, ritmo, parâmetros do som, timbre, altura, duração e intensidade arte afro-brasileira, arte oriental códigos de representação, linguagem, sistema simbólico, signos da cultura 12 nota anterior multiplicada por 1/12, o ré teria a frequência do dó multiplicada 2 2/12 etc. De um som dó para o seguinte, mais agudo, dizemos que há uma oitava de diferença (porque de um dó ao seguinte há oito notas brancas no piano) essas duas notas têm mesmo som, reconhecemos isso, mas uma é mais grave que a outra; isso se deve ao número de vibrações da corda que produz a nota. Isso leva a uma afinação dos instrumentos ligeiramente diferentes da afinação pitagórica. Talvez essas relações sejam complicadas, mas três ideias são interessantes: uma afinação por meio de frações, uma afinação logarítmica levando a pesquisar sobre logaritmo, e uma exploração sonora. Uma espécie de curadoria musical pode ser feita com a seleção de trechos de músicas para um jogo sonoro. Primeiro podemos colocar as músicas, gravadas em um CD, para que todos possam ouvir. Proponha o desafio: que gêneros musicais eles distinguem? Samba, chorinho, bossa nova, rock, música erudita de várias épocas, rap, forró, cantigas folclóricas etc. podem fazer parte dessa curadoria sonora. Você pode também variar esse jogo perguntando sobre quais os instrumentos que eles percebem. Ao ouvir, por exemplo, um trecho de música como o forró, percebemos um destaque para alguns instrumentos como o triângulo; no rock pode haver solos de bateria ou guitarra, entre outras possibilidades. Esse jogo pode ser ampliado voltando à exibição do documentário, reconhecendo os instrumentos que ali são apresentados e pesquisando sobre ritmos de musicas e confecção de instrumentos a partir de vários materiais, motivando os alunos a produzirem música. Propor parcerias com outros educadores é um ótimo jeito de fazer crescer um projeto de ação educativa entre arte e ciências. Busque parcerias que estejam atentas às interlocu- ções entre saberes, que valorizem a integração sem perder a complexidade do conhecimento de cada área. Estudos e experiências sobre o som e como se propaga pelo ar são importantes. As vibrações produzem oscilações de pressão 07_AF_03.indd 12 28/05/10 17:50 material educativo para o professor-propositor 13 MÚSICA DAS ESFERAS no ar em volta que se propagam afastando-se sempre do ponto de origem, tal como acontece em um lago quando jogamos uma pedra. Nosso ouvido capta as ondas sonoras que vibram ao chegarem ao tímpano, produzindo impulsos nervosos e interpretações sobre o tipo de sons. Estudar esses aspectos abre espaço para projetos que envolvam toda a escola nas diferentes áreas dos saberes. Uma forma de fazer experiências com sons é criar instrumentos de sopro com garrafas com água, para perceber como os sons se relacionam em ondas que se propagam no ar com influência de líquidos. Para experimentar fazer música com materiais que estão em nosso cotidiano, peça aos alunos para trazer cinco garrafas de vidro do mesmo tamanho. Encha a primeira garrafa com água quase até a boca, a segunda com três quartos de água, a terceira pela metade, a quarta com um quarto de água, e deixe a quinta vazia. Para enxergar melhor os níveis de água, você pode colorir a água com algumas gotas de tinta ou anilina. Proponha que os alunos experimentem soprar por cima de cada garrafa. Sons diferentes podem surgir, com mais água o som é mais grave e a garrafa sem água produz um som mais agudo. Faça várias experiências com os alunos e pesquise sobre aparelhos que medem o som, hoje há vários programas de computador que apresentam esses resultados. Uma dica é a pesquisa feita em escolas com alunos do Ensino Médio, disponível em: . Experimentos sonoros com um xilofone podem ser feitos também com garrafas de vidro, utilizando dessa vez sete garrafas: uma para cada nota musical. Níveis de água diferentes em cada garrafa vão produzir sons distintos. Depois pendure em um cabo de vassoura com barbantes. Com um bastão de madeiras as garrafas viram notas musicais. O som de cada nota vai depender do tipo (tamanho) da garrafa e da quantidade de água. O que os alunos inventam? 07_AF_03.indd 13 28/05/10 17:50 14 Conhecendo pela pesquisa Quais materiais podem se transformar em instrumentos? O povo de Trinidad, ilha do Caribe, transformou lixo da época da Segunda Guerra Mundial: tambores de aço usados para óleo de navios deixados na ilha pelos soldados norte-americanos. O povo percebeu que esse material produzia um som diferente. Assim criaram os Pans, que marcam uma forma de música que faz parte do patrimônio cultural do povo de Trinidad. Uma pesquisa pode ser desenvolvida sobre a música nas diversas culturas e seus instrumentos feitos de materiais do cotidiano ou instrumentos tradicionais. Essas pesquisas podem levá-los a descobrir músicos que exploram e inventam instrumentos, como Hermeto Pascoal, grupo Uakti ou Walter Smetak, ou que tiram som do próprio corpo, como o grupo Barbatuques. O que os alunos conhecem da notação musical? São muitos os símbolos das partituras convencionais que podem ser apresentados aos alunos, se você, professor, tem formação na área ou há algum aluno que tenha. Músicos contemporâneos também têm criado partituras inusitadas que se