terça-feira, 18 de novembro de 2014

Eduardo Coutinho em cena

Eduardo Coutinho em cena

Você sabe quem é Eduardo Coutinho? Ele é considerado um dos maiores documentaristas brasileiros em atividade. Jogo de Cena é seu décimo longa-metragem. Entre suas produções, destacam-se: Cabra Marcado para Morrer (1964-1984); Santa Marta: Duas Semanas no Morro(1987); Boca de Lixo (1992); Santo Forte (1999);Babilônia 2000 (2000); Edifício Master (2002);Peões (2004) e O Fim e o Princípio (2005).

Para ficar por dentro da discussão conceitual que deu origem a Jogo de Cena, não deixe de conferir o blog oficial do filme! Além de comentários e observações de Eduardo Coutinho, lá você encontra a sinopse, o trailer e críticas do longa-metragem.

Fonte: http://cineclubecienciaemfoco.blogspot.com.br/2010/01/eduardo-coutinho-em-cena.html


28/08 Roda de Conversa O JEITO DE EDUARDO COUTINHO
Exibição do filme – Apartamento 608
Ele virou referência na forma como se faz documentário no Brasil. O "estilo Coutinho" passou a influenciar boa parte da produção nacional. Mas até que ponto é possível reproduzi-lo? Quanto do homem havia na obra? Como era Eduardo Coutinho, e como ele se revela em cada um de seus filmes?
Convidados: Eduardo Escorel, Beth Formaggini, Sergio Goldenberg
Mediação: Claudius
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Mostra: De Olho na Rua – Aprendizados de mídia e participação
Casa da Ciência da UFRJ - De 15 de agosto a 28 de setembro, de 9h às 20h
Oficinas – Sábados das 10h às 12h.
Dinâmicas – Diárias, com horário marcado, dentro do ambiente da exposição. Replicadas pelos monitores da Casa da Ciência, a partir de Oficinas de projetos do CECIP.
Mostra de Vídeo Eduardo Coutinho – De quinta e sexta 18:30h, sábado e domingo –16h e 18:30h – o primeiro dia da Mostra será precedido de uma mesa roda de conversa.
Mostra de Vídeo TVs Comunitárias – De quinta a domingo – 18h30 – o primeiro dia da
Mostra será precedido de uma mesa roda de conversa.
Rodas de conversa (Quintas-feiras – 18h30*) – Mesas e Bate-papo com convidados; temas: TVs comunitárias, cultura de paz, juventude e participação, a obra de Eduardo Coutinho e o potencial revolucionário do humor


Apartamento 608: Coutinho.doc

https://www.youtube.com/watch?v=z3OA_n4U4HM


Um documentarista em crise diante da sua obra. Eduardo Coutinho visto bem de perto durante a criação do seu filme Edifício Master.
Brasil / 2009 / cor / 51′
Direção: Beth Formaggini
Fotografia: Beth Formaggini
Montagem: Joana Collier, Ricardo Miranda
Som: Beth Formaggini
Produção: 4ventos comunicação
Contato: bethvf@uol.com.br


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Eduardo Coutinho - Jogo de Ideias (2006)

https://www.youtube.com/watch?v=Zg-mxrVGu38


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O documentário de Eduardo Coutinho

Televisão, cinema e vídeo
"Não há melhor guia para a obra de Coutinho do que Consuelo Lins (...) com clareza e brilho põe à nossa disposição não apenas a sua inteligência teórica, mas também as lições aprendidas no campo, no convívio com Coutinho durante as filmagens. O resultado final é extraordinário."
do prefácio de João Moreira Salles
Assunto: Cinema
Acompanhando 40 anos da trajetória de Eduardo Coutinho, mestre do cinema documental no Brasil, Consuelo Lins analisa a filmografia do diretor, desde o premiado Cabra marcado para morrer (1964-84) até Peões (2004). Esse estudo cronológico passa por Edifício Master (2002) e ainda pelo programa Globo Repórter dos anos 1970 e 80, onde o cineasta desenvolveu uma forma específica de fazer documentários "com os outros, e não sobre os outros".
O tema desse livro é a investigação dos procedimentos de criação, métodos de trabalho, condições de realização, posturas éticas e opções estéticas e técnicas de Coutinho, que pode provocar transformações nas ideias preconcebidas que todos nós - público e personagens - construímos a respeito do mundo em que vivemos. Trata-se de uma reflexão teórica muito bem fundamentada sobre um conjunto de obras que resiste às tentativas de uniformização.
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http://oglobo.globo.com/cultura/um-documentario-afetivo-sobre-eduardo-coutinho-11536322
RIO - Eduardo Coutinho começa o filme “Edifício Master” com uma descrição objetiva: “Um edifício em Copacabana, a uma esquina da praia, 276 apartamentos conjugados, uns 500 moradores, 12 andares, 23 apartamentos por andar.”

