segunda-feira, 26 de junho de 2017

Deslocamentos dos candomblés na Reforma Pereira Passos


Deslocamentos dos candomblés na Reforma Pereira Passos


Para apagar as marcas do passado colonial e alinhar-se aos ideais da belle époque, uma série de reformas urbanísticas “botaram abaixo” diversas casas de candomblé presentes no centro do Rio de Janeiro. Transferidas para zonas afastadas da cidade, essas casas tiveram que se adaptar para sobreviver.

Por Márcio Marcelo da Luz Ribeiro

No continente africano, cada região se dedicava a um único deus. [1] No Brasil, no entanto, as populações negras originárias da África acabaram transformando, por inúmeros motivos, suas crenças. Edison Carneiro explica que a junção dos cultos a vários deuses em um mesmo espaço, base do candomblé, é uma dessas adaptações realizadas no Brasil, mais especificamente, na Bahia de todos os Santos. [2] Foi em Salvador que se deu a organização do primeiro terreiro de candomblé do país, por volta de 1830, no bairro da Barroquinha, transferido depois, em definitivo, para o atual bairro do Engenho Velho, onde resiste até hoje com o nome Ìyá Omi Àxé Airá Intilé[3]
Alguns marcos do Candomblé no Rio de Janeiro
Além de Salvador, o Rio de Janeiro também guarda uma relação importante com a história do Candomblé no Brasil. O Calundu [4], por exemplo, foi uma das mais importantes referências às religiões de matriz africana a cidade, ainda no Brasil Imperial. Na década de 1870, um ex-escravo “calunduzeiro” chamado Juca Rosa ganhou fama de grande feiticeiro. O nome Calundu, daí derivado, foi o precursor da umbanda e do candomblé.
Em 1904, os candomblés passaram a ser mais conhecidos pela população carioca. Crônicas de João do Rio [5] publicadas no jornal Gazeta de Notícias e posteriormente reunidas no livro As Religiões no Rio, revelaram os endereços de vários terreiros da cidade, o que permitiu até mesmo a elaboração de mapas. Um dos terreiros mais importantes da cidade à época estava localizado na região conhecida como Pedra do Sal, no Centro da cidade, imortalizada pelo famoso sambista Heitor dos Prazeres como “Pequena África”, entre outras coisas, pela diversidade de negros oriundos de diferentes nações africanas.
É importante dizer a esta altura que o candomblé não se estabeleceu na cidade somente por conta da participação dos seus adeptos. Os leigos também tiveram uma participação importante neste ponto. Desde os tempos coloniais, muitos brancos estavam envolvidos com a religiosidade de origem afro, recorriam aos sacerdotes negros por seus encantos e rituais. As adivinhações, oferendas e iniciações eram e ainda são realizadas mediante pagamento, uma vez que, no candomblé, tudo tem um preço/valor a ser cobrado – o chamado “chão”. [6]
Constantemente, membros da elite carioca eram flagrados entrando e saindo dos endereços dos candomblés, especialmente aqueles localizados no centro. Esse “Rio de Janeiro negro” incomodava a elite social e política, que ansiava seguir o modelo europeu da belle époque, o que significava “branquear” a cidade e fazer obras na cidade, rumo à modernização.
Mãos à obra
Em 1902, Rodrigues Alves tomou posse como Presidente da República. Uma vez no cargo, imbuído desse senso de modernização, iniciou um programa de obras públicas financiado por recursos estrangeiros — 8.500.000 libras — e que priorizou obras de saneamento e reforma urbana. Ele nomeou ainda o médico sanitarista Oswaldo Cruz ao cargo de diretor do Serviço de Saúde Pública, que enfrentou a febre amarela e a peste bubônica. Cruz exterminou ratos, pulgas, comandou a limpeza e a desinfecção de ruas e casas do Rio de Janeiro.

O Rio de Janeiro na época de Pereira Passos
“Avenida Central, no centro do Rio de Janeiro, início do século XX”. À esquerda o Teatro Municipal e à direita a Escola Nacional de Belas Artes. Foto de Marc Ferrez (1909), na Wikipédia.