utilizam de recursos visuais, palavras etc. Vale pesquisar a obra Patria de Murray Schafer, disponível em: e a esfera Acronon de Koellreutter que permite infinitas possibilidades de leituras, disponível em: , entre outros. O que os alunos gostam de ouvir? O que sabem sobre essas linguagens musicais? Sabem que, por exemplo, a palavra rap tem origem nas palavras em inglês: rhythm and poetry – ritmo e poesia, que por suas iniciais formam a palavra rap? Sua principal característica é o discurso rítmico com rimas, nasceu na Jamaica na década de 1960 e é um dos elementos da música e cultura hip hop entre outras particularidades desse estilo que os alunos podem descobrir. Assim como o rap, o rock norte-americano, a electrohouse (eletrônica/techno/dance), o forró universitário ou o rock brasileiro tem sua história e 07_AF_03.indd 14 28/05/10 17:50 material educativo para o professor-propositor 15 MÚSICA DAS ESFERAS estão ligados a contextos culturais que influenciam a vida e comportamento dos jovens. Uma pesquisa a partir da realidade dos estudantes pode ser instigante. Na primeira parte do documentário Música das esferas, há uma explicação de como o som se propaga pelo ar no processo de compressão e rarefação. Em uma parceria com a disciplina de física, o que pode ser pesquisado sobre o som e suas propriedades, timbre, altura, intensidade, duração entre outras possibilidades? Vamos calcular as notas de Bach pela teoria de Napier? Por exemplo: A nota mi tem valor na escala de Bach de 24/12.. Desenvolva essa operação usando os logaritmos de Napier e encontre o valor. Você pode usar uma tabela de logaritmos de base 2 ou uma calculadora cientifica. Na calculadora para encontrar o valor de 24/12, digite a sequência: 2 yx (4÷12)= x. Quanto fizer isso irá obter o valor x= 1.25999105, dessa forma você descobrirá o valor da altura do som da nota mi. Proponha que os alunos pesquisem o valor das outras notas. Busque parcerias com o professor de Matemática. Você pode conhecer mais sobre a tabela logarítmica no site: . Com um programa de computadores também se podem fazer cálculos para saber o valor da altura das outras notas da escala temperada de Bach. Imagine que no tempo de Napier esses cálculos eram feitos na ponta do lápis, mas agora há muitos recursos. A planilha Excel (Office) apresenta várias possibilidades: há uma opção no ícone fórmulas, opção matemática, trigonometria. Nesse momento escolha a sigla LN (Logaritmo Neperiano ou natural de um número). Essa ação abre uma janela de digitação onde você pode escrever a sentença matemática: 2^(4/12). Assim você obterá o mesmo valor da calculadora da nota mi. Brinque com esse recurso e descubra o valor das outras notas da escala de Bach; as referências são: dó(1), dó#(21/12), ré(22/12), ré#(23/12), mi(24/12), fá(25/12), fá#(26/12), sol(27/12), sol#(28/12), lá(29/12), lá#(210/12), si(211/12), dó em escala acima (2). O símbolo # é lido como sustenido. 07_AF_03.indd 15 28/05/10 17:50 16 Pesquise se próximo à escola ou entre a comunidade (pais ou familiares dos alunos) há músicos para convidá-lo para uma conversa com a turma. Essa proposta, além de ampliar saberes, pode valorizar a cultura local e aproximar comunidade e escola. Desvelando a poética pessoal Um espaço para que os alunos se sintam motivados a criar e a descobrir sua poética pessoal a partir das conexões impulsionadas pelo documentário é um desafio também para nós, professores. Uma das possibilidades é construir o monocórdio de Pitágoras já explicado em Ampliando o Olhar, que permite a análise de sons emitidos para o estudo da materialidade do som e construção de conceitos na música e na ciência. Que sonoridades os alunos podem inventar? Outra proposição é procurar saber se entre os alunos há grupos de música, como bandas de garagem, grupos de hip hop, grupos de coral, entre outros. A partir dos interesses dos jovens, você, professor, pode propor a organização de apresentações ou mesmo um festival de música. Poéticas pessoais, modos singulares de criação podem gerar boas produções, envolvendo arte e matemática. Fotos que registrem percursos, CD com músicas gravadas, depoimentos dos alunos e anotações podem compor um portfólio que conte a história do projeto. Amarrações de sentidos: portfólio O universo da música oferece muitas descobertas e para dar sentido ao que se estudou é importante que os alunos se apropriem dos conceitos construídos. Uma ideia é construir uma enciclopédia virtual de música, ou mesmo criar um blog para deixar disponíveis as informações colhidas durante o projeto e também espaço aberto para que outros jovens de diferentes partes do mundo possam também se manifestar sobre o universo 07_AF_03.indd 16 28/05/10 17:50 material educativo para o professor-propositor 17 MÚSICA DAS ESFERAS da música, além de novos links e fóruns de discussão sobre a música, direito autorais e pirataria da produção artística musical. Como essas questões afetam a vida dos jovens hoje? Quais as diferentes opiniões a respeito do assunto? Um portfólio pode ser também criado por meio eletrônico, gravado em CD com músicas que fizeram parte do projeto, pequenos filmes que mostram a interação dos alunos nas experiências e apresentações musicais, além de depoimentos e