Um perfil que resumisse Eduardo Coutinho também poderia começar de maneira objetiva: “Um cineasta nascido em São Paulo, radicado no Rio, 80 anos, 22 filmes, uns 40 prêmios, mais de cem pessoas entrevistadas”. Seria uma opção tão verídica quanto distante — que, decerto, não lhe agradaria.

Por outro lado, um perfil que resumisse Eduardo Coutinho poderia começar de forma elogiosa. Para o crítico Inácio Araújo, ele era um “mestre absoluto”; para o cineasta Cacá Diegues, “o maior documentarista brasileiro”; para o imortal Nelson Pereira dos Santos, “o criador de uma linguagem única, sem filiação a nenhuma escola, que, na falta de nome, só poderia ser chamada de ‘cinema Eduardo Coutinho’”. A isso, ele provavelmente responderia com uma blague suja e autodepreciativa — para, em seguida, acender mais um cigarro.

Mas há uma opção de início que talvez agradasse ao homem rouco, magro, míope e cáustico que só usava tênis de corrida (em geral da marca Reebok), só escrevia em caderno ou à máquina (uma Olivetti) e que passou os últimos dez anos peregrinando por cafés e restaurantes da Zona Sul carioca em busca de um lugar para ler, em paz, ao lado de seu fiel escudeiro, o inseparável Marlboro vermelho.

Esse começo de texto não citaria que Coutinho foi autor de “Cabra marcado para morrer” (1984) e “As canções” (2011). Tampouco lembraria que “Jogo de cena” (2007) foi descrito pelo crítico Jean-Claude Bernardet como “um abalo sísmico de sete graus na escala Richter” na história do documentário. Ignoraria, por fim, que o fotógrafo Walter Carvalho o considerou responsável, “como Graciliano Ramos, Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer”, por fazer entender o Brasil.

O perfil ideal de Eduardo Coutinho (ou ao menos este perfil) começaria com uma frase singela, dita por um personagem seu — a aposentada Geicy da Silva Bastos, de 77 anos, moradora do Edifício Master — que assim o resumiu: “O Coutinho deu importância à minha história.”

Eduardo de Oliveira Coutinho foi o intelectual das perguntas simples, do ouvido acolhedor e da crença no acaso. Numa longa entrevista à revista virtual “Contracampo”, dez anos atrás, assim definiu a maior parte dos documentaristas: “Eles já têm ideias prontas. Julgam, querem ver o que projetaram antes, têm todo um a priori. Querem mudar o mundo mudando o personagem. Eu não quero nada do personagem. Não quero julgar”. Dizia não haver “impulso maior no ser humano que o interesse em ser reconhecido e escutado”.
Nos 60 anos em que durou sua filmografia, Coutinho ouviu camponeses, metalúrgicos, prostitutas, mães, filhas, catadores de lixo, cornos, favelados, viúvas, mulheres traídas — e retratou-os, sempre, com beleza e dignidade. Onde encostou — às vezes pelo tempo de uma conversa — deixou uma marca, de orgulho, na pessoa entrevistada. Personagem do filme “As canções”, a aposentada Aparecida da Silva Brauns, de 77 anos, diz que sem a passagem de Coutinho continuaria a levar “uma vida de dona de casa”. Já a vendedora de livros Fátima Gomes Pereira, de 55 anos, diz que o cineasta, ao ouvi-la cantar, “foi o primeiro a reconhecer meu talento”.

