sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Grandes temas musicais do cinema comentados - Rádio Batuta IMS -

Grandes temas do cinema – por José Geraldo Couto

quarta-feira 15 de maio de 2013

O jornalista e crítico de cinema José Geraldo Couto selecionou 15temas marcantes da história do cinema, e, para cada um deles, escreveu um breve comentário. Verdadeiro passeio afetivo por trilhas sonoras que marcaram época, a seleção de Jose Geraldo é também a celebração de um dos casamentos mais perfeitos de todos os tempos: o do cinema com a música.
1 - Moon river, de Henry Mancini, cantado por Audrey Hepburn no filme "Bonequinha de luxo" (Breakfast at Tiffany's), de Blake Edwards.
Uma escolha óbvia: a cena em que a avoada Holy Golightly (Audrey Hepburn) canta a canção de Henry Mancini e Johnny Mercer na escada externa de seu apartamento em Nova York é um dos momentos mais encantadores do cinema. A delicadeza da voz da atriz casa à perfeição com a doçura da melodia de Mancini, que foi gravada inúmeras vezes por outros intérpretes.

2 - Goldfinger, a canção-tema do filme homônimo de 007, cantada por Shirley Bassey.

As músicas dos filmes de 007, sobretudo as dois primeiros, compostas por John Berry, são uma das marcas registradas da série, assim como os créditos de abertura. Talvez a mais emblemática de todas seja Goldfinger, música de Berry e letra de Leslie Bricusse e Anthony Newley, na voz poderosa e sensual de Shirley Bessey.

3 - This one's from the heart, canção de Tom Waits para o filme O fundo do coração, de Francis Ford Coppola, cantada por Waits e Crystal Gayle.

O filme de Coppola é um ensaio apaixonado sobre a força e a fragilidade das relações amorosas, e a trilha de Tom Waits dialoga à perfeição com essa equação difícil. A voz rouca de Waits contrasta com a limpidez do canto de Crystal Gayle em diversas canções memoráveis, como esta que dá título ao filme.

4 - Bye bye Brasil, canção-tema do filme homônimo de Cacá Diegues, interpretada por Chico Buarque.

A canção de Roberto Menescal (música) e Chico Buarque (letra) é a tradução musical mais que perfeita do road movie de Cacá Diegues, uma viagem de descoberta de um Brasil em vertiginosa transformação, onde “o sol nunca mais vai se pôr”. Por que “mais que perfeita”? Porque a música, a meu ver, é melhor que o filme, realizando cabalmente uma promessa que este anuncia, mas não cumpre.

5 - Wise up, canção de Aimme Mann, do filme Magnolia, de Paul Thomas Anderson.

Foram as músicas da cantora e compositora Aimee Mann que inspiraram alguns dos personagens e histórias desse filme coral de Paul Thomas Anderson. A canção “Wise up”, cantada por diversos personagens, configura quase um clipe independente no interior do filme, um momento epifânico que ressalta a profunda humanidade que os une.

6 - Tema principal de Três homens em conflito (The good, the bad and the ugly), filme de Sergio Leone, música de Ennio Morricone.

Ennio Morricone compôs trilhas para centenas de filmes, mas talvez nenhuma tenha sido tão marcante quanto a de Três homens em conflito, um dos muitos faroestes espaguete que ele musicou. O andamento épico e a orquestração extravagante (assobios, vozes, palmas, instrumentos em surdina) são adequados ao estilo entre operístico e circense dos filmes do gênero. Não por acaso, a música foi reciclada por Tarantino em seu faroeste-homenagem Django.

7 - Merry Christmas, Mr. Lawrence, tema principal do filme homônimo (no Brasil, Furyo - Em nome da honra), de Nagisa Oshima, música de Riuychi Sakamoto.

A música de Riuychi Sakamoto se tornou conhecida no Ocidente a partir deste filme, em que, além de compor a trilha, ele trabalhou como ator, contracenando com David Bowie. A própria música, em sua melodia, harmonia e orquestração, parece realizar uma ponte entre tradições do Oriente e do Ocidente, e sua força no filme é tremenda, especialmente na cena final.