relatos de alunos, professores e membros da comunidade envolvidos. Valorizando a processualidade Na análise do portfólio e na leitura das ações realizadas, o que conseguimos aprofundar com os nossos alunos? Algo mudou em relação ao seu gosto musical? E sobre a história da música? E sobre a música e suas relações com as ciências? Os alunos se envolveram no projeto realizado? As discussões sobre mú- sica e mídias de comunicação de massa tornam os alunos mais críticos em relação ao consumo de produções musicais? A fala dos alunos sobre o que mais gostaram e o que menos gostaram sobre o que foi mais importante, sobre as dificuldades e sobre o que faltou no desenrolar do trabalho é um valioso instrumento de avaliação. É importante, também, perceber e valorizar o percurso trilhado composto pelas diversas ações concretizadas que se transformam em dados para avaliar e perceber que outros caminhos poderiam ser traçados e o que poderia ser apresentado para outras turmas, o que nos faz refletir, juntamente com o diário de bordo, em nosso próprio aprendizado. Personalidades abordadas Alberto Marsicano (São Paulo/SP, 1962) – Músico, filósofo e pesquisador dos ritmos hindus. É autor de vários livros e traduções de escritos musicais de peças clássicas indianas. Introduziu o instrumento indiano sitar no Brasil. Faz shows por todo o Brasil e no exterior. Caito Marcondes (Rio de Janeiro/RJ, 1954) – Músico percussionista. Cria e explora muitos instrumentos com materiais inusitados. Faz uma música de 07_AF_03.indd 17 28/05/10 17:50 18 atmosfera mágica, fruto de profunda pesquisa rítmica de várias culturas. É considerando pela critica brasileira um dos maiores músicos percussionista do Brasil. Johann Sebastian Bach (Alemanha, 1685-1750) – Organista e compositor alemão luterano do período barroco. Considerado por muitos o maior compositor da história da música. Muitas de suas obras refletem uma grande profundidade intelectual, uma expressão emocional profunda e, sobretudo, um grande domínio técnico. Pesquisador, propôs a escala temperada com notações matemáticas descritas em logaritmos. John Napier (Escócia, 1550-1617) – Matemático, astrólogo e teólogo. Foi responsável por enorme avanço para a matemática pela formulação do conceito de logaritmo como um artifício capaz de facilitar os cálculos. Seus cálculos modificaram a maneira de fazer contas na matemática financeira, além dos avanços nas navegações e cálculos em astronomia. Pitágoras de Samos (Grécia, c.570 a.C. - c.496 a.C.) – Filósofo, matemático, músico. Sustentava que o cosmos é regido por relações matemáticas. Na música deixou experimentos que influenciaram a música ocidental, como a Escala Pitagórica; na geometria, o Teorema de Pitágoras; na astronomia, estudos sobre a ordem no universo a partir da observação das estrelas, rotação da Terra e ciclo das estações do ano. Foi fundador da Escola Pitagórica, que tem por essência o princípio de que todas as coisas são compostas por números, configuradas em relações matemáticas combinadas que demonstram harmonias, essências, belezas. Vitor da Trindade (Rio de Janeiro/RJ, 1957) – Compositor, percussionista e violonista popular. Ensina ritmos e danças tradicionais afro-brasileiras, tendo vivido na Alemanha e ministrado cursos no exterior. Compôs para peças de teatro e para o balé “As Yabás”. Vivaldi (Itália, 1678 - Áustria, 1741) – Compositor de música barroca. Nascido Antonio Lucio Vivaldi, é autor de mais de quinhentos concertos (210 dos quais para violino ou violoncelo solo), óperas, sinfonias, 73 sonatas, música de câmara e música sacra. As quatro estações - Opus 8 é sua obra mais conhecida. Ele rompeu com a estrutura da época, fugiu das formas acadêmicas e adicionando contrastes harmônicos e melódicos. Glossário Logaritmo – Como instrumento de cálculo, surgiram para realizar simplifica- ções, uma vez que transformam multiplicações e divisões nas operações mais simples de soma e subtração. É um estudo da matemática que depende do conhecimento sobre potenciação e suas propriedades. Para encontrarmos o valor numérico de um logaritmo é preciso desenvolver uma potência ou toda potência pode ser transformada em um logaritmo. Fonte: Disponível 07_AF_03.indd 18 28/05/10 17:50 material educativo para o professor-propositor 19 MÚSICA DAS ESFERAS em: . Acesso em: ago. 2009. Música das esferas – Pitágoras descobriu a relação matemática entre som e harmonia, mostrando que os sons que chamamos de harmônicos, prazerosos, obedecem a uma relação matemática simples. Ele as lançou para as esferas celestes, onde, segundo a lenda, apenas o mestre podia ouvir a música das esferas. Fonte: JACQUEMARD, Simonne. Pitágoras e a harmonia das esferas. Rio de Janeiro: Difel, 2007. Parâmetros do som – Elementos constitutivos de qualquer som. Embora haja músicos que trabalhem com mais outros, são considerados quatro os parâmetros: Altura – indica agudos e graves. Popularmente “grosso” e “fino”. Alguns instrumentos musicais são reconhecidamente instrumentos que tocam sons graves: contrabaixo, tuba, tímpano; outros são reconhecidamente agudos: triângulo, flauta piccolo, ocarina. Duração – tempo que o som existe no espaço, longos e curtos. Pela sua alternância se constrói ritmos. Intensidade – determina