segunda-feira, 10 de julho de 2017

A arte brasileira e a crise de representação


A arte brasileira e a crise de representação

Moacir dos AnjosPublicado em: 07 de julho de 2017

http://revistazum.com.br/colunistas/crise-de-representacao/
Muito se tem falado no Brasil, com especial ênfase a partir de 2013, sobre estar-se vivendo uma crise de representação. Crise que não é somente política no sentido estrito do termo, e que não diz respeito apenas ao distanciamento cada vez mais evidente entre os gestos e as falas encontrados na vida comum e os gestos e as falas achados no parlamento ou nos gabinetes de prefeitos, governadores e presidentes. Crise de representação que tem a ver com o reconhecimento, cada vez mais difundido, de que as maneiras com que usualmente se traduz o mundo em imagens, sons, formas, escritos e gestos não são mais capazes de compreendê-lo para nele atuar – quer na sua manutenção como está ou, então, para mudá-lo. As evidências mais próximas dessa crise são os variados levantes que ainda agora ocorrem no país, tendo como contraparte propositiva uma ênfase difusa em práticas micropolíticas. Parte da mídia também parece atônita com a própria incapacidade de acompanhar o que ocorre, sendo sucedida, mais e mais, pela emergência de novas formas de gerar e compartilhar conteúdo sem as amarras da imprensa convencional. Nas universidades, como resultado do novo perfil social e racial das políticas de cotas na última década, questões nunca antes postas em relevo estão sendo formuladas, forçando cursos e currículos a se adequarem a algo que antes não lhes concernia ou a que não lhes parecia ser importante o bastante para constar do corpus acadêmico.
Algo também parece estar definitivamente acontecendo nas artes visuais no Brasil. Uma movimentação que talvez não tenha ainda uma aparência definida ou coesa, e que talvez não seja mesmo o caso de ter. Mas que certamente responde, a seu modo – no que lhe cabe e no que lhe é possível –, a esse desmonte das equivalências entre vida vivida e formas de representá-la que por tanto tempo pareceram seguras e adequadas. Diante desse quadro instável, parece ser necessário explicitar, mesmo que em seus traços mais básicos, o que está em jogo nas produções recentes de vários artistas que têm buscado enfrentar, cada um à sua maneira, essa situação de descompasso entre a realidade e sua tradução no campo do sensível. Em particular, discutir o sentido último de a arte representar o mundo de maneiras distintas das legitimadas; de figurar o lugar em que se deseja viver no futuro, na medida em que esse lugar projetado é diferente do mundo existente agora. Parece ser preciso, por fim, atentar para a potência que a arte embute de não somente resistir ao que aí está e antecipar o que pode vir, mas de algum modo participar da invenção desse lugar que ainda não há.

What is color of my skin?, de Paulo Nazareth, 2012
De início, é preciso lembrar que qualquer produção artística está sempre ligada, com menor ou maior evidência ou consciência, aos lugares e aos tempos vividos por seus autores. Aquilo que é inventado pelos artistas, ou mediado por suas subjetividades, sempre deixa transparecer, como sintoma ou como análise, a situação e o contexto específicos que lhe serve de chão e calha. São criações que estabelecem e que reiteram, a cada ambiente e a cada momento, um conjunto de pistas e de vestígios que desenham maneiras singulares de estar no mundo, próprias a uma dada comunidade. É nesse sentido que se pode dizer que essas criações são equivalentes sensíveis de uma determinada realidade e se configuram, portanto, como práticas de representação. Equivalentes sensíveis que podem assumir o formato de um filme, de uma instalação, de uma música, de uma coreografia, de um poema, de uma fotografia, de um desenho, de uma performance ou de um romance que, depois de criados, são oferecidos a qualquer um. São práticas artísticas que contribuem para delimitar aquilo que é visto, dito e plenamente entendido em conjuntura social específica, estabelecendo o que o filósofo Jacques Rancière chama de uma “partilha do sensível”.
Esse comum representado pela arte não abrange, entretanto, tudo e todos que supostamente pertenceriam, a cada momento, a determinado agrupamento identitário ou mesmo geográfico. Não abrange todas as equivalências sensíveis que seriam possíveis de ser feitas como representações de uma realidade inscrita em tempo e lugar determinados. Da mesma forma que aquilo que é representado em parlamentos não abrange tudo que concerne a cada um dos que vivem sob suas circunscrições. De fato, nenhuma representação da realidade se confunde com essa mesma realidade, estando sempre aquém do universo representado. Toda representação é sempre e inescapavelmente um recorte de um universo mais amplo atravessado por uma irredutível diversidade; uma abstração de um todo inapreensível por ser, em certa e relevante medida, opaco ao olhar de qualquer um dentre os muitos que ali coexistem.