8 - Gradisca si sposa, da trilha sonora de Nino Rota para Amarcord, de Federico Fellini.

De todas as trilhas que Nino Rota compôs para os filmes de Fellini, o tema recorrente deAmarcord é talvez o que mais gruda no ouvido – e na sensibilidade – do espectador. Seja executado por orquestra ou pelo solitário bandônio do músico cego, a melodia de Rota parece expressar como nenhuma outra o sentimento de nostalgia que perpassa o filme.

9 - Tema de Um corpo que cai (Vertigo), filme de Alfred Hitchcock, música de Bernard Herrmann.
Assim como Fellini/Rota, a parceria Hitchcock/Hermmann produziu maravilhas em profusão. Embora o tema do assassinato no chuveiro em Psicose seja o mais famoso, o mais sublime talvez seja o de Um corpo que cai, que transmite desde os créditos de abertura do filme a atmosfera de mistério e vertigem que conduzirá o espectador até a última imagem.

10 - Dueling Banjos, da trilha sonora de Amargo pesadelo (Deliverance), de John Boorman, composição de Arthur Smith.

Apesar de conhecida mundialmente como “duelo de banjos”, a cena do filme de John Boorman mostra o diálogo empolgante entre um violão e um banjo, o primeiro tocado por um homem da cidade (Ronny Cox) e o outro por um adolescente albino do interior (Billy Redden). É o momento em que o filme acena com uma possível harmonia entre o campo e a metrópole, turvada entretanto no final, quando o garoto do banjo fecha a cara e desvia o olhar, pressagiando o drama que está por vir.

11 - Vacances, tema de Georges Delerue para o filme Jules e Jim, de François Truffaut.
Mais uma parceria matadora, a de Truffaut e Delerue. Aqui, a música envolvente de um dos grandes filmes do diretor, no qual uma fascinante Catherine (Jeanne Moreau) vira a cabeça de dois grandes amigos (Oskar Werner e Henri Serre). Mais do que sobre um triângulo amoroso, é um filme sobre a linha tênue – e às vezes tensa – entre a amizade e o amor. E a música de Delerue trafega nessa corda bamba.

12 - Also sprach Zarathustra, Abertura, de Richard Strauss, tema do filme 2001, uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick.

A única faixa desta seleção que não foi feita ou gravada especialmente para o filme correspondente. A exceção se justifica pelo fato de o poema sinfônico de Richard Strauss ter se tornado indissociável das poderosas imagens do início do filme de Kubrick, em que, no meio do confronto entre grupos de macacos, um deles descobre/inventa a arma. Para Kubrick, o homem é um animal que mata e destrói, e a música de Richard Strauss expressa como poucas essa potência maravilhosa e terrível.

13 - Come in number 51, your time Is up, do Pink Floyd, da trilha de Zabriskie Point, de Michelangelo Antonioni.

O tema do Pink Floyd, que já tinha sido gravado com outro nome (Careful with that axe, Eugene) num compacto do grupo, foi retrabalhado e regravado para servir de trilha à espetacular sequência final do filme de Antonioni, uma explosão imaginária que faz saltar pelos ares em câmera lenta todos os objetos e signos da cultura burguesa que os personagens combatem.

14 - Nuit sur les Champs Élysées (take 1), de Miles Davis, da trilha de Ascensor para o cadafalso, de Louis Malle.

Miles Davis compôs relativamente pouco para o cinema, embora sua música esteja presente em dezenas de filmes. A primeira trilha que ele compôs foi esta para o belo drama de Louis Malle, e seu processo de criação foi inusitado: grande parte da trilha foi composta e executada de improviso, com o músico vendo as imagens silenciosas do filme numa tela. Vem daí, certamente, a simbiose perfeita entre o ritmo das notas e o das imagens, bem como a cambiante atmosfera do filme.

