Nome que mais faturou na música russa em 2012, o regente do novo Mariinski de São Petersburgo, alcançou, como diz a revista "New Yorker", poder mundial "não atingido por nenhum músico clássico vivo". Amigo do presidente Putin, o maestro rege 200 espetáculos ao ano, como a imponente conclusão dos atuais Jogos de Sochi.
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Para o "grand finale" do megaevento que concebeu como vitrine internacional de seus 15 anos como homem-forte do país, o presidente Vladimir Putin escalou o maestro que ungiu como o tsar musical da Rússia: Valery Gergiev.
No encerramento da Olimpíada de Inverno de Sochi, daqui a dois domingos, Gergiev deverá reger um coro (à Villa-Lobos) de mil crianças, provenientes de todas as regiões da Rússia. No mês passado, o maestro fez um ensaio privado do coro para Putin, com um repertório formado por hits dos tempos soviéticos.
Não foi o primeiro nem o último ou mais significativo dos agrados do regente a seu patrono político. Com apenas um ano de idade de diferença, e uma ligação de duas décadas, Gergiev, 60, e Putin, 61, são tão próximos que até já se disse que um é padrinho dos filhos do outro (boato que o regente desmentiu em carta ao jornal londrino "The Daily Telegraph", em 2008).
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Pintura sobre papel de Deco Farkas |
Todo tsar precisa de uma coroação, e pode-se dizer que, simbolicamente, a de Gergiev (pronuncia-se "guérguiev) aconteceu em 2 de maio passado -não por acaso, a data de seu 60º aniversário. Na ocasião, o embaixador musical da Olimpíada de Sochi abriu seu novo teatro de ópera, o Mariinski 2, em São Petersburgo -uma empreitada de 22 bilhões de rublos (cerca de R$ 1,5 bilhão), despesa que chama ainda mais a atenção se levarmos em conta o quadro geral de austeridade e contenção de gastos que impera na Europa e nos EUA.
A história da construção de uma segunda casa para o teatro Mariinski começou em 2003, quando o francês Dominique Perrault (famoso pelo projeto da Biblioteca Nacional da França, em Paris) venceu um concurso de arquitetura com um plano arrojado, que previa uma cúpula de vidro dourado e o uso de mármore negro no interior.
As ideias de Perrault logo se revelaram delirantes demais. Entre a planta e o código de construções do país verificaram-se nada menos que 286 incompatibilidades. As condições naturais, ao que parece, também não haviam sido levadas em consideração pela firma francesa. O clima não se alinhava ao projeto, e o solo da área era tão instável que chegou a ser comparado ao smetana -o creme azedo que é parte fundamental da culinária russa. Por fim, a própria cúpula de vidro se mostrou impraticável.
Diante de tamanhas vicissitudes, Putin (à época, primeiro-ministro) resolveu intervir, anunciando, em 2009, um novo concurso para a construção do Mariinski 2.
O trabalho de Perrault foi completamente descartado, e uma nova empresa, a canadense Diamond Schmitt Architects, assumiu o projeto. A mudança não pôs fim à contenda. Em uma cidade que se orgulha de sua arquitetura dominada por palácios do século 18, nada mais complicado para o novo prédio do que ganhar o coração dos habitantes, que comparam o local a um shopping center -ou a um hangar, como fez o cineasta Aleksandr Sokúrov (em cujo filme "Arca Russa", de 2002, Gergiev aparece, regendo uma orquestra).
Arquitetos locais criticaram a aparência do edifício, e Mikhail Piotrovski, diretor de uma das glórias da cidade, o Museu Hermitage, viu-se compelido a escrever uma carta aberta, pouco antes da inauguração da casa, pedindo a seus concidadãos que esperassem pela finalização da obra antes de clamarem por medidas radicais -chegou a circular uma petição, assinada não apenas pelos habitantes locais mas também por intelectuais moscovitas, advogando a demolição do Mariinski 2.