som forte e fraco. Timbre – identidade do som, por exemplo sabemos se uma colher que caiu no chão  é de metal ou plástico pelo seu timbre. Fonte: SÃO PAULO (Estado) Secretaria de Educação. Caderno do professor: arte, ensino fundamental - 6ª série. São Paulo: SEE, 2009. v. 3. Rarefação e compressão do som – O som é uma forma de energia observada pelo aumento ou redução periódica da densidade do ar, ou seja, compressão e rarefação. O movimento de vaivém do diafragma produz a onda sonora, que consiste numa compressão seguida de uma rarefação. A distância entre duas compressões sucessivas ou duas rarefações sucessivas é o comprimento de onda Sonora. O som pode apresentar variações. Essas variações são dadas pela mudança de frequência, timbre ou intensidade. Um som grave é produzido por uma frequência baixa de ciclos, algo em torno de 20 ou 30 Hertz. Os sons agudos são gerados por frequências muito altas até o limite da faixa audível de 20 kHz. Fonte: MATRAS, Jean-Jacques. O som. São Paulo: Martins Fontes, 1991. Bibliografia ABDOUNUR, Oscar João. Matemática e música: o pensamento analógico na construção de significados. São Paulo: Escrituras, 2006. CANDÉ, Roland de. História universal da música. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. v.1. FELIZ, Júlio. Instrumentos sonoros alternativos: manual de construção e sugestões de utilização. Campo Grande: Oeste, 2002. JACQUEMARD, Simonne. Pitágoras e a harmonia das esferas. Rio de Janeiro: Difel, 2007. 07_AF_03.indd 19 28/05/10 17:50 20 MATRAS, Jean-Jacques. O som. São Paulo: Martins Fontes, 1991. OXLADE, Chris. Ciência e mágica com som. São Paulo: Nobel, 1995. p. 20-21. RIBEIRO, Artur Andrés. Uakti: um estudo sobre a construção de novos instrumentos musicais acústicos. Belo Horizonte: C/ Arte, 2004. SÃO PAULO (Estado) Secretaria de Educação. Caderno do professor: arte, ensino fundamental - 6ª série. São Paulo: SEE, 2009. v. 3. SCHAFER, Murray. O ouvido pensante. São Paulo: Ed. da Unesp, 1991. WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. São Paulo: Círculo do Livro: Companhia das Letras, 1989. Webgrafia os sites a seguir foram acessados em 29 jun. 2009. ALBERTO Marsicano. Disponível em: . ARTE & matemática: 13 programas da série (pesquisas, conceitos e entrevistas). Disponível em: . BARBATUQUES. Disponível em: . CONSTRUÇÃO de instrumentos e a física na música. Disponível em: . HISTÓRIA da música. Disponível em: . ______. Disponível em: . ______. Disponível em: . A MATEMÁTICA da Música (ou uma aplicação curiosa dos logaritmos). Disponível em: . MONOCÓRDIO. Disponível em: . TABELA de logaritmos. Disponível em: .





- - -Percorrendo o enigma dos cinco sons: O uso da escala pentatônica na música ocidental

http://www.periodicos.udesc.br/index.php/linhas/article/viewFile/1302/1113

.1 Paulo Dernetre Gekas

2 Resumo: Pesquisa bibliográfica sobre o uso da escala pentatônica no universo musical ocidental do século XX, mais precisamente no blues norte americano e nas obras de dois compositores europeus pós-românticos. Palavras-chave: escala, pentatônica, modal, tonal Abstract: “Bibliographycal study on the use of the pentatonic scale in the musical universe ofthe eastern world during the 20th century, specially on the north american blues and the work of two postromantic european song writers.” Key-Words: scale, pentatonic, modal, tonal Quando tratamos do assunto “pentatônica”3 muitas questões surgem, instigando nossa curiosidade a saber mais a respeito de sua origem, suas aplicações e, principalmente, suas transformações no decorrer dos milênios de produção musical. Nos livros de história da música encontramos as definições tradicionais, que remetem ao mundo oriental e ao continente africano, assim como á maioria das mais remotas civilizações. Surgem então uma série de questões: - Porque tantas civilizações optaram por esta escala? 1 Trabalho de conclusão de curso apresentado ao centro de Artes da universidade do Estado de Santa Catarina — Udesc, como requisito completar para obtenção da graduação em Licenciatura plena, no curso de Educação Artística Habilitação em Música. 2 Graduado pela Universidade do Estado de Santa Catarina— 1999. Mestrando em Educação e Cultura do centro de Ciências da Educação da Udesc — turma 2001. 3 Tradicionalmente, Pentatônica’, é um termo aplicado a qualquer música, modo ou sistema baseado em cinco sons diferentes dentro de uma oitava. Muitas melodias tradicionais européias são sem semitons, os intervalos da escala pentatônica consistem de diferentes combinações de intervalos de segundas maiores e terças menores (exemplo. A-C-D-E-G. C-D-E-G-A etc). Um estudo mundial dos sistemas pentatônicos pode mostrar que a oitava pode ser dividida da várias maneiras diferentes (incluindo pentatônicas com semitons). (The New Grove Dictionary of Music e Musicians, 1980:353) - Que tipo de música se produzia (ou se produz) com esta escala (música modal ou tonal ?) ? E ainda, a que considero a principal nesta pesquisa: - De que maneira a música atual do Ocidente incorporou e adaptou esta escala? Destas e de outras questões, surgiu o meu interesse em estudar com maior profundidade este assunto, procurando estabelecer algumas conclusões a respeito deste tema. “ O Enigma dos cinco