segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Rock Progressivo Italiano



http://consultoriadorock.blogspot.com.br/2011/02/uma-introducao-ao-rock-progressivo.html

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Por Fernando Bueno

O chamado rock progressivo ficou conhecido mundialmente a partir de inúmeras bandas clássicas como Yes, Genesis, King Crimson, Pink Floyd, Gentle Giant, Van der Graaf Generator, Emerson Lake and Palmer e muitas outras. Quando se fala em rock progressivo é muito provável que essas bandas citadas sejam as primeiras que venham à mente de todos, exceção feita apenas entre aqueles que sentem orgulho de só gostar de grupos obscuros. Porém, além do reconhecimento, esses nomes citados têm outro ponto em comum, a sua nacionalidade britânica.

É inegável que o rock progressivo da Grã-Bretanha seja o mais conhecido entre todos os amantes do estilo, uma vez que os medalhões são todos de lá. Isso também acontece com muitos dos subgêneros do rock. Porém a palavra que usei foi “conhecido”, pois para uma parcela dos fãs a vertente preferida vem de outro país, a Itália. Se existiu alguma outra nação que pôde na época confrontar os ingleses em termos de número e qualidade de bandas de rock progressivo, esses eram os italianos.

No final dos anos 60 a Itália ainda não tinha tradição dentro do rock em geral. Oclima político no país era pesado, já que a influência da ala esquerdista nos assuntos internos estava se tornando muito grande. Alguns grupos extremistas foram responsáveis por uma série de violentos ataques e desordem, em um período que ficou conhecido como “Anni di Piombo”, ou Anos de Chumbo. Essa turbulência política teve influências nos direcionamentos artísticos de diversas áreas. Os jovens estavam desejando mudanças e esse desejo atingiu dos compositores populares até alguns estudantes de conservatório, para ficarmos apenas na seara musical. O rock foi absorvido à cultura do país e logo se tornou símbolo de protesto do mesmo modo que aconteceu em diversos outros países. 

Aqueles que começarem a ouvir o rock progressivo italiano vão perceber logo no início que o estilo é cheio de nuances e peculiaridades e, no fim das contas, que a música desses grupos é o resultado de música clássica tocada como rock, diferente das bandas inglesas, como o Yes, que faziam o contrário, ou seja, tocavam rock à moda da música clássica. Outro modo de dizer é que na Itália foi o rock que influenciou o clássico e não o contrário. Outro ponto característico é o fato da música ter um grande caráter nacional, com elementos barrocos e também uma enorme influência das óperas. 

Na primeira audição o ouvinte não acostumado notará imediatamente outra peculiaridade, o idioma italiano. Sempre quando apresento alguma banda de RPI para alguém, a questão da língua é a primeira a ser comentada. Todos os fãs de rock estão habituados ao inglês e muitos não escutam música em outras línguas. Comparações como “não há samba em alemão ou japonês, do mesmo modo que rock tem que ser em inglês” são muito comuns. Para aqueles mais bitolados, talvez esta seja a maior barreira a ser vencida para se tornar um ouvinte do prog italiano, mas um pouquinho de cabeça aberta vai ajudar a vencer todos esses obstáculos.

Este texto é endereçado para aqueles que ainda não são familiarizados com o gênero. A ideia é ajudar o interessado a conhecer e saber por onde iniciar. E nada melhor do que começar pelas bandas mais importantes. Afinal, elas são importantes acima de tudo pela sua qualidade musical. Dentre os inúmeros grupos desse país existem três que podem ser chamadas de “a santíssima trindade do rock progressivo italiano”, do mesmo jeito que o Deep Purple, o Led Zeppelin e Black Sabbath são frequentemente conhecidas como a “santíssima trindade do rock”. Essas bandas são: Premiata Forneria Marconi, Banco Del Mutuo Soccorso e Le Orme.

Nesta primeira oportunidade para falar a respeito do assunto, listarei cinco álbuns dessas três grandes bandas que serão um ótimo cartão de visitas para essa vertente musical tão importante. No futuro poderemos enveredar por outros caminhos, outras bandas menos conhecidas, porém também importantes, além daquelas mais obscuras que fazem a cabeça de todo entusiasta. Não posso deixar de falar que a intenção não é listar os cinco melhores discos do estilo e sim bons álbuns para iniciar-se, conhecer as bandas e certamente começar a se aprofundar. Espero que essas dicas sejam aceitas por muitos e já aviso, esse é um caminho sem volta, uma vez fã não há como deixar de sê-lo.  

Premiata Forneria Marconi – Storia de Um Minuto [1972]

Esse foi o primeiro álbum que escutei de RPI. Foi um enorme choque para mim apesar de na época eu já ouvir muito rock progressivo, mas estava acostumado com os discos dos medalhões britânicos. A sonoridade, o som focado mais nas melodias do que em riffs, os silêncios no meio da música e principalmente a voz foi o que me chamou a atenção. Mesmo estranhando, em um primeiro momento é impossível não reconhecer a boa música feita pela banda. “Impressione di Settembre” é talvez a música que define o progressivo italiano com suas viagens de mellotron. “Dove...Quando... (Parte 1)” é mais leve e calma enquanto “Dove...Quando...(Parte 2)” é totalmente jazzística da mesma forma que "Grazie Davvero",  que é a música mais difícil de se ouvir num primeiro momento. “É Festa” lembra um pouco “Hocus Pocus” dos holandeses do Focus. E para quem gosta de King Crimson e Genesis do início de suas carreiras vai gostar de “La Carrozza Di Hans". Excelente disco para começar a jornada no RPI.