De fato, o exterior do prédio, em calcário bege, alternado com janelas do teto ao chão, não chega a chamar a atenção ou impressionar com sua geometria regular e relativamente austera.
KITSCH
Não há nada de austero, porém, do lado de dentro do edifício, de uma suntuosidade que não parece exagero chamar de kitsch: assoalhos de mármore imperador, lustres de cristal Swarovski, uma escada de vidro de 33 metros e 1.200 metros quadrados de ônix a circundar as paredes.
Cobrindo uma área de 79.114 metros quadrados, o Mariinski 2 pode abrigar 2.000 espectadores. Possui sete andares acima do palco e três abaixo, além de toda a parafernália de última geração para espetáculos de ópera, balé e concertos. Projetada por Jürgen Reinhold, da firma alemã Müller-BBM, a acústica também é um dos pontos fortes da casa.
O suntuoso concerto de gala, transmitido pela TV russa, e visto ao vivo em diversos países (Brasil inclusive), com a participação de nomes como o tenor espanhol
Plácido Domingo e a mezzo-soprano russa Olga Borodina, a excelência técnica do teatro e a qualidade de sua programação acabaram por silenciar as críticas.
Uma ponte sobre o canal Kriúkov liga o Mariinski 2 ao prédio antigo, de 150 anos atrás. A construção do novo teatro não implicou a desativação do anterior; as forças da casa atuam simultaneamente em ambos os edifícios, bem como na Sala de Concertos de 1.200 lugares e acústica excepcional construída alguns metros adiante, na Úlitsa Dekabrístov (rua dos Decembristas), em 2006, substituindo o velho depósito de cenários e figurinos do Mariinski, destruído por um incêndio anos antes.
Não é incomum, assim, os corpos do Mariinski darem pelo menos três apresentações diárias na cidade, entre óperas, balés e concertos, além das turnês. Um exemplo concreto: na semana entre 14 e 21 do mês passado, houve 22 performances nos três palcos do Mariinski em São Petersburgo, incluindo balé ("Romeu e Julieta", de Prokófiev), óperas ("Don Carlo", de Verdi, e "Madama Butterfly", de Puccini) e concertos (a cantata "Carmina Burana", de Orff).
Enquanto isso, no mesmo período, a trupe do teatro apresentava as óperas "Iolanta", de Tchaikóvski, e "Don Quichotte", de Massenet, além da "Sinfonia nº 9", de Mahler, em Israel -fazendo ainda um concerto no Fórum Econômico Mundial de Davos, com o tenor peruano Juan Diego Flórez.
Parece muito, mas não é tudo. Nessa mesmíssima semana, a companhia de balé do Mariinski estava em Copenhague, na Dinamarca, com dois espetáculos: "O Lago dos Cisnes", de Tchaikóvski, e outro unindo "Chopiniana" (com música de Chopin), "Scheherazade" (Rimski-Kórsakov) e "O Pássaro de Fogo" (Stravinsky).
RITMO FRENÉTICO
O responsável por esse ritmo frenético de atividades é Gergiev, um "workaholic" que, aliando autoridade, empreendedorismo, caráter visionário, energia e habilidade política, fez não apenas da Filarmônica de São Petersburgo a principal instituição musical da cidade como ainda tornou o Teatro Bolshoi, de Moscou, o símbolo máximo da música clássica na Rússia.
Ao elegê-lo uma das cem personalidades mundiais de 2010, a "Time Magazine" festejou seu "estilo de regência intenso e visceral", que faz dele "um dos artistas mais dinâmicos em atividade hoje".
Empregando uma batuta diminuta, do tamanho de um lápis, e uma peculiar técnica de regência que inclui um tremelicar de dedos, como se suas mãos fossem borboletas, Gergiev é o atual titular da Orquestra Sinfônica de Londres, até o final de 2015, quando assume, com um contrato de sete anos, a Filarmônica de Munique.