sons: o uso da Escala Pentatônica na Música Ocidental”, se propõe a pesquisar a pentatônica como influencia no blues e no jazz, e ainda, o fato desta escala estar inserida nas obras de compositores contemporâneos eruditos, como Debussy e Béla Bartók. A escola pentatônica desde sua remota origem, vem sofrendo alterações, sugerindo e transformando respectivamente seu uso e sua sonoridade nas mais diversas civilizações que fizeram e fazem uso desta escala como meio de produção musical. Como pode-se afirmar, já é fato consumado que o século XX, para o mundo ocidental, foi um século de retorno de muitos elementos musicais que, durante séculos foram evitados4 : músicas modais, percussões, ruídos, etc. O século XX opera uma grande mudança, no quadro sonoro ocidental até então. Neste século (XX) muitos elementos que estavam escondidos, e ora, por influência externa, como veremos a seguir – passam a serem concebidos como integrantes efetivos da linguagem musical. Além deste retorno, também observa-se um quadro de influências musicais, devido a contato mais intenso do mundo ocidental com outras culturas, em especial: africanas e orientais. O objeto do meu estudo também se encaixa neste cenário, e é destas influências que iremos tratar. O tópico deste trabalho localiza a escala pentatônica na música no século XX. Principalmente na parte ocidental do globo, especificamente no blues norte americano (por influência no Jazz e em todos os estilos subseqüentes a este; como por exemplo o rock) e em dois compositores europeus. No entanto, não trata-se propriamente da análise musical de obras, mas sim da análise dos caminhos que conduziram esta escala de cinco sons ao universo musical do mundo ocidental atual. 4 Por mundo ocidental, entendo e quero me referir a música ocidental a qual se tem registro histórico a partir do canto gregoriano ( já que são poucos e indiretos os registros da música feita na Grécia antiga). O canto gregoriano é o ponto de partida para uma tradição que vai dar na música barroca e clássico romântica do século XVII, XVIII e XIX. Está é uma tradição musical, que durante séculos buscou,por medidas às vezes coercitivas, evitar uma série de recursos e estilos musicais, como o ruído dos instrumentos acompanhantes, o colorido vocal das variedades de timbre e muitas manifestações musicais, chamadas durante muito tempo de ‘profanas’. (Wisnik, 1989:37) Origem histórica das escalas As escalas5 surgiram provavelmente como convenções sociais, e há muitas escalas no mundo que não mantém intervalos puros (que diferem da afinação temperada ocidental): “algumas escalas podem Ter surgido do desejo de produzir orifícios igualmente espaçados em uma flauta ou trastes6 em um instrumento de cordas. Para os ouvidos ocidentais, as escalas resultantes soam muito pouco naturais.” (Yehudi Menuhin e Davis, 1990: 28) . Segundo De Candé, estas escalas surgem: “ora espontaneamente como se estivessem inscritas no código genético de uma raça, ora, são ao contrário, escolhidos a priori pelos teóricos, que mandam construir os instrumentos segundo suas prescrições.” (1994: 102) E mais, há dois métodos simples para a formação das escalas e a avaliação dos intervalos: um pode ser qualificado de harmônico, o outro de cíclico. O primeiro se apóia na teoria segundo a qual todo som pode ser decomposto em sons parciais “harmônicos”7 , o segundo método preconizado pelos pitagóricos, considera apenas os quatro primeiros “harmônicos”, todos os outros intervalos são obtidos por superposição de quintas e redução de oitavas. (Ibidem) Sobre a origem propriamente da pentatônica, as opiniões são contraditórias, algumas afirmações indicam que, “foram os chineses os primeiros a examinar a relação entre quintas, e assim estabelecer a escala Pentatônica (de cinco tons), sendo que os documentos que comprovam esta descoberta datam de 3000 a.C. (Yehudi Menuhin e Davis, 1990:29) Porém, contrariando esta primeira afirmação, Montanari afirma que uma das civilizações mais antigas foi a dos sumérios, que ocupavam a Região sul da mesopotâmia, na Ásia central, a cerca de 6000 anos. Sabe-se que possuíam um método de leitura musical baseado em letras, e que se utilizavam de instrumentos para acompanhar vozes em oitavas. Os costumes musicais dos sumérios foram herdados pelos caldeus e assírios (outros povos que habitavam a Mesopotâmia), e mais, podemos afirmar que a principal característica musical desses povos da Mesopotâmia — em particular dos assírios — era a escala pentatônica. (Montanari, 1988:08-09). Pentatônica contextualização atual Vamos agora abordar o assunto cm outro contexto. Nossa pesquisa se direciona neste ponto para a parte ocidental do globo, numa perspectiva contemporânea, com o objetivo de localizar e identificar os usos da escala pentatônica. Entrando no universo musical do século XX (por questão de abordagem histórica o século XIX entrará no contexto), encontramos essa música “miscigenada” que reuniu as mais diversas propostas sonoras, numa verdadeira manifestação globalizante. E é nesse emaranhado que iremos encontrar a escala pentatônica, agora no mais na homofonia e sim, 5 Escala aquí entendida, como uma seqüência de notas construídas culturalmente, em ordem ascendente ou ascendente. 