Le Orme – Felona e Sorona [1973]

Álbum conceitual sobre dois planetas gêmeos Felona e Sorona que ficam nos extremos do cosmos para manter o equilíbrio do universo. Viagem? Pode ser, mas a viagem musical que ajuda a contar essa história é o que vale a pena. O trio é baseado nos teclados fazendo as comparações com o ELP um tanto óbvias. Até a presença das guitarras é utilizada em poucas passagens, assim como nos discos dos ingleses. O final do disco tem um gran finale maravilhoso. Talvez o som do disco pudesse ser um pouco melhor. Às vezes parece que ele é magrinho, mas é perceptível que trata-se nada mais do que falta de uma gravação, uma produção ou até de um estúdio melhores. Mas isso não atrapalha a audição dessa que é uma das obras primas do RPI. Esse disco foi também regravado em uma versão em inglês (Felona and Sorona) e o responsável pela tradução e adaptação foi nada menos que Peter Hammil do Van der Graaf Generator, que na época era tratado como messias na Itália. Porém, se você puder escolher, ouça na língua original. A versão em inglês não ficou tão boa quanto a italiana.


Banco Del Mutuo Soccorso – Darwin [1972]

Já li um crítico falar que encontra nesse álbum a melhor mistura entre a complexidade e beleza musical. Dentre as três bandas citadas aqui, essa é a que menos gosto, e para ser sincero é a que menos conheço também. Por outro lado, considero esse disco o melhor já feito no estilo. Eu falei que “Impressione di Settembre” do PFM define o estilo, mas “L’Evoluzione” é provavelmente a melhor música feita por uma banda italiana entre todos os estilos. Quase 14 minutos de teclados maravilhosos, guitarras delirantes e a voz fantástica de Francesco DiGiacomo. Falando dos teclados, podemos identificar um pouco de Emerson Lake and Palmer em algumas passagens, mas a originalidade da banda é notável, estão longe de ser meras cópias. Escutem “750.000 Anni Fa....L’Amore” e “Miserere Allá Storia” e se deliciem com a dramaticidade da voz e percebam porque eu disse no início do texto que as bandas italianas têm influencia de ópera. Disco fantástico, mas se alguém se interessou e nunca ouviu o RPI sugiro começar por algum dos discos do PFM e aí sim ouvir esse.


Premiata Forneria Marconi – Per Un Amico [1972]

Esse disco, junto ao Storia Di Un Minuto eL’Isolda Di Niente são os preferidos dos fãs do Premiata Forneria Marconi. Possui uma variação que vai dos violões acústicos e guitarras limpas a passagens pesadas de mellotron, isso sem esquecer das flautas, pianos, violinos e outros instrumentos. Aliás, é uma característica de várias bandas no RPI o fato de seus integrantes serem multiinstrumentistas. Foi lançado no mesmo ano que Storia Di Un Minuto e é mais complexo que este primeiro. “Apenna Un Po” tem influências claras de Emerson Lake and Palmer e Gentle Giant enquanto “Il Banchetto” assemelha-se muito aos trabalhos de voz de Crosby, Stills, Nash and Young. Um ano depois eles regravaram algumas músicas desse álbum juntamente com algumas do primeiro para o álbum Photos of Ghosts, cuja tradução foi feita por Peter Sinfield, que na época era letrista do King Crimson. Porém, não se trata de apenas uma simples tradução, mas de praticamente uma nova criação, matando o espírito das músicas segundo alguns. Na audição dessas músicas em inglês chama a atenção o sotaque carregado na interpretação dos italianos.


Le Orme – Elementi [2001]

Depois de muitos anos parados, a banda voltou em 1996 com um disco fraco chamado Il Fiume, mas em 2001 eles gravaram um disco que certamente faz jus ao material lançado nos anos 70. Porém, eles não se copiaram ou tentaram manter uma fórmula. Fizeram um disco moderno, com efeitos modernos, mas com o clima dos melhores discos do RPI setentista. Elementi fala dos quatro elementos: água, fogo, terra e ar. As 14 músicas do álbum são divididas em quatro partes, cada uma delas falando de um desses elementos. Cada parte possui uma identidade, mas quando você ouve o disco todo percebe que ele tem uma unidade incrível. Algumas melodias são repetidas em várias músicas apenas com variação do tempo ou ritmo, expediente muito utilizado no progressivo em geral, principalmente em álbuns conceituais. O resultado dessa unidade entre as músicas é certamente proposital, afinal temos que levar em consideração que o disco fala sobre os quatro elementos que, segundo os pesquisadores antigos, eram a base de todas as outras coisas da terra. Então a unidade entre os elementos, e no caso as músicas, deveria ser esperada. Resumindo, é o melhor disco de RPI lançado depois de 1979.

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  1. Belíssimo texto, Bueno! Mas que sirva realmente como "introdução" e "começo de uma série", pois um post só sobre o prog italiano é muito pouco.

    Realmente as bandas escolhidas são as mais representativas do estilo, mas nem por isso são as melhores. Tem muita "banda de um disco só" (ou no máximo dois)que fez um trabalho maravilhoso. Quero ler sobre elas, combinado?

    É interessante notar que a Itália dava muito valor a algumas bandas prog que na Inglaterra não conseguiam o mesmo destaque, como o Van Der Graaf e o King Crimson, que eram Deuses no país da bota mas apenas "mais um" na ilha britânica...

    E também que na Itália o instrumento mais "presente" nas músicas era o teclado, com a guitarra quase sempre em segundo plano ou ausente mesmo, muitas vezes substituída pelo violão... Talvez por essa falta da guitarra (que daria uma pegada mais "roqueira" à música), além das letras em italiano, que tanta gente tenha dificuldade em assimilar o progressivo da Itália...

    E, das citadas, minha preferida sem dúvida é o PFM, pelo menos até o disco "Cook" (ou "Live in USA"). Depois fica um pouco mais difícil de encarar...