Para prefeito do Rio, Rodrigues Alves escolheu o engenheiro Pereira Passos. Em 1903, Passos iniciou as desapropriações de vários terrenos e casas, além de dar início, no ano seguinte, às ações de demolição. O prefeito idealizou o projeto inspirado nas reformas de Georges-Eugène Haussmann, prefeito do antigo departamento do Sena (1853-1870), na França. Reformista, Haussmann promoveu grandes mudanças no local que hoje corresponde à área metropolitana de Paris, deixando no passado as características medievais da cidade e tornando-a modelo de progresso para as grandes cidades do mundo. Passos esteve na capital francesa de 1857 até o final de 1860, onde adquiriu conhecimentos e dedicou-se aos estudos de arquitetura, hidráulica, construção de portos, canais e estradas de ferro. Foi uma testemunha das mudanças promovidas pelo prefeito francês naquele período.
No Rio de Janeiro, as reformas dividiam opiniões. Parte dos proprietários viam-nas como oportunidade de lucro em decorrência das indenizações pagas aos locatários; já os comerciantes não aprovaram a remoção de seus estabelecimentos e muita gente reclamava da cidade destruída durante as obras. Jornais favoráveis às reformas estampavam em suas páginas as vantagens de uma cidade moderna que facilitasse a atuação da polícia contra os gatunos [7] e celestinas [8], que “manchavam” a imagem do Rio no exterior.
Com a transformação, a região do centro foi valorizada e a “gente pequena”, expulsa pelas reformas, foi habitando o entorno do cais do porto, subindo os morros, construindo favelas e ocupando o espaço que hoje é o bairro da Cidade Nova. Posteriormente, essa população e seus terreiros foram migrando para a Zona Norte, subúrbios e Baixada Fluminense.
Axé gera axé
Nessa época, muitas “casas de santo” foram abertas, ou, simplesmente, transferidas para os subúrbios e Baixada Fluminense. Fundada após 1926, por Dona Pequena de Oxalá e por seu marido João Bankolê (herdeiros do orixá de João Alabá), transferem-se da Gamboa para Bento Ribeiro e em 1932, em definitivo, para Mesquita passando a ser conhecida como Casa Grande de Mesquita. Outro célebre terreiro, transferido da região do Centro do Rio de Janeiro, para a Baixada Fluminense, foi o Ilê Axé Opó Afonjá [9], no bairro de Coelho da rocha em São João de Meriti, uma extensão do terreiro, de mesmo nome, fundado por Mãe Aninha de Xangô em Salvador, no ano de 1910.
Entre as décadas de 1920 e 1930, as principais lideranças do candomblé do Rio começaram a morrer: Rodolfo Bamboxê, João Alabá, Cipriano de Abedé e Aninha de Xangô. Suas mortes tiveram como consequência o fechamento de suas casas, com exceção do Ilê Axé Opó Afonjá (de Mãe Aninha). Estes fechamentos, no entanto, não significaram o fim dos terreiros de candomblé na cidade, mas, marcaram uma espécie de continuidade, pois, a dispersão culminou na abertura de novas casas por toda a região do “Grande Rio”.
Virou notícia
Devido à forte tradição oral, presente nas religiões de matrizes africanas, existe grande dificuldade em obter documentos que atestem, com precisão, as datas de fundação e transferência dos terreiros durante o período das reformas. Porém, segundo os escritos do memorialista Agenor Miranda Rocha (1907-2004) — professor de Matemática e Latim do Colégio Pedro II, iniciado no candomblé e conhecido como Oluo (adivinho), consultado para decidir quem ocuparia o lugar deixado por Mãe Menininha do Gantois — podemos dizer que as transferências foram fruto direto das ações reformistas de Pereira Passos no Rio de Janeiro.
Apesar dos deslocamentos para subúrbios e baixada, os terreiros ainda demorariam para encontrar a paz plena. Segundo relata o jornal O Globo nos dias 9 e 16 de dezembro de 1925, os candomblés “perturbavam” a vizinhança em Nilópolis e Nova Iguaçu (Baixada Fluminense), o que, não raro, culminava na realização de batidas policiais. Na época, práticas religiosas afro-brasileiras eram perseguidas e reprimidas pela polícia civil. As autoridades contavam com o apoio de dispositivos contidos na legislação, caso do Art. 157 do Código Penal de 1890, que previa punição para a prática de “magia e afins”. Essa situação de discriminação na letra da lei persistiu até o final na década de 1930. Em 8 de abril de 1939, a Lei Federal 1.202 desautorizou a repressão policial das práticas religiosas afro-brasileiras.
Joãozinho da Goméia
Não há como falar das religiões de matrizes afro-brasileira no Rio de Janeiro sem mencionar o nome de João Alves Torres Filho, Joãozinho da Goméia (1914-1971). Tendo deixado a Bahia em 1948, Joãozinho da Goméia chegou ao Rio de Janeiro e na cidade abriu um terreiro em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Foi muito criticado pelas lideranças mais ortodoxas do candomblé por expor aos leigos as danças dos orixás em apresentações teatrais no Cassino da Urca. O luxo que empregava nas vestimentas dos orixás também o tornou alvo constante de críticas. Na atualidade, não obstante, o luxo acabou, gradualmente, sendo incorporado às cerimônias do candomblé.