15 - O tema principal de O último tango em Paris, filme de Bernardo Bertolucci, música de Gato Barbieri.

A hipnótica melodia do argentino Gato Barbieri se repete ao longo de filme como jazz, balada e tango, sempre sugerindo, em sua sinuosidade, a errância do protagonista, o fugidio objeto do desejo. Uma música que, como a busca do personagem de Marlon Brando, parece nunca ter fim.

Supervisão: Paulo da Costa e Silva
Edição e sonorização: Filipe Di Castro
Fonte:
http://www.radiobatuta.com.br/Episodes/view/261

sábado, 12 de dezembro de 2015

Música Árabe para Festa



Música Árabe para Festa

Coletânea "Arabian Nights - Mil e Uma Noites"
SomLivre (2000)

CD 1
01-Khaled - El arbi
02-MP4 DJ - Arabian nights (Feiticeira II)
03-Dissidenten - Fatamorgana
04-Sabah Ali - Busindre reel
05-Amr Diab - Habibe (Radio Mix)
06-Dimples D - Sucker DJ
07-Dania - Leiley (Transglobal Underground Mix)
08-Rachid Taha - Ya rayah
09-Amr Diab & Khaled - Albey
10-Jai Yerini - Transcendence
11-Snake Raab - Kxmr
12-Uttal Deejay - Another arabian nights
13-Ozan Sokmen - Sidikim groove
14-Cheb 'Memê' & Cheb Alexis - Kibe-lezah
15-Sheik Amr feat. Izlene - El arbi (Bonus track)
16-Jihad - Fatamorgana 2000 (Bonus track)


CD 2
01-Tarkan - Simarik (Melô do beijo)
02-Khaled - Didi
03-MC Lyte, Khaled & Dana Cee - Time for a change
04-Mauro Picotto e Mario Piu - Arabian pleasure
05-Magic Feet - Unconditional
06-Tara - Rich girl
07-Khaled - N' ssi n' ssi (Jamming The Casbah Mix Edit)
08-Deal - Urban
09-Mohamed Arab - Egyptian strings
10-Amr Kalah - Mustafah
11-Maman - Abdel wahrame
12-Sheik Hums - Humshalah
13-Rachid Taha - Indie (The Game Is A Foot Mix Edit)
14-Mr. Jam - Beijo na boca (Simarik)


- - -

World Tribe - Arabian Nights (2005)

(abr), track, title:

(214) 01 - Tahtiyb
(202) 02 - Dance Of The Sufi
(218) 03 - Beledi Sahara
(188) 04 - Dervish Raqs
(189) 05 - Petrouge
(189) 06 - Mizmar Me Attaa
(193) 07 - Fushion Of Ra
(234) 08 - Charm Of The Snake
(216) 09 - Chiftetelli Groove
(186) 10 - Oryanta Tansi
(186) 11 - Zumara Raqs
(187) 12 - Shalwar Noire
(237) 13 - Habibi Omar

domingo, 6 de dezembro de 2015

Corporeidade, cognição e linguagem - Luiz Andrade; Beto Vianna; Liliane Reis

Ciências & Cognição

versão On-line ISSN 1806-5821

Ciênc. cogn. vol.15 no.3 Rio de Janeiro dez. 2010

 

Ensaio

Corporeidade, cognição e linguagem

Corporeity, cognition and linguage


Luiz Antonio AndradeI; Liliane Bels ReisII; Beto ViannaIII
I, IIUniversidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, Rio de Janeiro, Brasil;
IIIUniversidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil



Resumo
Neste ensaio, propomos uma articulação entre os conceitos de corporeidade, cognição e linguagem, a partir de uma abordagem sistêmica tendo como principal referencial teórico as coerências explicativas da escola chilena da Biologia do Conhecer. Para tanto, tomamos como centrais as distinções entre o domínio da fisiologia e do comportamento, entre conhecer e conhecimento, propondo um conceito para este último, e entre domínio linguístico e linguagem, explicitando as consequências dessas distinções na descrição do viver e do humano. Dois resultados discerníveis desse imbrincamento dos conceitos, bem como das distinções propostas, são: a) a compreensão da cognição e dos processos relacionais co-ontogênicos (isto é, entre sistemas ontogênicos), tal como o domínio lingüístico), na dinâmica do vivo, em geral; e b) a compreensão do humano a partir de um modo de vida particular centrado na prática do linguajar e na co-construção do conhecimento. © Cien. Cogn. 2010; Vol. 15 (3): 033-046.
Palavras-chave: cognição; conhecer; conhecimento; linguagem; epistemologia; biologia do conhecer.