    Agora que venham Quella Vecchia Locanda, Museo Rosenbach, Terra In Bocca, Formula 3, Generazioni, Malibran e tantos outros...
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  2. Uma das minhas grandes vergonhas musicais é o quase nulo conhecimento sobre o rock progressivo italiano. Se é que ele se encaixa bem nesse rótulo, conheço bem dizer apenas o Goblin, devido às trilhas sonoras de filmes como os do cineasta italiano Dario Argento.
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  3. Micael
    Pode deixar que teremos pelo menos uma segunda parte. Muitas dessas características que vc citou também serão abordados.
    Diogo
    O Goblin foi uma banda que conseguiu se diferenciar na cena exatamente por trabalhar com as trilhas. Mas muita gene não tem paciência de ouvir trilhas...Eu mesmo não gosto...
    Só gosto da trilha do "O Exorcista"....que na verdade é o disco Tubular Bells do monstro Mike Oldfield...
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  4. As orelhas de Ennio Morricone estão queimando neste exato momento!!!
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  5. Muito bom, Fernando. Parabéns! E muito pertinente em algumas questões.
    Os ingleses criaram o futebol e nem por isso batem a melhor bola do mundo. Criaram também o rock progressivo e algumas de suas bandas permanecem insuperáveis no estilo. Mas ao criar o prog, mostraram as regras do jogo, aquela mistura de clássico e folk ao rock e ao jazz. Ora, cada país europeu tem sua própria escola erudita, desenvolvida de acordo com a alma e a personalidade de cada povo. Cada um deles tem também sua tradição folk. Então é mais do que natural que apresente sonoridades próprias (não só no progressivo) e enriqueça, cada um do seu jeito, o estilo como um todo. A questão da voz é fascinante. Ela não apenas revela uma mensagem, é também um instrumento. E quando se expressa em seu próprio idioma, torna-se talvez o instrumento mais nobre e característico de um país.
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  6. Realmente Marco...
    Os ingleses criaram o futebol, mas quem joga mesmo é um time brasileiro com inspirações inglesas...
    Abraços
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  7. MInha querida amiga Lola acaba de me dizer que adorou . PArabéns pela materia
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  8. Parabéns, Fernando. Legal as informações sobre a época, deu pra dar uma ideia do contexto de produção dessa grande cena italina.
    No entanto discordo um pouco das indicações. PFM e Banco foram bem indicados, mas discordo do Le Orme. Colocaria tanto pela importância, quanto pela qualidade o Zarathustra do Museo Rosembach,que é quase unanimidade quando se fala de melhor disco de PI. Outro que poria era o Il Balletto di Bronzo com o disco Ys, um discaço pesado e desafiador perfeito para se introduzir no prog italiano. Se fosse citar um disco do Orme, citaria o Uomo di Pezza de 1972.
    Outros discos recomendados:
    Banco - Io Sono Nato Libero
    Il Roveschio Della Medaglia - Contaminazione
    Il Bacio Della Medusa - Discesa Agl'inferi D'un Giovane Amante
    Semiramis - Dedicato A Frazz
    PFM - L'isola Di Niente
    Area - Arbeit Macht Frei
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  9. Leandro, acho que a intenção era falar dos mais populares no primeiro momento, deixando as bandas mais obscuras (no sentido de "menos conhecidas") para um segundo momento, por isso a não inclusão do Museo Rosembach ou do Il Balletto di Bronzo, nem mesmo do Quella Vecchia Locanda, que eu gosto pra carmaba...

    Se bem que o Area podia mesmo ter aparecido... mas é só o primeiro post de uma série, vamos aguardar.
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  10. Eu iria falar exatamente isso Micael...
    Valeu
    O problema é que o próximo post vai acabar ficando sem surpresas de tanto que são citadas bandas aqui...hehehe.
    Por isso a segunda parte terá um critério diferente para apresentar os discos...
    Esperem
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  11. Blz, Micael. Acho que ele quis falar dos discos mais polulares mesmo e não dos melhores. Sendo assim, é por ai mesmo. Mas o Zarathustra é pra mim e pra muitos o melhor disco do prog italiano. Esse disco merece um post só dele devido a sua musicalidade e temática polêmica.
    Abs
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  12. Legal o tópico, hein, Bueno? Já tô pegando todos esses álbuns pra dar uma reouvida! [Menos o Elementi, que vc me indica faz tempo e eu nem aí... xD]
    Zarathustra é realmente muito bom, mas ninguém bate o Banco del Mutuo Soccorso em Darwin! Aliás, o Banco é minha banda favorita de prog italiano! Fico na dúvida apenas quanto à melhor música, se é a citada "750.000 Anni Fa...L'Amore" ou "Metamorfosi", suite fantástica que os caras conseguiram fazer já no primeiro disco!
    Não acho que o prog italiano bata o inglês. São bandas absurdamente ricas mas que não me parecem diferenciar-se o suficiente cada uma das demais.
    Quanto ao Goblin, eu não gostei muito da trilha de Profondo Rosso, pq o filme é fudidamente massa, e a trilha não é lá muito aterrorizante... Mas devo levar em conta que ela foi na verdade composta por otro cara, que não lembro o nome agora.
    Uma banda de um disco só que eu gosto PAKAS é o Murple, mas acho que o disco Io Sono Murple entra na sessão "Discos que parece que só eu gosto"! xD
    Parabéns pela matéria.
    P.S.: Deep Purple, Led Zeppelin e Black Sabbath não são a santíssima trindade do rock! =P
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  13. Vale lembrar que o progressivo italiano continua vivo e muito bem representado por "sangue novo" através de bandas como Moongarden, Pandora, Ubi Maior, Il Ballo Delle Castagne, Il Castello Di Atlante e muitos outros. Parabéns pelo texto.
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  14. KCarão
    Dos anos 70 e do que veio depois é essa a santissima trindade, mas sei que vc falou isso por que acha que esse título deveria ir para The Beatles, Rolling Stones e The Who...