Ritual afro no Brasil da década de 1940
Foto antiga de um ritual afro – Joãozinho da Goméia à esquerda e Kilondirá (Maria Júlia, filha de Joãozinho da Goméia no centro. Foto: Década de 1940, Wikipédia. Autor Desconhecido.

Joãozinho da Goméia era uma verdadeira celebridade. Seu barracão era frequentado por políticos, diplomatas, esposas de políticos e artistas. Aconselhava, ainda, leitores em um jornal de Duque de Caxias, onde morava. Seu maior mérito, no entanto, além da maneira como o mesmo era visto, foi o de aproximar a sociedade do candomblé.
Bom humor da História
O sonho de Pereira Passos de modernizar a capital federal, no fim, realizou-se. E as populações “indesejadas” que habitavam o centro do Rio, caso dos donos de terreiros de candomblé, passaram a habitar locais cada vez mais longe das vistas das elites. Todavia, o “moderno” visual da cidade durou por mais três décadas, até que a Era Vargas, na década de 1940, implementasse novas mudanças, novamente em nome da modernidade. Já o candomblé, que fora perseguido, invadido e saqueado cumprindo-se os rigores da Lei, como que por ironia, no dia 15 de julho de 2009, tornou-se Patrimônio Imaterial do Estado do Rio de Janeiro, que um dia o quis esquecido, ou no mínimo, escondido.

Notas
[1] MATTOS, Regiane Augusto de. História e Cultura AfrobrasileiraSão Paulo: Contexto, 2007. p.224.
[2] CARNEIRO, E. Candomblés da Bahia. 8. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1948. 145p.
[3] Do Iorubá, “Airá, o senhor da casa”.
[4] Palavra de origem Bantu: Espírito que se empossa de alguém.
[5] Pseudônimo de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, foi um jornalista, cronista, tradutor e teatrólogo brasileiro.
[6] BAPTISTA, J.R.C. “No candomblé nada é de graça…”: estudo preliminar sobre a ambiguidade nas trocas no contexto religioso do Candomblé. Revista de Estudos da Religião, São Paulo, n.1, p.68-94, 2005. Disponível em:
<www.pucsp.br/rever/rv1_2005/p_baptista.pdf> Acesso em: 2 mar. 2015
[7] Pessoa que faz pequenos furtos.
[8] Alcoviteira; cafetina.
[9] Do Iorubá: Casa cuja força vem de Xangô.