— Passei a amá-lo como se fosse um pai — completa.
Fátima conheceu Coutinho no último dia de 1999, quando, com um copo de cidra nas mãos, recebeu o documentarista e sua equipe no alto do Morro da Babilônia, onde morava. Primeira entrevistada de “Babilônia 2000” — filme que retrata a expectativa dos moradores da comunidade às vésperas da virada do milênio — ela conta ter ficado íntima do cineasta nos primeiros instantes de conversa:

— Foi amor à primeira vista. Gostei do velhinho, daquele jeitinho, daquela fragilidade. Ele não aceitou o champanhe vagabundo, mas me tratou com muito carinho. Nasci para ser cantora. E o Coutinho foi o primeiro a me dar uma chance.
No filme, Fátima solta a voz e incorpora Janis Joplin, com a Praia de Copacabana ao fundo. Pela emocionante performance, foi reconhecida por turistas na rua e chamada para fazer uma ponta em “Feliz Natal”, de Selton Mello. Em 2011, reencontrou Coutinho durante a gravação de “As canções”. No documentário sobre como as músicas provocam lembranças nas pessoas, Fátima cantou “Ternura”, de Wanderléa. No velório do documentarista, há uma semana, entoou “Faraó ou Deus”, de Shirley Carvalhaes.

— O velhinho sempre pedia para eu cantar essa para ele, era ateu, mas adorava minhas músicas de louvor. Ele nunca falava da vida particular, mas eu sentia um sofrimento naquele olhar. A felicidade dele era ouvir a história dos outros.

A florista Adenize de Jesus Santos, de 65 anos, a Suzy, também compareceu ao velório do cineasta — munida de 30 rosas brancas, que depositou uma a uma sobre o caixão.
— Eu jamais tinha dado uma entrevista, ainda mais sobre a minha vida — diz ela, moradora do apartamento 102 do Edifício Master. — Falei da época em que eu era dançarina, em que fui para o Japão fazendo show de mulatas. Ele foi muito paciente. Escutou o que eu tinha para falar, não exigiu nada de mim. Poder contar a própria história é uma felicidade.

Moradora do apartamento 711, Geicy da Silva Bastos afirma que Coutinho a fez ter orgulho da própria história.
— Até hoje sou feliz por causa do filme, mas não por ter ficado famosa — ela explica. — O Coutinho me fez falar de algo que estava apagado. Eu achava a vida muito chata. Quando botei aquilo tudo para fora, achei que a vida passou a valer a pena. Senti que eu era uma pessoa que valia a pena. Se tivesse que pagar para falar com ele, pagaria.
Generoso com seus personagens, Coutinho costumava ser duro e desleixado com sua vida pessoal. Fumava muito, alimentava-se mal. Orgulhava-se, com certa ironia, de não jantar em casa “há mais de 50 anos”. Adorava batata Ruffles, croquete e esfirra — palavra que pronunciava sem a letra “r” (“Esfia!”), sob o argumento de não ter pulmão para tanta consoante.

Metódico, comia quase sempre sozinho, nos mesmos locais. Na década de 1990, seu quartel-general era o restaurante La Trattoria, em Copacabana. Chegava no fim da tarde, bebia três doses de Teacher’s, comia pão de alho, ravióli ou sopa.
— Ele tinha uma mesa cativa, a 16, do lado da porta — conta o garçom Roney Bezerra. — Tirava um caderno da bolsa, datava e começava a escrever. Fumava uma barbaridade. Ele não comia fumando, fumava comendo.
Deixou de frequentar a casa no dia em que a lei antifumo entrou em vigor, no fim de 2009.
— Ele entrou, olhou para a mesa e falou: “Cadê meu cinzeiro? Não é nada pessoal, mas não fico sem meu cigarro” — conta Bezerra. — Nunca mais voltou.
A partir de então, Coutinho passou a desbravar e ser expulso, qual cachorro vira-lata, de uma penca de cafés e livrarias da cidade. Tinha, por lei, um único critério: que o lugar o permitisse fumar. Começou pela livraria Argumento, na rua dos restaurantes mais chiques do Leblon, que ele carinhosamente chamava de “leprosário”:
— O Seu Coutinho ia para o banheiro fumar escondido. Eu tinha que bater na porta e pedir para ele sair — lembra Nirley Afonso de Oliveira, gerente do Café Severino, nos fundos da Argumento.