    Prgmaniac
    Eu não conheço nada do atual prog italiano. O último disco que escutei foi o Elementi que entrou na matéria...
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  15. E por que não Elvis, Chuck Berry e Jerry Lee Lewis? Ou Yes, ELP e Genesis? Ou Nirvana, Pearl Jam e Mudhoney? Ou Oasis, Blur e Sued? Ou Sex Pistols, Jam e Clash? Ou Roberto, Erasmo e Wandeca? Afinal, cada crença tem a sua santíssima trindade.
    Responder
  16. Bueno, acho que a mais convencionada é essa, sim: Stones-Beatles-Who. Menos entre os metaleiros acéfalos como você! xD [Pura brincadeira, gente..]
    Mas tô mais pro que o Gaspari disse. Essas convenções, essas 'grandes verdades', essa linha única da história da música, isso tudo é um saco! MINHA Santíssima Trindade são o Yes, o Magma e o Pink Floyd, com menção honrosa aos Rolling Stones, como Lúcifer.
    P.S.: Na primeira trindade que o Gaspari citou, eu substituiria Elvis pelo Little Richard!
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  17. Excelente texto, Fernando. Gostei muito da comparação que vc fez, tocar rock como clássico ou clássico como rock. Aprecio bastante o som das bandas italianas, e acho que de fato msm, essas três são a trindade da Itália - PFM, Banco e Le Orme, até pq são umas das poucas que tiveram um carreira mais consistente e longa, numa cena onde a maioria das bandas gravou apenas um, ou no máximo dois discos. Agora os italianos tem uns pontos comuns no seu som que as vezes me soam como certos clichês, uma coisa meio enjoativo, tipo esse uso extensivo do violão quase sempre da mesma forma, as técnicas de vocal e um certo estilo de composição. As minhas italianas favoritas são justamente as que conseguem fugir dessas características comuns do RPI, o Osanna, Goblin, Arti & Mestieri, Area, Etna, Flea, Il Balleto di Bronzo, etc...
    Abraço!
    Ronaldo
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  18. Atualmente minha santissima trindade é: Gov´t Mule - Outlaws - Lynyrd Skynyrd.... na semana passada era Free - Toad - Patto.... estas coisas mudam de acordo com o espirito e o humor....

    Abraços
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  19. A minha eterna santíssima trindade é Iron Maiden, Van Der Graaf Generator e Queen.
    Responder
  20. Bem eclética essa sua trindade hein, Leandro...
    Acho que a discussão está dispersando. A matéria não se trata da ST...e sim do RPI. Alguem aí seguiu as indicações e ouviu os discos? Para os "iniciados" esses discos poder ser óbvios, apesar do Elementi não ser nada obvio, mas gostaria de saber dos que nunca tinham ouvido nada.
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  21. Da minha parte como "iniciado", apesar de precisar ainda conhecer muita coisa, digo que esses discos são fantásticos, exceto o Elementi que eu não conheço.
    Desses ai eu prefiro o Storia de Um Minuto. Discaço!!!
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  22. Tem algum blog que contenha os discos...pra facilitar ???

    Grande abraço
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  23. Esses disco ai são fáceis de se achar no google. Mas tem um blog q tem muita coisa boa:
    http://oldishpsychprog.ucoz.com
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  24. Muitissimo Obrigado !!!!
    Sou absolutamente analfabeto em prog italiano... irei utilizar a lista pra conhecer o ABC da cena....
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  25. Muito legal. Sou fã-zaço de RPI, e tive a oportunidade de ouvir muita banda boa na minha passagem pela Itália. Eu sou daqueles que prefiro as bandas mais obscuras, como La Seconda Genesi, Murple, Alphataurus, Panna Fredda, Formula 3, Il Baricentro, Museo Rochembach entre outros, mas nao da para negar o poder da PFM ou do Banco. Apenas discordo sobre o melhor disco de RPI lançado depois de 79. Acho o Passportu um discaço. Preciso ouvir melhor o Elementi

    Parabens fernando, e quem sabe sai um rock progressivo brasileiro em breve!
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  26. Alphataurus, boa lembrança. Mas discordo que Museo Rosenbach seja obscuro. Pra quem curte prog italiano, é uma das pricipais bandas.
    Dos obscuros gosto do Raccomandata Ricevuta Ritorno, excelente banda!Recomendo o disco de 1972, Per... Un Mondo Di Cristallo.
    Responder
  27. Outras bandas que tb admiro

    Ultima Spiaggia - varios discos bons
    Reale accademia di musica - realle accademia di musica
    Blocco mentale - pioa
    Capitolo 6 - Frutti Per Kagua
    Juri Camisasca - La Finestra Dentro
    Il Canzoniere Del Lazio - Quando Nascesti Tune
    Jacula - In Cauda Semper Stat Venenum
    Jumbo - Vietato Ai Minori Di 18 Anni

    E por ai vai

    A frança tb tinha altas bandas prog, como Malicorne, Ange e Cano
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  28. Anotando aqui as que não conheço.
    O Jacula é bem diferente devido à atmosfera macabra.
    Tem também as bandas italianas mais hard como Campo di Marte, Corte Dei Miracoli, Il Rovescio della Medaglia, Biglietto per L' Inferno...
    Responder


Por Fernando Bueno (publicado originalmente em 26 de fevereiro de 2011)
 
Depois de ter indicado cinco álbuns para se iniciar no rock progressivo italiano, apresento esta segunda parte com mais cinco discos importantes e bastante representativos do estilo. O critério utilizado para a escolha dessas obras será apresentado no decorrer do texto. Porém, com o intuito de adicionar informações contidas na primeira parte serão citadas mais algumas características próprias da cena e das bandas italianas. Para quem não leu a primeira parte clique aqui.
 
A Itália no começo dos anos 70 era um caldeirão efervescente de músicos, idéias e, como comentado anteriormente, de divergências políticas. Os partidos de esquerda estavam se levantando contra os de situação e havia muitas manifestações pelas ruas. Alguns desses partidos organizavam comícios, e uma forma de atrair público, especialmente o público jovem, era o de contar com apresentações musicais. Esses comícios duravam horas, e se pareciam muito com os festivais. A diferença é que no lugar de algumas bandas existiam discursos. Com isso muitos desses músicos acabaram sendo relacionadas à certos partidos, mesmo quando não partilhavam dos mesmos conceitos. A intenção dos grupos era estar presente, e o espaço oferecido não podia ser desprezado.
 
Bandas de outros países se apresentavam frequentemente na Itália, como o King Crimson, que certa vez literalmente fugiu do palco por causa de manifestantes políticos, e o Van der Graaf Generator. Essa última tinha um sucesso tão grande na Itália que teve o seu disco Pawn Hearts (1971) figurando na primeira colocação da parada italiana durante muitas semanas, além do fato de seu líder, Peter Hammil, ser tratado com extrema adoração pelos italianos. É realmente surpreendente conhecermos essas informações, afinal nem mesmo na Inglaterra isso era possível. Algumas bandas faziam mais turnês na Itália do que na Inglaterra ou qualquer outro país simplesmente porque seus shows na península itálica lotavam, diferente do seu país natal.
 