Frame do vídeo Bárbara balaclava, de Thiago Martins de Melo, 2016
Diante dessa irrecorrível limitação, segue-se a imperativa necessidade de saber o que faz com que algo seja ou não contado nas representações que, apesar de limitadas, se querem fazer passar por muito abrangentes. Necessidade de definir, portanto, quais imagens, formas, sons, palavras e gestos são tomados como representantes sempre infiéis de uma realidade complexa, mas, ainda assim, considerados como seus melhores equivalentes sensíveis. Responder a essas indagações implica sublinhar o fato – tão óbvio quanto importante – de que a vida em sociedade no mundo existente é fundada em desigualdades e regida por conflitos. E se a representação de uma realidade é um recorte ou uma abstração de um todo mais amplo, em que alguns de seus aspectos são considerados e outros não, a decisão de incluir e excluir coisas e pessoas é obviamente tomada por quem tem o poder efetivo de, frente aos demais, inscrever sujeitos, temas e questões específicos como se fossem equivalentes sensíveis de um contexto mais abrangente. Nesse sentido, é possível afirmar que a representação de um certo tempo e lugar de vida que seja reconhecida e legitimada como tal é tão somente um recorte hegemônico do vivido. Recorte que ecoa os interesses e as perspectivas de quem detém o poder efetivo na vida social e política.
Ao definir aquilo que é visível, audível e compreensível para uma determinada comunidade, as práticas reconhecidas de representação definem não apenas o que importa naquele campo do comum (e o que esse campo comporta); definem também o que e quem não fazem parte desse campo e que estão, por isso, excluídos dessas equivalências da realidade. São práticas que expressam quem tem e quem não tem competência, condição ou posição asseguradas para integrar um espaço partilhado de evidências. Os recortes ou abstrações da realidade que essas práticas produzem não são, portanto, neutros ou naturais, mas sim expressões conjunturais da relação de forças que existe e opera no interior de uma dada comunidade. Relação de forças que a todo momento acolhe, mas também afasta, do domínio do sensível, ideias, assuntos e grupos sociais, tomando alguns deles como representantes da realidade e outros como, no limite, inexistentes.

Instalação O jardim adormecido [da Maré], de Rosana Palazyan, madeira, terra coletada em diversos pontos da Maré, sementes dormentes, reservatório de água, sistema de irrigação, tela de metal, lâmpadas de led, 2017. Foto de Rosana Palazyan.
Não é por nada que, no Brasil, o campo artístico quase sempre ignorou ou caricaturou, nas representações que fez e faz do mundo, populações que são invisíveis a quem possui o poder de mando local, tais como os povos indígenas, os loucos, os presidiários, os sem terra e sem teto, os transgêneros, uma significativa parcela da população negra, os imigrantes ilegais, os muito pobres do país. Todas essas são pessoas não incluídas no cálculo produtivista que rege e que mede o chamado desenvolvimento no Brasil. Pior ainda, são pessoas e grupos cuja despossessão e consequente invisibilização são, muitas vezes, funcionais e necessárias ao modelo de crescimento adotado no país.
As artes visuais no Brasil têm produzido (salvo evidentes exceções), ao longo de décadas, um tipo de representação em que quase não cabem os indícios das exclusões e das interdições que marcam a dinâmica da sociedade brasileira. Representação que não é, em princípio, inadequada para o contexto ao qual ela se refere e no qual ela se insere, pois termina por produzir equivalentes sensíveis de um país que aliena de si mesmo tudo que lhe parece ser incômodo, que causa atrito, que provoca disputa, que gera ruído ou que é sujeira. A avara presença, na representação que o campo artístico historicamente fez do Brasil, daquilo que é escamoteado ou esquecido na sociedade da qual ela é equivalente sensível, faz com que ela, em sua seletiva magreza, seja perversamente adequada à realidade do país.