Seguiu, então, para a livraria Ponte de Tábuas, no Jardim Botânico, onde estacionava no domingo do meio-dia às 21h.

— Ele passava a tarde e a noite se enchendo de informação e de cigarro, eram pelo menos dois jornais e dois maços — conta o ex-gerente da casa, Carlos Eduardo Fernandes.
Quando a livraria fechou, no ano passado, adotou o Café Moviola, em Laranjeiras:

— Ele bebia suco de latinha, dois espressos e um licor Amaretto, que compramos só pra ele. Eu trocava o cinzeiro várias vezes — diz a garçonete Rose Carvalho que, na última segunda-feira, homenageou-o com a letra de “Naquela mesa” em sua página no Facebook.
Alemã radicada no Rio há nove anos, a guia de turismo Isabell Erdmann, de 39, encontrou Coutinho há um mês na Praça Otto Lara Rezende, no Jardim Botânico. Ela o havia conhecido em 2011, quando cantou “Você me abandonou” — samba da Velha Guarda da Portela que a ajudou a superar o fim dramático de um relacionamento — no filme “As canções”.

— Coutinho tinha sensibilidade para cutucar as feridas alheias. Ele sempre me fez perguntas curtas, mas exatamente aquelas que me instigavam a falar — lembra Isabell, sentada na escada de casa no Pavão-Pavãozinho, onde mora. — Eu notava que ele entendia o que eu falava, vivia o que eu sentia.
Na última conversa que tiveram, Coutinho quis saber se Isabell estava feliz com a gravidez de oito meses e com o novo namorado, o mestre de capoeira Sidney Tartarurga, pai da criança.

— Sentei ao lado dele para bater papo, estava morrendo de saudades — recorda Isabell. 

— Agora penso que, talvez por viver um inferno na própria casa, o Coutinho procurasse a história de outras pessoas, sofridas ou não, para conseguir lidar com os problemas, para aliviar a dor que sentia dentro do coração.

Em 2006, o cineasta publicou um anúncio discreto, em jornais populares do Rio, recrutando pessoas que tivessem “uma história para contar”. Surgiu daí “Jogo de cena”, documentário em que mulheres tiveram seus relatos filmados e depois interpretados por atrizes. Uma delas era Andréa Beltrão.

— Ele me deu um texto de 30 páginas e disse que não ia me dirigir. Fiquei muito invocada. Ele gostou da minha irritação enquanto eu quase enlouquecia — conta Andréa. — O Coutinho era um gênio, mas muito simples. Essa palavra linda que a gente só pode dizer sobre poucos, os maiores.

Eduardo Coutinho morreu no último domingo, dia 2 de fevereiro, devido a um trágico incidente familiar. Nos dias que se seguiram, pipocaram conversas de esquina, artigos de jornal e confissões virtuais com relatos de pessoas que o conheceram ou o admiraram, à distância, enquanto ele lia e fumava em algum café da cidade.
Mas os amigos realmente próximos — produtores, diretores, assistentes e, ainda nesta categoria, personagens — pouco expuseram além do vazio. Dona de uma casa humilde no bairro de Anchieta, a aposentada Aparecida da Silva Brauns, de 77 anos, foi ao Ponto Cine de Guadalupe, na segunda-feira do enterro, para homenageá-lo. Após um debate no centro cultural, ela cantou “Fascinação” — mesma música que a eternizou em “As canções”.

— Eu não sabia o que era teatro, nem o que era um filme que não fosse de televisão até conhecer o Coutinho — conta. — Mudei por causa do jeito dele me tratar. Depois que o conheci, todo lugar que eu sabia que ele ia estar, eu ia. Ele dizia que eu era a mascote do filme.