As bandas italianas tinham o costume de utilizarem mais de um tipo de teclado na mesma música e durante os discos. Além do mellotron, do hammond, do moog e outros, o piano e o órgão também eram empregados a serviço da criatividade dos músicos, muitos deles multiinstrumentistas. Era normal o baterista ir para o teclado, ou para algum instrumento de sopro, e o mesmo acontecia com guitarrista, baixista, etc. As guitarras como são usadas no rock não eram tão evidentes, sendo substituídas pelo violão ou mesmo pela própria guitarra sem efeito algum. Cabe aqui comentar sobre a utilização das flautas. Todas as bandas que utilizam esse instrumento são logo relacionadas com o Jethro Tull, mesmo que seu som não seja em nada parecido com eles. Depois de ouvir o RPI essa associação acaba. Já que quase todas as bandas fazem uso das flautas, assim como de vários outros instrumentos de sopro. 
 
A cena italiana era tão grande na época que talvez esse seja exatamente o motivo de seu rápido declínio. Com um grande número de bandas lançando material, outras estrangeiras fazendo shows e também lançando discos, os italianos tinham que fazer um esforço enorme para conseguirem um lugar ao sol. O público do país também tinha que fazer um esforço tremendo, principalmente financeiro, para ficar por dentro das novidades. Imagine-se um fã de rock progressivo no começo dos anos setenta com os mesmos interesses que você tem hoje. Ou seja, você gosta de várias bandas inglesas além das italianas, eventualmente algumas alemães e uma francesa. Com todos esses grupos lançando discos uma vez ao ano, imagine a grana que você teria que gastar para adquirir e ouvir tudo isso. Temos que ter em mente que na época nem fitas cassete existiam, então se você fosse escutar algo tinha que ser do LP ou das rádios. Bandas novas dificilmente tocavam nas rádios, e, além do mais, o início da década de 70 foi talvez a época mais prolífica da história do rock em geral. Concluindo, para uma banda nova era muito difícil conseguir gravar um disco, e muito mais difícil ainda conseguir ganhar dinheiro com isso.
 
Então, finalizando essa introdução e considerando o parágrafo anterior, cito agora cinco discos de bandas que por todos os motivos descritos acima lançaram apenas um álbum durante o período de ouro do RPI. Falo desse período porque algumas delas até lançaram um segundo álbum depois de muitos anos, mas isso se deve ao sucesso tardio que essas obras tiveram, fazendo com que os músicos se reunissem novamente para fazer alguns shows para prestar tributo a esses discos e eventualmente gravar um novo. Algumas dessas reuniões, que ocorreram somente a partir dos anos 90, foram feitas ainda com poucos componentes originais. Menção honrosa ao Alphataurus e ao Campo Di Marte que lançaram em 1973 discos homônimos, mas como tinha que escolher apenas cinco discos, esses tiveram que ficar de fora.
 
 
Biglieto Per l’Inferno – Biglieto Per l’Inferno [1974]
 
Bastante diverso o universo sonoro do Biglieto Per l’Inferno, que significa “bilhete para o inferno”. Apesar do nome, não têm ligação alguma com o lado do mal, tendo sua letras relacionados a temas sociais e psicológicos. Musicalmente eles vão da calmaria para a tempestade em poucos segundos, mas de uma maneira tão natural que impressiona, assim como a habilidade musical dos componentes. Eles chegaram a gravar um segundo álbum em 1975 chamado Il Tempo Della Semina, mas que não foi lançado na época, saindo em CD apenas em 1992. A curiosidade é que, após a separação em 1975, Claudio Canalli, voz e flauta, foi viver como um monge em um monastério na região da Toscana. Como muitas bandas, eles retornaram há poucos anos, com uma formação de nove (!) componentes, sem Claudio Canalli, e estão fazendo alguns shows, gravaram um álbum ao vivo em 2005 e um terceiro álbum Tra l’Assurdo e La Ragione (2009).
 
 
Buon Vecchio Charlie – Buon Vecchio Charlie [1972]
 
A banda se separou logo após a gravação do disco, certamente por falta de apoio para a promoção do álbum. Todos os componentes continuaram carreiras artísticas, sendo que três deles, Luigi Calabrò (guitarra), Rino Sangiorgio (bateria) e Paolo Damiani (baixo) formaram o Bauhaus (não confundir com o grupo britânico de gothic rock) que abusava ainda mais da influência de Miles Davis que já aparecia ao longo de todo esse álbum. O disco inicia com “Venite Giù Al Fiume” usando uma melodia já utilizada por Lucifer’s Friend e Helloween de um clássico da música erudita chamado “In the Hall of the Mountain King”, de Edward Grieg, que prepara para uma jam muito interessante. “All’Uomo Che Racccoglie I Cartoni” tem tantas mudanças de andamento que pode confundir um ouvinte menos interessado e acostumado, mas após algumas audições o prazer é garantido.
 
 
Semíramis – Dedicato a Frazz [1973]
 
O título desse disco, que significa “dedicado à loucura”, descreve muito bem o som que sai das caixas de som ou dos fones de ouvido, dependendo de como você costuma ouvir suas músicas. O uso de instrumentos variados é a tônica do álbum, sendo que o que mais chama atenção é o xilofone, além dos sintetizadores, como por exemplo na faixa “Uno Zoo di Vetro”. Quando descobri que foi gravado por adolescentes e que Michele Zarillo, guitarrista e vocalista, na época tinha apenas dezesseis anos, fiquei impressionado. “Per Una Strada Affollata” tem uma passagem de guitarra, baixo e sintetizadores muito legal, fazendo com que você torça para que a música não acabe nunca. Mas os dois maiores destaques são “Dietro Una Porta di Carta” e “Frazz”. Porém, esse é um álbum difícil de assimilar. É preciso um pouco de insistência para isso. É bom estar bem habituado à sonoridade do estilo. 
 