Abstract
In this essay we propose a link between the concepts of embodiment, cognition and language, from the point of view of systems theory within the explanatory coherences of the Chilean school of Biology of Cognition. It is thus central to our discussion, the distinctions made between the domains of physiology and behavior, between knowing and knowledge, offering a concept for the last, and between the linguistic domain and language, making explicit the consequences of these distinctions in the description of the living and human beings. Two discernible results of this interweaving of concepts and the distinctions proposed are: a) the direct implication of knowing and the co-ontogenic relationships (i. e., between ontogenic systems), as it is the case of the linguistic domain, in the dynamics of the living in general; and b) to propose a distinction of the human being from a particular way of living based on the practice of languaging and the co-construction of knowledge. © Cien. Cogn. 2010; Vol. 15 (3): 033-046.
Keywordscognition, knowing; knowledge; language; epistemology; biology of cognition.



Introdução
"Tu dizes eu e orgulhas-te desta palavra. Mas há qualquer coisa de maior, em que te recusas a acreditar, é o teu corpo e a sua grande razão; ele não diz Eu, mas procede como Eu." (Friedrich Nietzsche)
O principal objetivo deste ensaio é fazer uma articulação entre os termos anunciados - corporeidade, cognição e linguagem - para no final dialogar com a ideia expressa na epígrafe supracitada, de autoria do grande filósofo alemão Friedrich Nietzsche (2006: 39).
Apontado o objetivo e as questões para as quais dirigiremos nossa reflexão, iniciaremos por nos perguntar: o que é cognição?
Para o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (Ferreira, 1999), o termo cognição assume os dois sentidos principais: (A1) aquisição de um conhecimento e (A2) conhecimento, percepção. Estes mesmos sentidos aparecem também no "Merriam-Webster Dictionary" (1986) que considera cognição o "ato ou processo de conhecer, incluindo a consciência e o julgamento, e também o produto deste ato - o conhecimento (MW1).
Uma definição com maior abrangência nos é oferecida por Vieira (2001: 296) na Enciclopédia Einaudi. Assim, para este autor, a "cognição abrange um conjunto de processos que, integrados ao nível de centros nervosos, permitem a um organismo animal orientar o seu comportamento de forma adaptativa perante as variações do ambiente em que se situa".
Ainda que a definição supracitada incorpore uma parcela significativa da escala zoológica - os animais com centros nervosos - uma proposta ainda mais radical afirma que o conhecer pode ser extensivo à todos os seres vivos, à toda escala biológica, incluindo, portanto, os animais sem centros nervosos, os vegetais e mesmo os seres unicelulares, eucariotas e procariotas (Maturana e Varela, 1990).
Fica evidente que a afirmação proferida por estes últimos autores contraria, de uma só vez, o senso comum, o conteúdo dos dicionários e a ideia, já muito estabelecida, inclusive na academia, de que a cognição está associada às espécies dotadas de centros nervosos (em especial os organismos tradicionalmente conotados como "superiores" em uma escala que se aproxima do humano), ou, ainda, associada à razão e ao pensamento, atributos tradicionais de nossa própria espécie. Sendo assim, ao concordarmos que a cognição pode ser estendida à todos os seres vivos (Andrade e Silva, 2005a), somos convocados a propor uma boa justificativa para essa posição, que esperamos compartilhar com você, leitor, com o convite para que você também possa aceitá-la.
Como este ponto é fundamental para todo o raciocínio que faremos ao longo deste ensaio, apresentaremos os argumentos pausadamente, com muitos exemplos, esperando que eles se tornem claros e aceitáveis.