Admirado pelo caráter enérgico e arrebatado de suas interpretações, ele aparece com regularidade no Metropolitan de Nova York, onde regeu o barítono paulista Paulo Szot. Fará também parceria com outro brasileiro: o pianista Nelson Freire, por quem tem especial predileção , tocará o segundo concerto para piano e orquestra de Brahms em turnê da orquestra do Mariinski no Japão, em outubro.
Ao Brasil o maestro deve ir incógnito, neste ano, acompanhado do pianista Denis Matsúev, com objetivos nada musicais -quer só ver partidas da Copa do Mundo.
Conhecendo a rotina de Gergiev, é difícil imaginar que consiga tempo para futebol -ou para qualquer coisa que não seja a música. Na ponta do lápis: entre novembro de 2012 e dezembro de 2013, ele regeu 211 apresentações pelo planeta.
Para exemplificar uma semana típica do maestro: de 22 a 31 de dezembro do ano passado, dirigiu nada menos do que 11 récitas na cidade, incluindo três óperas diferentes de Verdi ("Macbeth" e novas produções de "Othello" e "Il Trovatore"). Às vezes havia duas performances no mesmo dia: em 30 de dezembro, este repórter viu Gergiev reger o nonagenário pianista Menahem Pressler, na Sala de Concertos, às 15h30, e sair às 17h, para uma récita de "Othello", às 19h, no Mariinski 2.
CONTRAMÃO
Claro que há críticas. Em uma época que favorece como modelos de comportamento regentes "humanistas" como Claudio Abbado (1933-2014) e Sir Simon Rattle, 59, em detrimento de "autocratas", a exemplo de Arturo Toscanini (1867-1957) e Herbert von Karajan (1908-89), a concentração de poder nas mãos de Gergiev parece ir a contrapelo da história.
Em novembro de 2012, o sindicato dos bailarinos do Mariinski enviou uma carta ao Ministério da Cultura, acusando a direção do teatro de violação de leis trabalhistas. Ataca-se o regente por supostamente desprezar a dança e ameaçar os músicos da orquestra, afirmando que os de desempenho ruim terão de tocar nos balés.
Em novembro passado, ao escrever, na revista "New Yorker", que Gergiev "alcançou um nível de poder mundial provavelmente não atingido por nenhum outro músico clássico vivo", o crítico Alex Ross queixou-se da qualidade "desigual" das performances, já que "sua agenda raramente permite ensaios adequados".
Não permite mesmo. "Com Gergiev, você nunca passa a obra inteira", confessou-me, com um sorriso de admiração e cumplicidade, o pianista Nikolai Lugansky, no dia em que protagonizou, com o regente, um inesquecível programa Rachmaninov ("Concerto para piano nº 2" e "Danças Sinfônicas"). Em sua própria defesa, o maestro costuma dizer que não precisa de 12 horas repassando cada "pizzicato" do repertório com uma orquestra que conhece bem.
Pela lógica, a falta de ensaios deveria acarretar eventuais quedas de concentração, intensidade e qualidade artística. Entre os frequentadores locais, os mais nostálgicos gostam de falar em "decadência" no nível do Mariinski -o que aqui, tal qual ocorre com o público de ópera do mundo inteiro, normalmente significa saudade dos grandes cantores do passado.
Contudo, nem os desafetos de Gergiev negam seus dotes musicais; na Rússia costumam referir-se a ele como "gênio mau". Após um mês e meio acompanhando suas apresentações na Rússia, rendi-me à versatilidade de um músico capaz de fazer aparentemente tudo a que se propõe, e não só com compositores russos. Seu Mozart é tão sedutor quanto seu Mahler, embora por razões distintas, e ele parece tão à vontade nas obras-primas do repertório sinfônico quanto acompanhando óperas.