 
Maxophone – Maxophone [1975]
 
A banda foi formada em 1972, mas só conseguiram lançar esse disco três anos depois, já estando o grupo dissolvido. Foi também gravado em inglês, mas nunca ouvi essa versão. O disco inicia e você tem a impressão de que pegou um disco de algum pianista clássico até a entrada das guitarras distorcidas, mas logo depois a música volta à calmaria novamente com Alberto Ravasini cantando com o piano ao fundo e à medida que o tempo vai passando os outros instrumentos vão ficando mais nítidos em uma das canções mais bonitas do RPI, “C’è Un Paese Al Mondo”. “Fase” tem uma introdução que lembra as bandas de hard rock do fim dos anos sessenta com um riff bem cadenciado, mas não se engane, a faixa, que é instrumental, se torna um jazz rock bem criativo com algumas influências clássicas. A parte das guitarras lembra um disco solo de Jan Akkerman do Focus. O uso de diversos instrumentos é uma constante durante todo o álbum e a impressão que nos dá é que as influência estrangeira é mais evidente na banda do que em outras da Itália. Esse disco rivaliza muitas vezes com oZarathustra como o melhor disco de prog italiano. Para falar a verdade eu mesmo gosto mais dele.
 
Museo Rosenbach – Zarathustra [1973]
 
O Museo Rosenbach é um fenômeno. Mesmo com apenas um disco lançado na época, é uma lenda entre os admiradores do RPI. Esse disco é frequentemente citado como o melhor do gênero e é obrigatório para todos aqueles que se interessam pelo estilo. Zarathustra é um álbum conceitual influenciado por Nietzsche. Foram muito criticados e até perseguidos por acharem que o disco fazia alusão e apoio ao facismo. Como não entendo muito de italiano não posso opinar em relação à isso e ainda não encontrei um “letras traduzidas” do álbum. A capa também é criticada pelo mesmo motivo. Como toda obra muito conhecida e cultuada, sempre aparece alguém para falar mal. Certa vez li que esse disco não passava de rock normal com adição de mellotron, o que é pura bobagem. A faixa de abertura, “Zarathustra” é divida em várias partes e tem muitas características floydianas, que me lembram muito “Atom Heart Mother”. No LP a faixa título tomava todo o lado A com seus vinte minutos de duração. Chama a atenção, principalmente em “Della Natura” o trabalho de bateria de Giancarlo Golzi, muito parecido com o que Carl Palmer fazia, com diversas viradas e variações. “Dell‘Eterno Ritorno” apresenta Stefano Lupo Galifi cantando de uma forma agressiva, o que não é normal no RPI. Aos que se interessarem e quiserem adquirir o LP, já adianto que os valores que encontrarão são um pouco salgados. Esse é um caso no qual um relançamento com uma boa remasterização traria felicidade para muita gente.  


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 os textos que fiz sobre o rock progressivo italiano em que apresento na primeira parte discos dos medalhões do estilo (Premiata Forneria Marconi, Banco Del Mutuo Soccorso e Le Orme) e na segunda algumas bandas de um disco só (Bliglieto Per I’Inferno, Buon Vecchio Charlie, Semiramis, Maxophone e Museo Rosenbach). Pedi para republicar esses textos porque há um bom tempo tenho a intenção de fazer uma terceira parte e isso não só me serviria com um estímulo, como também refrescaria a mente dos nossos leitores.
No decorrer dos textos eu comento que um dos entraves para que as bandas italianas fizessem mais sucesso é o fato de eles insistirem em sua língua natal. Claro que isso é uma bobagem, mas sabemos que ainda existem aqueles que não se interessam por música que não seja em inglês. Os músicos perceberam o obstáculo causado pelo idioma e acharam que se o alterassem para o inglês poderiam conquistar mais mercados e principalmente a Meca do rock progressivo, a Inglaterra.
Assim, as bandas italianas da época começaram a, primeiramente, fazer versões de seus lançamentos nas duas línguas. O Le Orme usou desse expediente desde os primeiros singles ainda em uma época que nem podemos classificar seu som como progressivo. Em 1967 o single para “Fiori e Colori” teve uma versão lançada pouco tempo depois como “Flowers and Colours”. No ano seguinte “Senti L’estate Che Torna” também foi lançada em single e sua versão em inglês chamou-se “Summer Comin’”. O exemplo mais conhecido do Le Orme foi a versão para o inglês de Felona e Sorona, clássico gravado em 1973, que teve sua versão traduzida para o inglês feita por Peter Hammil. O disco em inglês, agora chamado de Felona And Sorona, não obteve tanto sucesso já que tanto Aldo Tagliapietra não conseguiu repetir a mesma atuação do disco em italiano quanto Hammil não teve sucesso em transferir todos os significados das letras.
Temos vários outros exemplos. O Premiata Forneria Marconi fez de Photos of Ghost a versão inglesa de Per um Amico e o irmão inglês para L’isola di Niente foi The World Became the World. Aquele único disco autointitulado do Maxophone também teve sua versão o mesmo acontecendo com alguns álbuns de Franco Battiato.
A curiosidade é que o contrário também ocorreu, ou seja, bandas de outras nacionalidades também chegaram a gravar em italiano. Não álbuns completos, mas alguns singles como o “Il Tuo Diamante” (1969) dos ingleses do Procol Harum em uma versão latina para “Shine on Brightly”. O mesmo ocorreu com os gregos, então radicados na França, do Aphrodite’s Child que gravaram, também em 1969, o single “Lontano Dagli Occi”, que ainda tinha como lado B “Quando L’Amore Diventa Poesia”.
Como muitos que freqüentam o nosso site, tenho o inglês como minha segunda língua e atualmente podemos fazer contato com praticamente o mundo todo com o idioma. Assim aprender um terceiro idioma é algo que talvez não seja tão necessário a não ser que você trabalhe em multinacionais estrangeiras que te incentivem (ou exijam) isso. Particularmente tenho muita vontade de aprender o italiano porque acho a sonoridade da língua muito agradável e também porque sou fã da história do país. Também gosto da melodia da língua muito agradável e me divirto com os nomes de diversas dessas bandas. Desse modo selecionei cinco discos legais gravados por bandas de nomes espirituosos que só o idioma italiano poderia ter. Lembrando que alguma bandas com nomes assim como o Premiata Forneria Marconi, o Banco Del Mutuo Soccorso, Bliglieto Per I’Inferno e Buon Vecchio Charlie já foram citados nas duas primeiras partes e não estarão presentes dessa vez.
 