Referências Bibliográficas
A polícia de Nilópolis e os “Candomblés”O Globo, Rio de Janeiro, 9 de dez. 1925, Matutina, Geral, p.7 Disponível em:<http://acervo.oglobo.globo.com.br> Acesso em: 12 mar. 2015.
A polícia de Nova Iguassú [sic] e os “Candomblés”O Globo, Rio de Janeiro, 16 de dez. 1925, Matutina, Geral, p.7 Disponível em:<www.oglobo.com.br> Acesso em: 12 mar. 2015.
BAPTISTA, J.R.C. “No candomblé nada é de graça…”: estudo preliminar sobre a ambiguidade nas trocas no contexto religioso do Candomblé. Revista de Estudos da Religião, São Paulo, n.1, p.68-94, 2005. Disponível em:
<www.pucsp.br/rever/rv1_2005/p_baptista.pdf> Acesso em: 2 mar. 2015
BASTIDE, R. As religiões africanas no Brasil: contribuição a uma sociologia das interpenetrações de civilizações. 2ª. ed. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1985. 200p.
BENCHIMOL, J. L. A renovação urbana na Pereira Passos, um Haussmann tropical. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes, 1992. 200p.
CARNEIRO, E. Candomblés da Bahia. 8. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1948. 145p.
CARVALHO, M. M. Candomblés na belle époque carioca. ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, Fortaleza, 6p, 2009. Disponível em: <
http://anpuh.org/anais/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S25.1060.pdf> Acesso em: 6 mar. 2015
GAMA, E.CMulato, homossexual, e macumbeiro: que rei é este? Trajetória de João da Goméia (1914-1971). 2012. 200f. Dissertação (Mestrado em História Social) – universidade federal fluminense Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012. Disponível em: <http://www.historia.uff.br/stricto/td/1563.pdf> Acesso em: 8 mar. 2015
MATTOS, Regiane Augusto de. História e Cultura Afro-brasileiraSão Paulo: Contexto, 2007. p.224.
MOURA, R. Tia Ciata e a Pequena África no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura/Departamento Geral de Documentação, 1995. 176p.
RIO, J. As Religiões no Rio. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1976. 245p.
ROCHA., A. M. Os candomblés Antigos do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Topbooks, 1994. 132p.
SAMPAIO, G.BA história do feiticeiro Juca Rosa: cultura e relações sociais no Rio de Janeiro imperial. 2000. 200f. Tese (Doutorado em Humanas) – UNICAMP, Campinas, 2000. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000202931>

Márcio Marcelo da Luz Ribeiro é Licenciado em História pela Universidade Estácio de Sá de Nova Iguaçu (RJ) e pós-graduando em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela mesma instituição. Desenvolve pesquisa voltada à religiosidade afro-brasileira. http://lattes.cnpq.br/8650928012758540


Fonte: http://www.cafehistoria.com.br/os-deslocamentos-dos-candombles-na-reforma-pereira-passos/