Still do vídeo Haiti: Não vamos obedecer, de Daniel Lima, 2016
Nada disso, porém, é coisa dada e acabada. É justamente por serem parciais e limitados – ou seja, por comporem não mais que um recorte entre outros possíveis da realidade – que os modos de representar uma dada situação estão sujeitos a constantes contestações e rearranjos, sendo, portanto, irremediavelmente provisórios. Nesse sentido, as práticas de representação podem ser entendidas como espaços de disputas abertas no campo da produção simbólica e da imaginação. Disputas para afirmar aquilo que deveria, do ponto de vista de quem quer figurar em uma dada realidade, traduzir-lhe e dar-lhe sentido sensível. E a cada vez que artistas enunciam e narram, por meio de suas produções, fatos, situações e grupos sociais que não constam nos acordos tácitos sobre como representar o mundo onde vivem, estão a promover fissuras nos consensos que moldam as maneiras de uma comunidade enxergar a si própria. Fissuras que enfraquecem o conjunto de crenças que guiam o comportamento dos membros dessa comunidade como se fossem valores imutáveis, quando apenas expressam visões dominantes de mundo. São artistas que desafiam uma “partilha do sensível” hegemônica e buscam refazê-la de modo mais inclusivo.
Ao se falar de crise de representação, fala-se, portanto, de uma situação em que os danos que uma dada partilha do sensível provoca ou condensa são finalmente explicitados. Situação em que se evidenciam, por vários meios, as desigualdades que moldam e que definem certo contexto social, fazendo que a alguns seja dado o poder de terem rosto e de terem fala, enquanto a outros são negados o direito à própria imagem e o de narrar suas histórias. E é diante desse entendimento amplo do que é representação e de como a arte potencialmente atua para questionar uma dada configuração hegemônica do que pode ou não pode ser figurado em um dado lugar e momento, que se pode pensar a ideia de uma arte que resiste. De uma arte que recusa a naturalização da invisibilidade social de determinadas questões, grupos sociais e entendimentos sobre o mundo. De uma arte que resiste à ideia de que as representações dominantes não podem ser questionadas e alteradas. Resistência que é entendida, assim, não como gesto passivo frente a uma força que acua, mas, paradoxalmente, como postura ativa de transformação.

Still do vídeo Apelo, de Clara Ianni e Débora Maria da Silva, 2014
Falar de uma arte que resiste é, nesse sentido, falar de uma arte que faça uma representação das sobras. Que engendre uma representação da realidade que seja capaz de nomear danos impostos a segmentos da população de um dado lugar e tempo. Que crie equivalências sensíveis para aquilo que é representado, paradoxalmente, somente como ausência e falta, dando-lhe, ao contrário, a condição de parte. Falar de uma arte que resiste significa, no Brasil, falar de uma representação da realidade que aponte e individualize os excluídos da dinâmica social, econômica e política do país. Representação ancorada em práticas artísticas que, como sugere o filósofo Georges Didi-Huberman em outro contexto, por vezes expõem o outro para que este outro fique menos exposto a uma situação de vulnerabilidade. Para que deixe de estar exposto ao desaparecimento e possa, eventualmente, expor-se a si próprio, saindo da sombra arriscada da invisibilidade social. A arte tem essa capacidade de gradualmente encurtar as distâncias entre o que é efetivamente representado em uma comunidade e tudo o mais que há a ser representado ali, valendo-se para isso de práticas mais heterogêneas e ruidosas. Mais confusas, divergentes e complicadas; assim como a vida. Essa é uma maneira de a arte resistir contra a manutenção do que aí está. De resistir ao momento político presente e de não naturalizá-lo.///

Moacir dos Anjos é crítico de arte. Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, foi curador da 29ª Bienal de São Paulo em 2010. Publicou ArteBra Crítica: Moacir dos Anjos (2010) e Local/global: Arte em trânsito (2005), entre outros volumes e ensaios em livros

sábado, 1 de julho de 2017

"Acerto de Contas": caixa com 4 CDs lançados pela Biscoito Fino.

A capacidade para - logo nos primeiros acordes - perceber que se ouve um samba, qualquer brasileiro tem. A identificação e percepção do genero é simultânea à audição.

Já a diferença entre um samba apropriado à parada de sucesso e um samba que se tornará definitivo reside na profundidade do provérbio elaborado pelo autor.