Sobre a cognição e o conhecer
Quando nos encontramos com a pergunta sobre o conhecer (ou sobre a cognição) na vida cotidiana, geralmente fazemos referência à conduta adequada de um organismo em face de um contexto, especificado por um observador ou por uma comunidade de observadores (Maturana, 2001). Senão vejamos:
Exemplo 1: um professor quer aferir o conhecer dos seus estudantes. O que ele faz? Resposta: especifica um contexto de teste (prova teórica e/ou prática) e avalia a conduta (escrita, oral, comportamental) dos estudantes em face do contexto especificado por ele (situação de teste).
Exemplo 2: um time contrata um jogador estrangeiro até então completamente desconhecido da torcida. O estádio está lotado. O que é que a torcida tem de observar para reconhecer se o novo jogador é bom (conhece, sabe) de bola? Resposta: analisa a sua conduta em face do contexto do jogo, entre as quatro linhas do gramado.
Note que, no primeiro exemplo, o observador é uma única pessoa e o seu julgamento poderá ser soberano, se não houver equívocos e/ou reclamações generalizas, caso em que poderá haver um questionamento por parte dos estudantes e, em certas situações, até a convocação de uma banca examinadora para referendar, ou não, a correção do professor. No exemplo 2, a comunidade de observadores é composta por milhares de pessoas, ou mesmo de milhões, se o jogo for televisionado e, portanto, o julgamento sobre o desempenho do jogador - se ele é ruim, razoável, bom ou craque - dependerá de vários fatores, dentre os quais: a atuação do atleta no campo, as condições do jogo e também o grau de conhecimento e exigência do observador e/ou da comunidade de observadores em termos da arte futebolística.
Tomando estes dois exemplos em conjunto, gostaríamos de ressaltar que o conhecer, enquanto comentário sobre uma conduta, é relativo e, portanto, quanto maior o número de observadores e de comentários, aumenta também a chance de ocorrer divergências.
Se os exemplos e a argumentação acima foi entendida e aceita, fica evidente que a questão sobre o conhecer passa, necessariamente, pelas experiências da vida cotidiana e, portanto, o que devemos explicar quando nos perguntamos sobre o conhecer é a experiência - o experienciar - e é prontamente isso que vincula a questão do conhecer à biologia. Essa vinculação tem sido enfatizada, de forma original, por alguns autores (Piaget, 1970, 1975; Maturana e Varela, 1997); no entanto, para o nosso propósito neste ensaio é suficiente que façamos a seguinte pergunta cognitiva: como o ser vivo se mantém vivo?
Como é evidente, a resposta para essa pergunta estará sempre vinculada à biologia, porque qualquer que seja o domínio especificado pelo observador, ele estará sempre fazendo uma referência ao viver e ao seguir vivendo de um ou outro organismo, em face de um contexto, de um nicho.
Nesta ótica, podemos ampliar a definição do conhecer para fora do âmbito humano e, assim, aceitar que todos os organismos vivos atuais possuem uma conduta adequada aos contextos (nichos) em que vivem e, portanto, estão em ato contínuo de conhecer o mundo em que vivem, justificando-se, assim, o aforismo "viver é conhecer", anunciado pelos neurobiólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela (1990, 1997).
É precisamente este "se manter vivo", em acoplamento estrutural com o meio, que estamos conotando como o conhecer biológico. Ou seja, todo organismo vivo está, momento a momento, em ato contínuo do conhecer.
Assim, não devemos nos surpreender (exemplo 3) quando um pássaro mergulha para capturar um peixe abaixo da linha d'água e, mesmo sem conhecer a lei de refração de Snell (n.·senθ1 = n.·senθ2), é bem sucedido em seu empreendimento. E o peixe, que conhecia o mundo d'água, é interrompido bruscamente no seu ato contínuo de conhecer o mundo (d'água), perde o acoplamento estrutural com o seu meio e morre. Nesse caso, tanto o pássaro quanto o peixe conhecem o mundo em que vivem e podem morrer quando deixam de estar em ato contínuo de conhecer, isto é, quando perdem o acoplamento estrutural com o meio. Morre-se quando se deixa de saber viver. Morre-se quando se deixa de conhecer.