Pela frequência, Aparecida ganhou lugar cativo no cinema de Guadalupe. Passou também a cantar em bares e igrejas, “sempre a capela”, por não gostar de instrumentos. A mudança, diz, aconteceu por um simples motivo: um elogio.
— Eu tinha três amores: meu marido, minha filha e o Coutinho. No ano passado perdi os dois primeiros. Sobrou o Coutinho. Ele passava a mão no meu rosto, como um pai, era muito carinhoso comigo. Era o amor da minha vida.


Fonte:  http://oglobo.globo.com/cultura/um-documentario-afetivo-sobre-eduardo-coutinho-11536322#ixzz3JQg8XoSe 


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Documentário brasileiro é herdeiro de Eduardo Coutinho
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Leonardo Sakamoto


Creio que poucas pessoas marcaram a forma como vemos o outro e tentamos dialogar com ele como Eduardo Coutinho. Se por um lado, o cineasta dificilmente será substituído, por outro, ele inspira o jornalismo brasileiro, mesmo que não nos demos conta disso. 
“É como se Coutinho fosse a matriz de uma série de outros documentários e reportagens que, depois, se debruçaram sobre o saber popular, que se interessam não só pelas histórias mas pelo jeito tão peculiar que cada um tem de contá-las, que procuraram instituir uma relação de camaradagem com o entrevistado para, daí, deixar brotar a espontaneidade, o humor, a emoção'', diz Lúcia Ramos Monteiro, doutora em cinema pela Universidade Paris 3 e pela Universidade de São Paulo. “No documentário brasileiro, porém, o quase deslumbre, o amor que mantemos pelos modos de narrar populares, pelo linguajar informal e saboroso, a curiosidade que permite entrar na casa – e no quarto! – dos entrevistados deve muito ao caminho que ele abriu.'' 
Pedi para Lúcia um breve texto sobre o significa Coutinho, que segue abaixo.
Documentário brasileiro é herdeiro de Eduardo Coutinho
Santo Forte (1999), Babilônia 2000 (1999), Edifício Master (2002), Peões (2004), O Fim e o Princípio (2006) e tudo o que veio depois vi em salas de cinema, conforme estreavam ou passavam em festivais. Mas foi na faculdade, alguns anos antes, que conheci o cinema de Eduardo Coutinho. Se, naqueles anos 1990, eu ainda não tinha clareza do método revolucionário que cada filme dele ia lapidando, ao longo da década seguinte isso se tornou patente.
No mestrado, estudei parte da obra do cineasta, e sobretudo Cabra Marcado para Morrer. Estava interessada em momentos em que o personagem de um documentário se vê na tela. E é incrível a maneira como isso se dá quando Elizabeth Teixeira, a viúva do líder camponês João Pedro, se vê, dezoito anos depois das filmagens originais de Cabra…. Quando o cineasta a reencontra, ela havia mudado de nome e nem os filhos sabiam de seu paradeiro. Também durante o mestrado, pude ter a experiência de assistir a seus filmes fora do Brasil, de discuti-los em seminários na universidade (nas aulas de François Niney na Paris 3) e de confrontá-los com o trabalho de outros documentaristas, alguns deles oriundos do mesmo Idhec (Institut des hautes études cinématographiques, precursor da atual Fémis) em que Coutinho estudou. Estranhamente, só depois disso me dei conta de como a influência de Coutinho está presente no documentário brasileiro (e, em menor medida, também em alguns programas de televisão).
É como se Coutinho fosse a matriz de uma série de outros documentários e reportagens que, depois, se debruçaram sobre o saber popular, que se interessam não só pelas histórias mas pelo jeito tão peculiar que cada um tem de contá-las, que procuraram instituir uma relação de camaradagem com o entrevistado para, daí, deixar brotar a espontaneidade, o humor, a emoção.
Escritas às pressas, minhas frases dão conta de apenas uma pequena parte do trabalho fundamental que Coutinho veio desenhando ao longo das últimas décadas. Posso ter dado a impressão de que seu método se manteve constante o tempo todo. Não é verdade: poucos cineastas souberam, como ele, impor-se desafios novos constantemente, fazendo não só sua filmografia avançar, mas também a reflexão e a crítica.
Nesse sentido, Edifício Master marca o ápice do aprimoramento do método – ele em geral não participa das pré-entrevistas, mas vê todo o material gravado pela equipe antes de fazer sua própria entrevista, podendo assim unir o frescor da descoberta com uma pesquisa bem documentada. Coutinho nunca se acomodou, nunca deixou estratégia nenhuma se cristalizar. A guinada que deu com Jogo de Cena (2007) e Moscou (2009) é talvez a maior prova disso. Os dois filmes escancaram o flerte que todo documentário mantém com a ficção, colocando em risco as próprias categorias de “documentário” e de “ficção” e embarcando na forma ensaística e na teatralidade (sobre esse assunto, recomendo a leitura do excelente ensaio de Ismail Xavier, publicado na revista portuguesa Aniki e disponível aqui).
É preciso ser um pouco ator para fazer entrevistas, disse Coutinho, numa das vezes em que se viu na condição de entrevistado. Nos parágrafos anteriores, posso ainda ter dado a falsa impressão de que Coutinho inventou seu método do zero. Não é bem assim: ele foi em grande medida um herdeiro do cinema-verdade e do cinema-direto, tendo dialogado por exemplo com o francês Jean Rouch (1917-2004).
No documentário brasileiro, porém, o quase deslumbre, o amor que mantemos pelos modos de narrar populares, pelo linguajar informal e saboroso, a curiosidade que permite entrar na casa – e no quarto! – dos entrevistados deve muito ao caminho que ele abriu. Em 2006, enquanto digitalizava as fitas DV que havia gravado para meu primeiro documentário, me vi batendo papo com os entrevistados em cortiços, apartamentos de classe média e estabelecimentos comerciais do bairro dos Campos Elíseos, em São Paulo. Lá estávamos nós, na cozinha da Dona Leda, filmando o berço do filho caçula da Joelma e ainda o quarto da Dona Maria na Lavanderia Ibérica, enfim, tornando públicos momentos de intimidade.