Noel Rosa, Cartola, Dona Ivone Lara, Elton Medeiros, Paulinho da Viola, Ataulfo Alves, Chico Buarque, Wilson Batista e outros raros notablizaram-se por serem eternos, nos anais da música brasileira, justamente pelo modo como transmitiram sua sabedoria de vida: sempre através de provérbios poético-musicais que fazem a delicia e a marca registrada de um samba definitivo.

A caracteristica de criar e empregar provérbios que condensam toda a sabedoria e a graça popular faz com que o samba se torne ímpar em relação a todos os outros generos musicais no mundo

Para além de ser um ritmo contagiante de se ouvir, o samba abriga, em seus dominios, uma vasta escola da sabedoria popular. Basta estar disposto a vasculhar, em seus meandros, e saber apreender.

Nesta universidade de vida documentada através do samba, Paulo Vanzolini é um dos grandes mestres.

Quem é bom sujeito sabe que a estrutura básica de um samba (que vai se tornar definitivo) leva em conta um relato onde o provérbio máximo, ou o toque de prima, se assim o preferir, comparece cantado no refrão.

Curiosamente, a obra musical de Paulo Vanzolini - apesar do carater proverbial estar repetidamente presente - não contém refrão (detalhe que ainda permanece como sendo um dos pontos fortes para o registro, popularização e memória de uma canção).

O exemplo mais conhecido de sua obra sem refrão é 'Ronda' - cuja conclusão é a forte imagem da cena de 'sangue num bar da avenida São João', que é cantada com emoção em todo os cantos do Brasil (inclusive, por intérpretes que sequer estiveram na avenida para conhecer a sua substancial e acelerada decadência).

Mas voltando à vaca fria: a ausência de refrão, entretanto, sequer é notada. A cada frase, o poeta-compositor Paulo Vanzolini é definitivo, lapidar: o ouvinte sempre tem a impressão de que aquela frase antológica vai em algum momento servir de propósito ao refrão, mas que nada, vem a outra frase - tão definitiva, lapidar e antológica como a anterior - e a sabedoria poética novamente comparece esplendorosa. Mais uma vez, o ouvinte tem a impressão que tal sabedoria se prestará a enriquecer o refrão, que insiste em não comparecer, nunca.

As mulheres, na obra de Paulo Vanzolini, são um capítulo à parte: temperamentais, fortes e racionais; não se prestam às futilidades, frivolidades e facilidades imaginadas e descritas pelos autores musicais contemporâneos. A mulher na obra de Paulo Vanzolini tem que dar samba, porque 'mulher que não dá samba eu não quero mais', adverte o compositor.

A fragilidade da mulher também comparece, invariavelmente como sinal de apatia ou loucura: 'Maria é boa mulata/ Me faz companhia/ Mas não ata nem desata/ Nunca sai dessa agonia'.

Além da loucura da apatia a mulher também é reconhecida pela soberba: 'Vendo-te assim, com os puros sinais da falta de mim/ Em pleno apogeu, morrendo de tédio e o remédio sou eu'.

A mulher-veneno, aquela do amor peçonhento, é retratada proféticamente para o mal: 'O meu problema é bem pequeno/ Não se zangue/ É só tirar o seu veneno do meu sangue'.

A mulher-peçonhenta também é imortalizada pelo bem que lhe faz (é quando o veneno vai servir como o principal componente para a elaboração do remédio): "Amor sereno, amor pirraça / Amor veneno/ Amor cachaça/ Amor debaixo d'água/ Amor no meio dos infernos/ Amor de meter susto ao Padre Eterno/ E já se vê/ Só pode ser o amor/ De eu e você".

Junto com Elton Medeiros, Paulo Vanzolini compôs 'Dançando na Chuva', peróla básica da maledicência: "Fez deboche do meu verso/ Diz que é frouxo e que é insosso/ Fez tanta mesquinharia e se orgulha do papel/ Você dançou rindo na chuva/ Mas não vai secar o céu".

Rimas, frases, versos, provérbios e ritmos, tudo é muito contagiante e deveras expressivo quando o assunto é o paulistano Paulo Vanzolini.

Mesmo contendo extensa riqueza abrigada no detalhe, o conjunto da obra de Paulo Vanzolini é atualmente conhecido por um minusculo circulo de admiradores - sempre confessos e devotos apreciadores.

O destaque que forneci sobre algumas obras que retratam as mulheres amadas e/ou exorcizadas constituem apenas um pequeno apêndice do vasto conteúdo temático e musical de Paulo Vanzolini.