Ainda que, para muitos, parece uma heresia aceitar que os vegetais também conhecem o mundo em que vivem, argumentamos que o conhecer dos vegetais em seu nicho ecológico é uma situação isófora (da mesma forma) daquela relatada anteriormente sobre o professor com seus estudantes (ex. 1) ou da torcida em relação ao jogador (ex. 2). Ou seja, o que o observador aponta como o conhecer é sempre uma conduta adequada de um organismo em face de um contexto. É a partir deste entendimento que deveremos compreender os dizeres do grande naturalista Charles Darwin (2002) em sua obra clássica "A origem das espécies", de 1989quando ele comparou a extremidade das raízes das plantas com o sistema nervoso dos animais, apontando a capacidade das raízes de captar sinais do resto do corpo do vegetal e, com isto, direcionar os seus próprios movimentos. Destarte, se os vegetais também possuem uma conduta adequada ao contexto em que vivem há de se concluir que eles também conhecem o mundo em que vivem, mesmo que esta conduta seja mais difícil de ser observada, como o lento movimento das raízes, geralmente para baixo, o lento movimento das gavinhas, as mudanças na disposição angular das folhas, em resposta aos raios de sol, a abertura ou fechamento dos estômatos, em resposta ao calor, a produção de néctar e de substâncias que mimetizam a ação de feromônios de insetos, atraindo-os para si e garantindo o processo da polinização. Assim, a partir do conjunto de mudanças condutuais das plantas em face ao mundo que as cercam, advogamos que elas, assim como os outros entes biológicos que com elas constroem e compartilham a teia da vida, conhecem o mundo em que vivem.
E os seres unicelulares? Advogamos que eles também conhecem o mundo em que vivem. Há de se ressaltar que eles estão no planeta terra desde a origem da vida, estimada hoje em 3,8 bilhões de anos e, portanto, há mais tempo que a totalidade das espécies multicelulares. Além disto, os unicelulares apresentam grande diversidade biológica e um enorme número de estratégias bioquímicas para exploração de diferentes nichos ecológicos, incluindo lugares escaldantes, gelados, radioativos, ácidos ou básicos e ainda as profundezas do mar e da terra. Em estudos de possíveis cenários catastróficos, os microrganismos sempre levam vantagens em termos de sobrevivência. A título de exemplo, organismos como os estromatólitos apresentam-se em ato contínuo de conhecer o mundo em que vivem há bilhões de anos.
Há de se fazer agora uma distinção importante: enquanto os animais com centros nervosos diferenciados e complexos, como o de nossa própria espécie - H. Sapiens - podem apresentar um aprendizado relativamente rápido, cumulativo, transgeracional e cultural, o conhecer dos outros organismos vivos deriva-se, geralmente, de processos históricos longos. Assim, por exemplo, sabe-se, através de registros paleontológicos, que as interações cooperativas e/ou simbiônticas entre alguns insetos e as plantas com flores datam do Cretáceo, há cerca de 100 milhões de anos atrás (Dawkins, 2004). Mas mesmo assim, tanto os insetos, quanto as plantas, possuem uma história filogenética ainda muito mais remota. A este conhecer, produto desta longa história filogenética no planeta, denomina-se conhecer filogenético ou evolutivo (Vieira, 2001; Andrade e Silva, 2005b).
Haja vista que o conhecer e o conhecimento são usados, indistintamente, tanto pelos dicionários, quanto pela maioria dos autores para definir cognição, nós nos perguntamos: existe alguma distinção entre eles?