Sim, também tenho uma dívida com Coutinho. Acredito que, embora as gerações seguintes tenham inventado e/ou precisem inventar formas próprias de fazer cinema, o método que ele criou está vivo em cada um de nós.
Fonte: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2014/02/03/documentario-brasileiro-e-herdeiro-de-eduardo-coutinho/


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http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/02/1415729-as-imperfeicoes-absolutamente-certas-de-eduardo-coutinho.shtml 
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http://cineclubecienciaemfoco.blogspot.com.br/2014/08/a-eloquencia-da-morte-entre-os-vivos.html
Ciência em Foco apresenta em setembro o filme Cabra marcado Para morrer (Brasil, 1984), de Eduardo Coutinho, seguido de uma conversa com César Guimarães, Doutor em Estudos Literários pela UFMG, professor do Departamento de Comunicação Social e integrante do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da FAFICH-UFMG.

O tema do debate, A experiência histórica e o Irreparável, proposto por Guimarães, ganha ressonância na vibrante narrativa do filme, que dedica atenção especial à violência que se abateu sobre os camponeses nordestinos e sua luta política, a partir da constituição da Ligas Camponesas, em fins da década de 1950 e início dos anos 60.

Rompe-se, porém, as fronteiras entre a filmagem documental e ficcional, uma vez que imagens realizadas por Coutinho para o projeto de um filme sobre a vida e morte do líder camponês João Pedro Teixeira, assassinado em 1962, são interrompidas pelo Golpe de 1964. Boa parte da equipe é presa e o material filmado é apreendido pelas forças policiais. Somente 17 anos depois, Coutinho retoma o projeto, agora usando a projeção de imagens sobreviventes daquela ficção elaborada em 1964, e as atualiza historicamente com o depoimento dos próprios personagens que viveram de perto a supressão de suas liberdades de organização e manifestação política e cultural. 

Como afirma o professor da UFMG, “o filme confronta o irreparável das vidas (que sobrevivem em imagens e sons) às forças políticas que procuraram destruí-las a todo custo”. Ganhador de inúmeros prêmios, Cabra marcado para morrer é, sem dúvida, a obra-prima de um dos maiores documentaristas brasileiros. 

Com entrada franca, esta apresentação no Ciência em Foco dialoga com a Mostra Eduardo Coutinho, na exposição “De Olho na Rua”, que permanece na Casa da Ciência até o dia 28 de setembro de 2014. (Mais detalhes sobre a exposição aqui.)