Não por acaso o folclore em torno do regente é vasto. Diz a lenda que ele frequentemente é arrancado da cama para pegar voos em cima da hora; que ensaia em uma cidade pela manhã para reger um concerto em outra à noite; que suas secretárias, assustadas com sua rotina alucinante, durariam poucos meses no emprego.
Como consequência, atrasos -de até meia hora- já se tornaram praxe em suas performances. O público russo reage como as plateias brasileiras de teatro infantil: com aplausos compassados, pedindo para o espetáculo começar.
ÍNÍCIO
Pupilo do mítico Iliá Mússin, Gergiev venceu, aos 23 anos, o Concurso Karajan, em Berlim. Ainda era aluno do Conservatório de Leningrado quando recebeu, em 1978, o convite para ser assistente de Iuri Temirkánov no então Teatro Kírov (assim chamado em homenagem a Serguei Kírov, líder bolchevique cujo misterioso assassinato, em 1934, serviu de pretexto a Stálin para desencadear um sangrento período de expurgos).
Em 1988, aos 35 anos, ascendeu à chefia da companhia de ópera. Eram os tempos da "glasnost" e da "perestroika", de Mikhail Gorbatchov, em que uma estimulante abertura política foi acompanhada do enfraquecimento do poder do Estado e de sua capacidade de investir nas mais diversas áreas -inclusive na cultura.
Gergiev resolveu buscar no exterior as divisas que faltavam em casa e fez das turnês o meio de sobrevivência da trupe. Deu ar cosmopolita ao Mariinski, providenciando para que as óperas do repertório internacional não fossem mais cantadas em russo, e sim em seus idiomas originais -as produções de títulos russos passaram a ser acompanhadas de projeções de legendas em inglês.
O ápice da nova orientação foi a primeira montagem na história dos palcos russos de uma versão cantada no original alemão da tetralogia "O Anel do Nibelungo" , de Wagner, em 2003 -uma produção que recebeu aplausos não apenas no âmbito doméstico mas também em Londres (Covent Garden), Nova York (Metropolitan) e na própria Alemanha. Agora, o "Anel" está sendo paulatinamente lançado em disco, no âmbito de mais uma iniciativa de Gergiev : o selo próprio da companhia.
CANTORES
O que continua 100% eslava é a companhia estável de cantores, uma das joias do teatro. Em comparação aos tempos soviéticos, a diferença é que, com a liberdade de ir e vir, as melhores vozes da Rússia agora podem também ser apreciadas internacionalmente. A companhia de ópera do Mariinski conta hoje com mais de uma centena de cantores, com destaque para Anna Netrebko, a soprano que foi descoberta por Gergiev aos 23 anos, quando era estudante do conservatório (e, reza a lenda, lavava o chão do teatro).
Dentre os destaques, vale mencionar o tenor Vladímir Galúzin e as vozes graves que historicamente são a glória da Rússia, como as mezzo-sopranos Larissa Diadkova e Ekaterina Semêntchuk, os barítonos Vassili Guerello e Nikolai Putílin, e os baixos Evguêni Nikítin, Guennadi Bezzubenkov e Ildar Abdrazákov.
De chefe da trupe operística, Gergiev subiu, em 1996, a diretor artístico do Mariinski. Em alguns anos, a ascensão de um político de São Petersburgo à mais alta esfera de poder federal transformaria sua sorte de vez. A União Soviética, país em que Gergiev nasceu e cresceu, acabou em 1991.
No mesmo ano, São Petersburgo extirpou Lênin de seu nome, retomando a denominação anterior e, em janeiro do ano seguinte, o Kírov voltou a ser o Teatro Mariinski (em honra à tsarina Maria Aleksândrovna, mulher do tsar Alexandre 2º, que governava a Rússia na inauguração da casa, em 1860, e que aboliria a servidão em 1861).
