Em outras palavras, nós somos poema, ou seja, sinthoma, o sintoma-letra aí estando incluído, mas não identificável, a não ser a título hipotético. É isso que a referência final à poesia implica. Somente ali onde o poeta faz cálculo do equívoco para produzir um dizer que lhe seja próprio, o dizer de seu poema; pois bem, o analista não pode fazer igual, ele não pode calcular sua interpretação, a verdade sendo tão incalculável quanto o real. Ele vai ali, portanto, a esmo, "todos os lances são permitidos". Além disso, ele tem que lidar com um poema que não é o seu, e que ele não conhece, mas que lhe pedem, eventualmente, para corrigir. Então, para levar em conta esse poema como real, sinthoma, ele se utiliza, em seu dizer, de um outro real, o da alíngua e de seus equívocos, os quais podem jogar contra o gozar do poema, já que é por eles que o poema se fez.
Não obstante, remanejar o poema – isto é, o nó – não é, necessariamente, corrigir o gozo opaco, nem encontrar a palavra do real. A análise é o que faz verdade, mas está excluído que ela faça verdade do real. Então, retificar o poema é amarrar de outra forma, por nó [épissure] – sutura, diz Lacan –, e isso consiste, antes, a mudar não o núcleo opaco ininterpretável, do qual tudo indica que ele permanece opaco, mas a balança entre verdade e real, entre o gozo do sentido e o gozo daquilo que o tampona e que faz ali como que um contrapeso. É por essa razão que Lacan não disse que, no passe, vinha-se testemunhar do real, mas da verdade mentirosa. Não se testemunha do real tão pouco quanto não se interpreta dele, dado que testemunhar dele ou interpretá-lo seria fazê-lo passar à verdade
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-157X2012000100003
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An interpretation which takes into consideration the real
Colette Soler
https://www.facebook.com/groups/fotografiadenu/permalink/1156142107804754/?comment_id=1207483826003915&comment_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R%22%7D
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Introdução à topologia de Lacan Zahar
www.zahar.com.br/livro/introducao-topologia-de-lacan
http://www.zahar.com.br/sites/default/files/arquivos//t1374.pdf
(...) no final da vida Freud passou a conceber
de outra forma a divisão interno-externo.
Sem de fato explicitá-lo, admitia que o aparelho psíquico
tinha uma extensão no espaço, e que o espaço, por
sua vez, era a projeção desse aparelho.2
No entanto, apesar desses últimos questionamentos, a
obra freudiana e, em geral, a clínica analítica revelam embaraços
com essa intuição inextirpável de que o psiquismo
é um dentro limitado por uma superfície (a pele) voltada
para o real externo.
A dualidade dos reais freudianos é sucedida por uma
topologia lacaniana que põe em jogo relações mais precisas.
Em vez de dois reais, há um só, unívoco, sem divisão,
definido essencialmente por sua modalidade de ser
impossível de representar, e no qual a psicanálise situa a
dimensão do sexo à exaustão. Diante do real há o sujeito; e
entre os dois, o conjunto dos meios com os quais o sujeito
aborda esse real do sexo: meios relativos aos significantes
e meios relativos ao objeto a. Os primeiros meios são
chamados sintomas; os segundos, fantasias. Assim, entre
o sujeito e o sexo estão diversas relações causais, em geral
paradoxais, constitutivas do que a psicanálise chama de
realidade. É dessa realidade psicanalítica que a topologia
tenta dar conta.
Quatro relações, ou melhor, quatro pares paradoxais de
conceitos que definem a realidade são recriados, postos em
cena por nossos artifícios topológicos.
Eis aqui, brevemente, cada um desses pares e o ser topológico
que os figura:
• a demanda e o desejo, figurados pelo toro;
• o sujeito dividido e seu dizer – um dizer significante –,
figurados pela fita de Moebius;
• um significante e os outros, figurados pela garrafa de
Klein;
• finalmente, o sujeito em sua relação com o objeto (fantasia),
figurado pela esfera cross-cap
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