6 Uma tira divisória de tripa, osso, marfim, madeira ou metal que atravessa o espelho de certos instrumentos de cordas. A saliência rígida do traste a referência para o dedo prender a corda, influenciando a afinação e restaurando algo da qualidade sonora da ‘corda solta”. O alaúde, a antiga viola, o violão e citar indiano possuem trastes. (Dicionário Grove de Música, 1994: 958). 7 Sons parciais que normalmente compõem a sonoridade de uma nota musical. Tanto uma corda quanto uma coluna de ar têm a característica de vibrar não apenas como um todo, mas também como duas metades, três terços etc...(Dicionário Grove de Música. 1994:408) mergulhada em uma perspectiva harmônica, fato que irá redimensionar seu uso e sua sonoridade. O nosso campo de estudo se restringe a música Norte Americana (em especial o Blues e o Jazz), e a dois compositores europeus que fizeram uso da pentatônica em suas obras. Com esta abordagem pretendo localizar o surgimento desta escala que, neste final de milênio encontrou lugar na música ocidental. Segundo Wisnik, uma das matrizes do jazz, o blues, resulta harmonicamente de uma sobreposição singular do sistema tonal com o sistema modal8 “Combinam-se nele a escala diatônica e as cadências tonais com uma escala pentatônica (marca africana9 mixada com as bases da música européia), resultando dessa combinação uma ambivalência entre o modo maior e menor particularmente sensível naquelas blue notes inconfundíveis e penetrantes (a terça e a sétima notas da escala diatônica bemolizadas em choque com a terça e a sétima naturais; a partir do bebop10 , a quinta abaixada passou a poder soar também como blue note).”(Wisnik,1989:200). 8 Música modal, de maneira sucinta, pode ser definida como uma música que soa, repetitiva e circular, pela maneira característica de como desenvolve seu discurso em torno de uma tônica fixa. “E mais, pode-se dizer que muito freqüentemente a tônica permanece constante, enquanto a melodia gira em torno da escala e o ritmo produz variações, rebatendo com suas acentuações deslocadas os tempos e os contratempos do pulso”. Já a música tonal, se apoia sobre um movimento cadencial (progressões de acordes). “Definida uma área tonal (dada por uma nota tônica — primeira e principal de uma escala -, que se impõe sobre as demais notas da escala, polarizando-as), levanta-se a negação da dominante, abrindo a contradição que o discurso tratará de resolver em seu desenvolvimento. Mas a grande novidade que a tonalidade traz ao movimento de tensão e repoiso (que de alguma medida, está presente em toda música) é a trama cerrada que ela lhe empresta, envolvendo nele todos os sons da escala numa rede de acordes, isto , de encadeamentos harmônicos” . (Wisnik. 1989:106-107) 9 As músicas do Oriente e do continente africano são definidas como músicas modais. (Ver rodapé anterior) 10 Bebop é uma variação do estilo jazz, que teve origem durante a segunda guerra mundial. Destacam-se neste estilo os precursores: Charlie Parker e Dizzie Gillespie. (Vidossich, 1975:75) Comparando ambas escalas ∗em preto as blue notes André Francis tece algumas considerações sobre a influéncia negra, e conseqüentemente, da pentatônica, na música norte americana. Para ele foram os descendentes dos escravos, trazidos da África, que criaram o Jazz, apoiados nas suas próprias tradições e influenciados pela cultura dos senhores brancos. Um ponto de influéncia, de ambas as partes, foi a religião praticada pelos senhores brancos, e imposta aos negros. Como melhor maneira de arrebanhar as pessoas negras para a igreja, esta acabou se transformando em local de danças negras e criação de cantos novos, cantos profanos’. Um spiritual famoso, Oh wasn ‘t thai a wide river! , é construído sobre o mesmo motivo e o mesmo movimento de um canto bormu da Nigéria denominado Ah, as grandes lanças!. “Passando do sermão ao coral, o negro tropeçou nas linhas melódicas, que, então, lhe eram difíceis de exprimir. Sua tradição vocal, assentada em escalas pentatônica, o levará a transformar as melodias que o pastor lhe pedir para repetir depois dele. De certa forma, isto ensejará, nos primeiros passos do spiriiual, o nascimento do blues.” (Francis, 1987:XIV-07,). Edoardo Vidossich, também coloca a idéia de assimilação e a adaptação da cultura branca pelos negros: Sem repudiar suas tradições, o africano começa, todavia, a incorporar em sua cultura alguns elementos e estruturas da civilização européia. Familiariza-se com a harmonia e as linhas melódicas; adota outros instrumentos, utiliza o patrimônio lexical dos colonizadores e vai transformando aos poucos seu folclore. Assim, músicas do velho Mundo e o acervo do Continente negro, incorporam-se em diversas linguagens até se concretizarem na música popular afro-americana e suas múltiplas ramificações (Samba, blues, Rumba, Calendas, Jazz, Merengues, Calypso, Cumbia, etc...)