O referendo em que os cidadãos de Leningrado decidiram chamar sua cidade de São Petersburgo aconteceu simultaneamente às primeiras eleições diretas da Rússia pós-soviética. O pleito presidencial foi vencido por Boris Ieltsin; o municipal, pelo siberiano Anatoli Sobtchak, mentor e professor do sucessor de Ieltsin, que teria papel-chave na ascensão e consolidação de Gergiev e seu teatro: Vladimir Putin.
Foi como conselheiro de assuntos internacionais do prefeito Sobtchak que o antigo tenente-coronel do KGB começou sua carreira política. Também fazia parte da equipe Dmitri Medvédev, que se tornaria amigo de Putin. Ambos se revezariam nos anos seguintes nos cargos de presidente e primeiro-ministro da Rússia.
Em 1999, Putin herdou a chefia do país de um Ieltsin combalido e desacreditado e, desde então, encontrou em Gergiev o parceiro ideal na construção do protagonismo musical de sua cidade natal - para alegria dos petersburgueses, que gostam de se ver como mais aristocráticos e refinados do que os moscovitas. O mandatário vem patrocinando todos os sonhos do maestro: a Sala de Concertos e o Mariinski 2 foram construídos integralmente com dinheiro federal.
Não por acaso, Gergiev passou a se mostrar atuante na vida social do país. Em 2004, depois do massacre na escola de Beslan, na Ossétia do Norte, ele apareceu na televisão do país, pedindo paz.
Nascido em Moscou, mas criado na Ossétia, Gergiev considera-se ossetiano, e foi à região em 2008, durante o conflito entre Rússia e Geórgia, tomando partido dos russos e regendo um concerto em prol das vítimas da guerra, em Tskhinvali. Mais recentemente, resolveu doar fundos das bilheterias de concertos do Mariinski às vítimas dos atentados de 29 e 30 de dezembro de 2013, em Volgogrado.
Além disso, já demonstrou várias vezes apoio a Putin, chegando a gravar um vídeo na última campanha presidencial russa, em 2012. Isso tem levado, no Ocidente, a uma série de manifestações contra o maestro por parte de grupos LGTB, devido à legislação antigay do país. Gergiev já declarou ser contra qualquer tipo de descriminação, negando-se, porém, a criticar tanto as leis russas quanto Putin.
LEALDADE
Tamanha lealdade só parece reforçar o poder daquele que, de acordo com a versão russa da revista "Forbes", foi o músico do país que mais faturou em 2012: US$ 16,5 milhões (R$ 40 milhões), superando os astros do pop.
Dinheiro investido, entre outras coisas, em peru e filantropia. Gergiev é dono de 15% da Evrodon, maior produtora de carne da ave da Rússia. Sua fundação de caridade tem um histórico mais conturbado: Igor Zôtov, que a chefiava desde sua criação, em 2003, foi preso em 2011, depois de acusações de desviar 245 milhões de rublos (R$ 17 milhões).
Ter o antigo braço direito para assuntos financeiros atrás das grades não parece ter abalado em nada o prestígio do regente. Ele propôs, em agosto último, uma grande fusão de entidades artísticas russas sob uma nova instituição, o Centro Nacional das Artes, abarcando o Conservatório de São Petersburgo, a Academia de Dança Vagánova e o Instituto Russo de História da Arte.
Diante da oposição dos membros dessas instituições, Gergiev andou declarando não estar interessado em interferir na gestão do centro, cuja criação, contudo, já conta com o beneplácito de Putin.
Como se não bastasse, Gergiev acaba de emplacar um protegido (o ossetiano Tugan Sókhiev, 36, que esteve no Brasil em 2012, à frente da orquestra do Capitólio de Toulouse) na direção musical do Bolshoi. Talvez haja limites para o poder do tsar musical da Rússia, mas o fato é que ele ainda não os conheceu.
IRINEU FRANCO PERPETUO, 42, é jornalista. Traduziu do russo "Memórias de um Caçador" (Ed. 34), de Ivan Turguêniev.