De De Lind – Io Non So Da Dove Vengo E Non So Dove Mai Andrò, Uomo è Il Nome Che Mi Han Dato (1972)
Mais uma das bandas italianas de apenas um disco, algo mais do que comum como vocês podem ver na segunda parte dessa série de textos. Vocês devem ter percebido que meu critério de escolher pelo nome da banda nesse caso não foi utilizado (e logo na primeira vez), mas um álbum com um nome desses tinha que entrar já que o tema é justamente o idioma. Seu nome é baseado em uma coelhinha da Playboy do longínquo ano de 1967 e o título do álbum significa “Eu não sei de onde vim e não sei onde vou, homem é o nome que me deram”. O interessante do De De Lind é que, ao contrário das outras bandas que possui os teclados como base de seu som, aqui são as guitarras que comandam, dando até um tom hard para o grupo. O tecladista/flautista Gilberto Trama acaba utilizando a flauta muito mais do que as teclas dando um clima folk ao som. O trecho final de “Paura Del Niente” só com a flauta é uma maravilha. Lembrando um pouco o modo que o Lucifer Was utiliza o instrumento, que é acompanhando os riffs da guitarra. Na abertura sinistra de “Fuga e Morte” utiliza-se de um tímpano, pouco comum no rock em geral, dando um peso interessante. Algumas faixas fogem um pouco do convencional como em “Paura Del Niente” porém acho que exatamente nessas músicas que encontramos o mais interessante do De De Lind.
 
Quella Vecchia Locanda – Quella Vecchia Locanda (1972)
É um praxe citar o Jethro Tull quando se ouve a flauta no rock. Em muitos casos a semelhança é apenas pelo uso de tal instrumento, mas aqui musicalmente também é adequada a comparação. O violino também é utilizado de uma maneira bem característica da banda como se pode notar na introdução de “Um Villaggio, Um’Illusione” em mais um exemplo de como a música clássica tem uma importância vital no progressivo italiano. O curioso é que o violinista do grupo é um estrangeiro, o americano Donald Lax. Outra característica da Velha Estalagem são as faixas mais curtas tornando a audição, principalmente as primeiras, muito mais fácil. Em “Realta” são as melodias vocais que saltam aos olhos, na verdade aos ouvidos. Já falei das flautas, das vozes e do violino e não poderia deixar de citar os sintetizadores que dão um ar mais moderno ao som do Quella Vecchia Locanda quando comparamos com outras da mesma época. Na faixa de abertura, na psicodélica “Il Cieco” e principalmente em “Dialogo” é onde isso se mostra mais evidente. Para fechar a lindíssima “Sogno, Risveglio E…”. Poderia ser uma peça de algum músico erudito dos séculos passado. Aliás, é capaz de muita gente achar isso mesmo ao ouvir sem saber do que se trata. São apenas dois discos, mas o Quella Vecchia Locanda pode se tornar a banda preferida do estilo para muitos.
 
Il Rovescio Della Medaglia – Contaminazione (1973)
Este foi o último disco que decidi que entraria nessa lista e tabém o que conheço há menos tempo. “Absent for this Consumed World” é uma pequena introdução para “Ora non Ricordo Piú”, que é quase uma antecipação da new wave que viria a ser praga alguns anos depois. O álbum foi gravado em conjunto com uma orquestra sinfônica e teve na entrada do tecladista Franco Di Sabbatino uma aproximação maior à música clássica, já que nos dois primeiros discos a banda se aproximava muito do que o Deep Purple fazia na época. Também tiveram a ajuda do compositor argentino Luiz Enriquez Bacalov para fazer Contaminazione e seu título é uma referência à “contaminação” que a música clássica sofreu com a convivência com o rock. E porque não dizer também o contrário? A parte musical também transmite essa mesma idéia que a parte lírica quer passar contando a história de um compositor fanático pela música de Bach. E é justamente da obra do gênio alemão que o Il Rovescio Della Medaglia que vem as inspirações para esse álbum. Porém tudo isso não impede um pouco de experimentalismo como ouvimos em “Scotland Machine”. Também foi lançado em uma versão em inglês em 1975, com intenções de angariar frutos no mercado externo, sob o nome de Contamination.
 
Locanda Delle Fate – Forse Le Lucciole Non si Amano Più (1977)
O nome do grupo significa algo como pousada das fadas, apesar de não ter encontrado a palavra fate no dicionário eu a traduzi como um plural de fata. O que o Locanda Delle Fate faz parece um resumo de tudo o que podemos encontrar no progressivo italiano como dá para perceber já nos primeiros momentos da instumental “A Volte Um Instante Di Quiete” com o piano fazendo miséria. A palavra resumo fica bem empregada, pois a banda surgiu já nos últimos anos da época de ouro dos italianos e por isso eles já tinham sido influenciados por diversos outros grupos, inclusive os medalhões. Na segunda música, a faixa título, ouvimos pela primeira vez a bela voz de Leonardo Sasso cantando com uma impostação característica dos italianos. O grupo tinha sete componentes com duas guitarras, teclados, bateria, piano, voz e baixo. Gravaram esse disco em 1977 e depois só voltou a se reunir em 1993 para gravar um disco ao vivo e em 1999 seu segundo álbum foi lançado. Até então eles somam três discos de estúdio e dois ao vivo. O relançamento em CD de muitos grupos, como o Locanda Delle Fate, na década de 90, acabou sendo bom para essas bandas e reaviveu muitas carreiras. É a minha banda preferida fora dos três grandes do prog italiano.
 