... Os sincretismos nasce assim do entrelaçameto e das influências mútuas no processo de aculturação. Difícil, entretanto, seria estabelecer qual foi o coeficiente mais decisivo: se o branco, se o negro. (Vidossich, 1975:24,) A língua falada sempre foi determinante na produção musical de todas as civilizações de todas as épocas. Outro fator que pode ajudar a esclarecer um pouco mais as transformações implantadas pelos negros na cultura norte-americana são as alterações sintáticas que sofreram algumas palavras. “Os escravos moldam as línguas de acordo com as exigências do canto, seguindo sua tradição atávica (hereditária). Nesta forma surgiu o ‘Negro-English’, ‘patois’11 outrora existente nas zonas rurais do sul das colônias britânicas” (Ibidem:25). A seguir algumas palavras transformadas que ainda hoje são utilizadas no repertório popular (blues, spirituals e jazz): Sincretismo Idiomáticos Vocábulos originais Deformações no “Negro-English” Mind Min What to do Whatta do Lord Lawd, Lawdy More Mo’ Before Befo’ Because ‘Cause 11 Patois era a língua dos negros rurais da Louisiana do Sul. (Domínguez Apud Collier. 1995:194) And An’ I am going 1’gonna (Ibidem) O nascimento do Blues Durante a guerra de Secessão (Guerra civil entre o sul e o norte dos Estados Unidos, 1861-1865), os primeiro músicos a surgir foram os cantores de canções em estilo de lamentação. A guerra, e suas já conhecidas conseqüências, juntamente com a libertação dos escravos, veio estimular a inspiração dos poetas populares. Modernos trovadores, muitos negros viajavam de cidade em cidade para cantar acompanhados por uma simples guitarra. E a partir daí começa a se desenvolver a história do blues. Como já foi dito anteriormente o blues modificou a nossa escala tradicional (escala maior), ao alterar a terceira e a sétima nota, de um modo que no se pode transcrever fielmente na partitura. Ao modelar essas notas, ao fazê-las oscilar entre os tons maior e menor, os primeiros cantores negros norte americanos criaram as blue notes, e mais, criaram também os blues, que são cantos de abandono, de desespero e tristeza. Desta forma, podemos dizer que o blues surgiu como linguagem musical ‘miscigenada’ e serviu como principal fonte do Jazz de New Orleans que se espalhou pelo continente Americano e depois para o mundo. (Vidossich, 1975:30-5 1) Compositores europeus Nossa proposta neste ponto não é listar os nomes de todos os compositores12 europeus que fizeram uso da escala pentatônica, e muito menos analisar obras musicais, mas apenas verificar o surgimento desta escala na Europa como meio de produção musical. “É notório que o interesse pelo exótico, os impulsos musicais espontâneos e outras inovações, exerceram forte atração em diversos grandes nomes da música européia. Eles descobriram no folclore e nas tradições das mais antigas civilizações fontes vitais de musicalidade”. (Vidossich, 1975:67) Paul Griffiths, afirma que se uma nova libertação podia ser esperada para a música do final do século XIX, ela no viria do Ocidente, mas do Oriente. Segundo Griffiths é longa a história do orientalismo musical, mas no que diz respeito á música moderna a tendência mais uma vez tem origem no Prélude 1 ‘aprs-Midi d ‘un Faune, de Debussy. 12 O pentatonismo também foi explorado por outros notáveis compositores como: Chopin, Puccini, Ravel e Strawinsky. Na área da educação musical destacam-se Carl Orff e Kodály. O primeiro explorando a improvisação e o segundo a pesquisa folclórica (Segundo Auras, no método Kodály, melodicamente o processo inicia-se com músicas que contenham uma terça menor descendente, introduzindo-se gradualmente as notas da escala pentatônica. (Auras, 1994:10) O centenário da Revolução Francesa, em 1889, seria um marco importante na carreira de Debussy, então com 27 anos. Nesse ano ele entrou em contato com a música asiática, graças a um espetacular evento, promovido em meio ás comemorações: a Exposição Universal. Esta exposição, foi um evento lançado em Londres em 1851, realizava-se a intervalos irregulares, de um, três e seis anos (houve uma no Rio de Janeiro em 1922, e a última foi a de São Francisco, em 1939). Para a maioria dos artistas no final do século XIX e início do século XX, havia a rara oportunidade de nestes eventos conhecer colegas de noções distantes e descobrir novas fontes de inspiração. Em 1889, três anos antes de iniciar Prélude à l’ après-Midi d’un Faune, Debussy ficou vivamente impressionado com a música oriental que ouviu na Exposição de Paris. Este contato com a cultura oriental influenciou profundamente as obras futuras do compositor. “Debussy certamente utilizou escalas e ritmos orientalizantes em Pagodes para piano (1903) e certas obras posteriores”. (Griffiths, 1993:115-127) A música oriental impressionou Debussy, a instrumentação dos javaneses, indianos e chineses lhe mostrava um novo campo de sonoridades. Debussy pôde então verificar: a preciso no ritmo; a ausência da barra de compasso; as escalas por seis tons inteiros; as escalas pentatônicas; a no adoço do binômio maior/menor. (Clássica, A história dos Gênios da Música, 1988 :68-69) Vestígios da influéncia recebida, podem ser ainda observados cm muitas outras obras, como: nas Estampes, para piano, cm pagodes; La Mer; Nuages e principalmente nas peças para piano, em que ele sutilmente usou características da música exótica ouvida na Exposição. Outro compositor que achamos conveniente citar a esta altura é Béla Bartók que por outra via, a da pesquisa do folclore, redescobriu a pentatônica em suas viagens pela Hungria e países vizinhos, assim como pela Turquia e o norte da África. Como