Cineclube Ciência em Foco: Jogo de cena, de Eduardo Coutinho

06/2 · Rio de JaneiroRJ
Casa da Ciência da UFRJ
Da confissão à autoficção - discussão que se segue à projeção
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gcg · Rio de Janeiro, RJ
29/1/2010 · 6 · 0
Nos facebook’s e em reality shows, entre tantos espaços virtuais que “visitamos”, a ficção parece estar embaralhada com a realidade. Somos pessoas “reais” e também personagens de nós mesmos. E muitos são os olhares curiosos que desejam percorrer essas novas modalidades de “vitrine”, na qual expomos os nossos corpos e os nossos feitos.

Na primeira edição do Ciência em Foco de 2010, a cineasta e doutoranda em Ciências da Comunicação pela USP Ilana Feldman discute um pouco desse cenário atual através do filme “Jogo de Cena” (Brasil, 2007), de Eduardo Coutinho. A sessão é gratuita e acontecerá dia 6 de fevereiro, às 16h.

“Jogo de Cena”, o décimo longa-metragem de Eduardo Coutinho, foi feito a partir de histórias de vida de mulheres reais, interpretadas por atrizes. Fala-se do aspecto autêntico e ao mesmo tempo performático das personagens. De acordo com o próprio cineasta, trata-se de um documentário “impuro” porque incorpora atrizes. Autenticidade e ficção também se misturam na palestra “Da confissão à autoficção”, de Ilana Feldman.

A proposta do Ciência em Foco, que acontece todo primeiro sábado do mês, é a de estimular a produção e circulação de novas ideias a partir da exibição de filmes e de debates com professores e pesquisadores. Desde a temporada no Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), entre 2004 e 2006, e com a edição de seu livro em 2008, o Ciência em Foco busca promover o pensamento a partir do cinema, estimulando o debate sobre a dimensão filosófica dos temas apresentados.

Cineclube Ciência em Foco -http://cineclubecienciaemfoco.blogspot.com

Filme: Jogo de Cena. 105 minutos. Exibição em DVD.

Faixa etária: Livre.

06/02/2010 – 16h

Palestra: "Da confissão à autoficção" por Ilana Feldman, cineasta e doutoranda em Ciências da Comunicação na USP.


SEGUNDA-FEIRA, 8 DE FEVEREIRO DE 2010

Verdade e ficção em cena

'Parece que eu estou mentindo para você...', diz Fernanda Torres para o diretor Eduardo Coutinho no filmeJogo de Cena (2007), que inaugurou a temporada 2010 do Ciência em Foco, no dia 6 de fevereiro. A frase deixa transparecer por um momento o intricado jogo que põe em evidência as tensões entre a verdade e a atuação no filme de Coutinho, um dos temas desenvolvidos pela nossa convidada do mês, Ilana Feldman, cineasta e doutoranda em Ciências da Comunicação na USP. Com a participação do público, repleto de questões, o debate se estendeu por diversos temas, e ela ainda trouxe trechos de outros recentes documentários que carregam propostas semelhantes, como Pan-Cinema Permanente (2008), de Carlos Nader, e Santiago (2007), de João Moreira Salles.

Foi uma ótima abertura de temporada, abrilhantada pela memorável participação-surpresa do próprio diretor Eduardo Coutinho, que apresentou o filme junto com Ilana Feldman antes da projeção. Ilana evocou a repercussão crítica de Jogo de Cena para destacar sua importância para a história do cinema documentário mundial, e, valendo-se do método do próprio Coutinho, aproveitou para entrevistá-lo com uma única pergunta, sobre o porquê da presença exclusiva de mulheres no filme. A presença de Coutinho cativou a plateia, que aplaudiu com efusão.

Nosso próximo encontro é no dia 6 de março, às 16h, quando será exibido o filme O Processo (1962), de Orson Welles, seguido da palestra A questão da finitude no cinema e na literatura, ministrada por Charles Feitosa, professor de filosofia da arte na UNIRIO. Continuem ligados no blog para mais notícias, e deixem também seus comentários.
























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