Para detalhadamente elucidar e buscar a compreensão sobre este universo poético seria necessário lavrar muitas laudas, talvez laudas infinitas. A compreensão de sua obra, porém, não é fator de profundo estudo: Paulo Vanzolini não caetaneia nem djavaneia jamais; a metafora passa batida por seus escritos; tudo é dito de forma muito objetiva e direta - sem papas na lingua, sem nhenhenhê e sem palpo de aranha.

Paulo Vanzolini não é cantor, é compositor dos bons e raros são os discos especificos dedicados à sua obra. Eu conhecia, até o presente, apenas dois CDs-tributo, ambos fora de catalogo: 'A Música de Paulo Vanzolini', por Carmen Costa/ Paulo Marquez (Discos Marcus Pereira, catálogo agora pertencente à gravadora EMI); e 'Paulo Vanzolini Nas Vozes de Chico Buarque, Cristina, Adauto Santos, Luiz Carlos Paraná e Mauricy Moura', pela gravadora Movieplay.

Agora, podemos todos - graças ao rico e fundamental empreendimento conjunto da gravadora Biscoito Fino e Petrobrás Distribuidora - desfrutar da obra completa de Paulo Vanzolini, no recente lançamento da caixa contendo 4 CDs: 'Acerto de Contas', talvez o melhor e mais merecido tributo a um artista brasileiro, dado o desconhecimento público sobre o conjunto de sua obra.

Cada CD da caixa 'Acerto de Contas' contém 13 músicas, totalizando 52 gemas do melhor da música brasileira. Músicos de primeira e interpretações quase impecáveis trazem à luz Paulo Vanzolini, expoente da criação poético-musical brasileira.

Outro ponto importantissimo nesse tributo é a apreciável qualidade do projeto gráfico: delicadas ilustrações e cuidado apurado com o resultado final das gravações.

Apreciável também é o preço: nunca acima de R$ 50 pelo conjunto das 52 obras, ricamente transportadas para o formato CD, custando ao consumidor menos de R$ 1 cada uma. E prometo: serão todas imortais enquanto você dure.

O arranjo, para qualquer música, é outro ponto que vale ser ressaltado: esqueça o samba-batucada. Em 'Acerto de Contas', você invariavelmente vai deparar-se com pouquissimos recursos de percussão e ausência total de coro e de pastoras. O apogeu da obra não reside na medida da exaltação do refrão, mas sim na discrição do papo amigo, na queixa e no 'presta atenção' quase confidencial (Levanta/ Sacode a poeira/ E dá a volta por cima). Todos elegeram, como sua morada definitiva, o samba de Paulo Vanzolini.

Para ir além
Resumo de ficha técnica dos discos 'Acerto de Contas':

Intérpretes: Paulinho da Viola, Márcia, Eduardo Gudin, João Macacão, Carlinhos Vergueiro, Chico Buarque, Elton Medeiros, Cristina Buarque, Ana de Hollanda, Miucha, Ana Bernardo, Inezita Barroso, Paulinho Nogueira, Trovadores Urbanos, Virginia Rosa, Edú Maia e Maria Marta.

Músicos participantes: Italo Peron (violão), Zé Barbeiro (violão 7 cordas) , Milton de Mori (bandolim), Stanley (clarinete), Prata (flauta), Marcelo Galani (percussão), Arnaldinho (cavaquinho), Wellington Moreira (percussão), Bombarda (acordeon), Isaias (bandolim), Bocato (trombone), João Macacão (violão 7 cordas ) e muitos outros.

Direção e produção musical: Italo Peron
Arranjos: Italo Peron
Projeto gráfico: Eduardo Musa, Silvia Amstalden Franco e Taís Tsukumo.
Ilustrações: Francisca do Val.
Gravado no Estúdio Flautin 55, São Paulo, de março a outubro de 2002.

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por Waldemar Pavan
São Paulo, 28/1/2003

https://www.youtube.com/watch?v=WA9yNUS5oYY

https://www.youtube.com/watch?v=924rhlKlLDs

https://www.youtube.com/watch?v=_G4B3yD_5_g

https://www.youtube.com/watch?v=5RmIsEdz-lU

Fonte: http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=919&titulo=Incendio_pleno:_amor,_pirraca,_veneno_e_cachaca