compositor, não lhe interessava apenas utilizar temas folclóricos, mas penetrar até as raízes da música folclórica e tirar proveito de suas descobertas. “O estudo dessa música camponesa” , escreveu, teve para mim importância decisiva, pois me revelou a possibilidade de uma total emancipação da hegemonia do sistema maior-menor. A maior parte desse tesouro de melodias — também a mais valiosa — deriva dos antigos modos da música de igreja, de escalas da Grécia antiga e ainda mais primitivas (notadamente a pentatônica). (Béla Bartók Apud Paul Grffiths: 55) Na abordagem dos caminhos percorridos por esses compositores para a realização de algumas de suas obras, podemos localizar o surgimento desta escala na música ocidental moderna. Dentro do universo ocidental essa escala surgiu — por influéncia externa, com uma exceção aberta para caso particular do folclore - no século XX como elemento fomentador da produção musical. Destacam-se o blues, na América do norte, e na Europa, o acontecimento se encaminha por duas vias distintas: por um lado, o fenômeno do orientalismo, influenciando uma série de compositores e, por outro, a pesquisa folclórica que sublinhou um fenômeno que já ocorria nas raízes de várias culturas. Conclusão Este trabalho tratou do surgimento (e ressurgimento) da escala pentatônica em dois contextos e por duas vias distintas: o blues na América do Norte e a música pós-romântica na Europa. Este surgimento pode ser localizado em dois pontos distintos: nos E.U.A. com o fenômeno do blues que misturou a pentatônica africana com a música tonal tradicional; e na Europa, por ditas vias, por um lado Debussy e a tendência do orientalismo, tendo como marco a Exposição Universal, e por outra via, as pesquisas de Bartók, que localizaram a pentatônica nas raízes do folclore europeu. Acredito que neste ponto ainda restam muitas lactinas cm aberto, porém, esta pequena pesquisa com certeza pode, dentro do possível, clarificar alguns pontos e dar subsidio para uma melhor compreensão deste enigmático e fascinante assunto (assim como incentivar futuras pesquisas) que envolve grande parte da música produzida no século XX. Outro ponto que cabe citar nesta conclusão, é o fato da fusão do universo modal com o tonal, verificado no blues e no jazz. Nesta perspectiva fica claro que agora a pentatônica assume uma nova faceta cm sua trajetória histórica. Inicialmente, a escala sem tenso (na música modal) que podia iniciar ou terminar as frases cm qualquer das cinco notas sem que se duvida se do efeito13 agora vem “acompanhada” por acordes que possibilitam tensões e notas de acordes. A escala agora assume urna nova proposta sonora definida pelo acorde do momento, podemos dizer que a escala perde sua hegemonia milenar uma vez que se subordina as simultaneidades sonoras evocadas pelos acordes, e passa a transitar com seu discurso sonoro entre tenso e relaxamento, definidos pelo acorde de suporte. Como última concederão, pode-se dizer que o universo pentatônico foi traçado e orientado por inúmeras conseqüências históricas, e que cabe aos pesquisadores tentar compreender este percurso tão sinuoso que continua a ser traçado todos os dias, seja por um músico em Hong Kong ou em, Nova York. No entanto, apesar de todas as classificações e interpretações que se possa dar a esta escala, dificilmente o enigma será compreendido em sua essência, e os cinco sons continuarão a instigar nossa curiosidade e imaginação. 13 Wisnik define esse sistema como: “o principio do rodízio do centro, que no caso da escala pentatônica (entendida como escala do mundo modal), é intimamente unido á própria ordem sonora, pois a circularidade está inserida na sua própria estrutura; nela, cada nota pode ser indiferente o princípio o fim ou o meio de um motivo melódico, todas podem estar num ponto qualquer do caminho (como nota de passagem), ou então soar já como nota final, que encerra e conclui o motivo.” (Wisnik, 1989:72). Referências Bibliográficas: AURAS, Harold Freibergs. Kodály Sistema e Processo de Educação Musical. Florianópolis, 1994. CLÁSSICA, A História dos Gênios da Música. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1998. COLLIER, James L. Jazz . A Autêntica Música Americana. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1995. DAVIS, Curtis V. e Yehudi Menuhin. A Música do Homem. São Paulo: Liv. Martins fontes, 1990. DE CANDE, Roland. História Universal da Música. São Paulo: Martins Fontes, 1994. DICIONARIO GROVE DE MÚSICA. Edição concisa / Editado por Stanley Sadie. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. FRANCIS, André. Jazz. São Paulo: Editora Ática, 1987. GRIFFITHS, Paul. A Música Moderna. Uma História Concisa e ilustrada de Debussy a Boulez. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993. MONTANARI, Valdir. História Da Música da Idade da Pedra a Idade do Rock.: Editora: Ática, 19 THE NEW GROVE DICTION Y OF MUSIC AND MUSICIANS. Edited by Stanley Sadie in Twenty Volumes. London: Macmillan Publishers Limited, 1980. VIDOSSICH, Edoardo. Sincretismos na Música Afro-Americana. São Paulo: Quíron, 1975. WISNIK, José Miguel. O Som e o Sentido. Urna Outra História das Músicas. São Paulo: Editora Schwarcz ltda, 1989.

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