Il Bacio Della Medusa – Discesa Agl’Inferi D’um Giovane Amante (2008)
Não podia deixar de citar algo mais recente para mostrar que não foi só nos anos 70 que existiram bandas progressivas na Itália. Quem se acostumou a ouvir bandas como os também italianos do Rapshody fica esperando uma entrada épica e pesada após o início orquestrado, mas é a suave voz de Simone Cecchini que aparece logo após em “Preludio: Il Trapasso”. Com violino e instrumentos de sopro fazendo parte do line up do grupo o que o ouvinte pode esperar são bastantes inclusões desses instrumentos. Interessante também a quantidade de instrumentos em que os integrantes se arriscam. O já citado Cecchini também é responsável por bandolin, violão e saxofone, Eva Morelli além dos vários tipos de flautas também toca sax, Diego Petrini além da bateria e percurssão também toca órgão, piano e mellotron. Fecham o grupo Frederico Caprai, baixo, Simone Brozzetti, guitarra e Daniele Rinchi, no violino, que entrou pouco antes da gravação deste que é o segundo álbum da banda. Passagens românticas, quase bucólicas, entrelaçadas com outras de puro virtuosismo são freqüentes. Não são raras as vezes em que dois ou três instrumentos solam ao mesmo tempo. Se tivesse que citar uma banda da época de ouro para compará-los escolheria o Osanna.


Engenheiro, corinthiano e aficionado por música. Nasceu em Itapetininga / SP e mora em Porto Velho desde dezembro de 2006. Colecionador de itens do Iron Maiden, comprou seu primeiro disco (The Number of The Beast), pouco tempo depois de fazer 10 anos de idade no fim dos anos 80. Gosta de todos os diversos estilos do rock em especial o heavy metal, o rock progressivo e o classic rock. Blogueiro desde 2005, com o Blog Jogando Por Música, foi colaborador da Collectors Room e no momento faz parte da equipe da Consultoria do Rock. 


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http://lounge.obviousmag.org/encruzilhada/2014/04/darwin-uma-joia-do-rock-progressivo-italiano.html

O Rock Progressivo Italiano ganha espaço na Encruzilhada e começa bem; o álbum escolhido é simplesmente um dos melhores já lançados na Itália neste estilo. Banco Del Mutuo Soccorso é uma banda que começou em Marino (Roma) em 1970. Conquistou enorme respeito na cena prog da Europa na década de 1970, sendo inclusive comparada a medalhões do estilo como Pink Floyd e Emerson, Lake & Palmer, por exemplo. O disco Darwin! foi lançado em 1972, mesmo ano do debut autointitulado pelo selo Ricordi (SMRL 6107) e é uma obra de alto nível em toda a sua extensão. Um disco conceitual que versa sobre a evolução humana e o faz com competências sonora e lírica exemplares! Aliás, as letras abordam desde o surgimento dos seres vivos até a Revolução Industrial!
Banco_del_Mutuo_Soccorso_1973.jpgBanco del Mutuo Soccorso (1973).
“Viagem sonora” talvez seja um termo bastante clichê para se referir a este disco, entretanto a magnitude artística da obra torna difícil imaginar classificação mais adequada. O álbum gravado por Gianni Nocenzi (Clarinete, piano e teclados), Pier Luigi Calderoni (bateria e tímpanos), Marcello Todaro (violão, guitarra e vocais), Renato D’Angel (baixo acústico e elétrico), Vittorio Nocenzi (órgão, sintetizador, teclados e clavinete) e Francesco DiGiacomo (vocais) é repleto de criatividade exacerbada, onde a mistura de beleza e complexidade sobressai, tendo não músicas completas, mas apenas passagens intrincadas típicas do progressivo, e ainda momentos belos e tranquilos. Tudo isto pautado pelo já mencionado excelente trabalho lírico sobre a evolução humana.

O início é arrebatador com 
L’Evoluzione, quase 14 minutos do que parece ser uma síntese do que de melhor existe no rock progressivo/sinfônico italiano: teclados ora pomposos, ora em combinações impressionantes com as guitarras, estas muitas vezes valendo-se de efeitos, e vocais muito bem interpretados por Francesco. Ela começa como uma singela balada e se transforma numa canção cheia de groove; energética é a palavra para esta mudança. Não há como não colocar esta música em destaque no álbum, sensacional! Outro destaque positivo é o trabalho de teclados dos irmãos Nocenzi que protagonizam duelos sensacionais de Hammond, além de passagens lentas inspiradíssimas.
banco_1_1354923760.jpg
O disco é uniforme em sua já mencionada qualidade, mas é interessante destacar a música 750,000 Anni Fa … L’Amore?, onde Francesco interpreta um tema todo amparado apenas pela “cama” do piano e Miserere Alla Storia, com instrumentos de sopro e trechos intrincados em contraste e o piano aparecendo no meio da música para um solo esplêndido e bem colocado. Some-se neste caso o trabalho do baixo de Renato D’Angel, pulsante durante toda a música. Ela se encerra soturna e misteriosa com o violão dedilhado e o baixo alterando sua marcação.
Darwin! foi relançado pela própria Ricordi em cassete e vinil nos anos de 1976 e 1978 respectivamente. No Japão destaque para as versões em LP de 1979, pelo selo Seven Seas e em CD de 1987, pela Nexus International. Não foi lançado em versão brasileira sendo que a versão mais recente é a remasterizada em CD pela RCA/Sony Music em 2011. Um álbum sublime, que não pode faltar na coleção de um bom fã de rock progressivo e uma excelente opção para quem quer começar a curtir o estilo!
front.jpg
Por fim, um trecho da letra traduzida da canção L’Evoluzione, evidenciando o belo trabalho lírico:
Tente, tente pensar um pouco diferente / De nada grande fui inventado, mas a criação se criou sozinha / Células, fibras, energia e calor; roda dentro de uma nuvem a terra / Intumesce ao calor, estende os membros / Ah, a mãe está pronta e parirá / Já arqueia o colo, Deseja um filho e o terá / Filho de terra e de eletricidade / Camadas cinzas de lava e de coral / Céus úmidos e sem cores / Eis, o mundo está respirando / Musgos e líquens verdes, esponjas de terra / Fazem da serra o broto do que virá...


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