Acervo Origens - Cacai Nunes

Preocupado em manter viva a cultura regional da viola, o violeiro e pesquisador Cacai Nunes esta à frente do projeto Acervo Origens, um extenso trabalho de catalogação e divulgação da música cultural de todo o país. Pernambucano, radicado desde os cinco anos de idade em Brasília, é um apaixonado pela viola e interessado em que o instrumento chegue a outros universos musicais, além da música caipira, acreditando ter potencial para isso.
— O Acervo Origens é um grande projeto de pesquisa e divulgação da música brasileira. Sabemos que cada vez mais tem gente interessada em conhecer essa música, que vem sendo registrada desde o início do século 20, nos discos de acetato. Sabemos também que essa música não existe no mercado. Boa parte dos registros feitos no passado está nas mãos de grandes gravadoras, que se recusam a publicar — conta Cacai.
— Tenho um extenso acervo de Lps na minha casa, que consegui em sebos ou em coleções particulares, e esse trabalho é disponibilizado na internet num blog, o www.acervoorigens.com, e em um programa na rádio Nacional de Brasília aos sábados as 19:00h, que também pode ser ouvido pelo blog. São espaços que servem para desaguar toda minha pesquisa — explica.
— Além disso, o Acervo Origens realiza e disponibiliza no blog atividades como Forró de Vitrola, um trabalho no qual fazemos uma discoteca somente com vinil, e o Intervalo Cultural, um projeto que leva a viola para as escolas rurais. Andamos mais de 100/120 quilômetros para encontrar e nos apresentar nas escolas do Distrito Federal — fala, acrescentando que o Forró de Vitrola é transmitido ao vivo pelo twitter do acervo origens.
No ano passado, o Acervo realizou o projeto Um Brasil de Viola, um importante apanhado do que existe de viola no país.
— Claro que não é tudo, por ser muita coisa, mas mostramos a diversidade do instrumento, suas muitas linguagens, registrando vivências diferentes de violeiros. Durante seis meses, passamos por nove estados brasileiros. Na Paraíba, por exemplo, registramos violeiros que têm a vivência da poesia e do repente. Na Bahia, os que têm convívio entre os sambas chulas, os sambas de roda lá do recôncavo — conta Cacai.
— Em Goiás e Minas, os violeiros tradicionais, tocadores do sertão, com conhecimento de toques ancestrais. Muitos deles são apenas violeiros de folias de reis e outras folias. Aqui no Distrito Federal, o Roberto Corrêa, o primeiro a montar um método de ensino do instrumento, levando a viola à academia, e a dupla Zé Mulato e Cassiano, umas das mais representativas — continua.
— No Mato Grosso registrei os tocadores de viola de cocho, que é aquela viola feita com uma tora de madeira escavada, comum no estado. No Paraná, foram os tocadores de viola fandango e, em São Paulo, uma orquestra de Viola onde há um encontro de gerações tocando um repertório selecionado — acrescenta.


Segundo Cacai, a viola tem competentes violeiros para trabalhar a música caipira, mas também potencial para tocar outros tipos de música brasileira.
— Gosto muito de instrumentistas brasileiros que fazem a nossa música com novas roupagens. Inclusive, a música que faço não classifico como caipira, apesar de ser violeiro. Ela é um misto de informações que tenho de música regional do país inteiro. Tem choro, samba, forró, baião e outros elementos da música brasileira — comenta.
Música brasileira com viola
— Mesmo antes de tocar viola, eu já tinha interesse em tocar música brasileira, e conhecer os seus registros. Assim, comecei a comprar muitos vinis e fui realizando eventos de música aqui em Brasília. O primeiro foi o Forró Lorota Boa, onde utilizava muito da pesquisa do repertório dos Lps. Tinha uma banda, que era a Lorota Boa, e nos dedicávamos a tocar esse repertório — lembra Cacai.
— Depois, fui fazer a Festa Origens, que deu o nome ao Acervo Origens. E tudo isso era gravado, porque sentia a necessidade de registrar e compartilhar, levar até o maior número possível de pessoas, multiplicando os interessados em música brasileira — diz.
Cacai lançou seu primeiro CD O Avesso em 2006 e, com ele, viajou pelo país e exterior.
— É um disco todo instrumental. Além das minhas composições, gravei Pixinguinha, Dilermando Reis e Chiquinha Gonzaga, compositores que fizeram parte do início da minha vida de instrumentista, de violeiro. Os arranjos são todos meus para viola caipira. Posso dizer que é um disco de música instrumental brasileira, sem classificação de estilos. É música brasileira com informações de músicas de vários lugares do país — declara.
— E esse disco já me levou para tocar em festivais na África, França, Holanda, Suíça, Espanha, Estados Unidos, Colômbia, e mais lugares. E essa música brasileira sem rótulo específico mostrou que pode conquistar pessoas de várias partes do mundo — continua.
— No momento, estou terminando os arranjos do meu próximo disco, que será gravado de forma independente, todo ao vivo, sem corte, em uma chácara aqui em Brasília. Será todo instrumental e deverá ter umas informações mais percussivas da música afro-brasileira, que tenho bastante vivência. Mas o repertório ainda não está totalmente definido — finaliza Cacai Nunes.

Fonte: http://anovademocracia.com.br/no-91/4069-o-brasil-da-viola