Sobre a distinção entre o conhecer e o conhecimento
Em artigo anterior (Andrade e Silva, 2005a), propusemos uma distinção entre o conhecer e o conhecimento que vai para além da simples diferença morfossintática destas duas palavras, verbo e substantivo, respectivamente. Ou seja, ainda que possamos afirmar que todos os organismos vivos são sistemas cognitivos e, portanto, capazes de conhecer o mundo em que vivem, não podemos afirmar, no entanto, que todos os organismos vivos são capazes de produzir conhecimento, haja vista que aquilo que nós chamamos de conhecimento não é um simples produto do conhecer mas, sobretudo, o produto advindo do processo sistemático do conhecer que inclui, além do produto advindo do conhecer, a referência à história do processo, ou seja, através das recursões linguísticas. Sendo o conhecimento um produto mediado pela linguagem, fica evidente também que é através das recursões linguísticas que se constroem os diferentes sistemas de conhecimento, tais quais: mito, religião, filosofia, ciência e a arte.
Se o conhecimento pode ser intermediado pela linguagem, como compreendê-lo no âmbito desta última?
Fizemos uma primeira aproximação à questão supracitada apontando o conhecimento como um meta-enredo que vai além dos "enredos explicativos e dos enredos fenomênicos" (Andrade e Silva, 2005a: 37).
Mas o que é um enredo explicativo? O que é uma explicação?
Como nos ensina Maturana (1997), uma explicação é a proposição de um mecanismo gerativo que, posto a operar (a funcionar), gera o fenômeno que se quer explicar.
Existem perguntas que pedem uma descrição e outras que pedem uma explicação. Por exemplo: Você gosta de chuva? Esta pergunta pede um juízo de valor, que pode conter uma descrição. Por outro lado, quando perguntamos: O que é a chuva? Porque chove? Estas perguntas pedem uma explicação. Ou seja, dentro da pergunta está embutido algo como: me dê um mecanismo que, posto a operar, gere o fenômeno que se quer explicar - a chuva.
Ao expandir este tipo de argumento em um trabalho recente (Andrade, 2010), chegamos a propor um conceito para conhecimento, a partir das seguintes considerações:
  • Considerando que o conhecimento é exclusivo do humano, concluímos que ele é um produto do conhecer cultural humano e, portanto, o adjetivo cultural, que demarca tanto as intermediações linguísticas, quanto a validação deste produto por uma comunidade de observadores, deva estar na definição conceitual de conhecimento;
  • Considerando que grande parte do conhecimento humano é:
  • constituído de enredos explicativos para enredos fenomênicos;
  • aceito por diferentes comunidades humanas, dependendo dos diferentes critérios de validação que estas mesmas comunidades humanas admitam em seu aceitar;
  • erigido em grandes sistemas (mitologia, religião, filosofia e ciência), a partir de (i) e de (ii),
Concluímos que os enredos explicativos e a aceitação dos mesmos por uma determinada comunidade devam estar contidos na definição conceitual de conhecimento.
Considerando que tanto o conhecimento filosófico quanto o científico não se restringem à produção de enredos explicativos e que a filosofia, mais do que a ciência, é a arte da produção de conceitos (Deleuze e Guattari, 1992), concluímos que as formulações conceituais devam constar da definição de conhecimento.
Considerando que o conhecimento humano é também expresso por produtos de ordem artística, tecnológica e científica, e que estes produtos podem ser abstratos ou concretos, criados ou recriados, concluímos que os mesmos também devam estar contidos na definição conceitual de conhecimento.
Assim, conhecimento é o resultado do conhecer cultural humano, expresso através de enredos explicativos para enredos fenomênicos e de formulações conceituais, estando também incluso neste gênero de produto os objetos artísticos, religiosos, filosóficos, tecnológicos e científicos, abstratos ou concretos, criados ou recriados, aceitos e utilizados por uma determinada comunidade humana.
Tendo afirmado que as recursões linguísticas são condições necessárias para a produção do conhecimento, expandiremos o nosso entendimento sobre a linguagem, tendo a Biologia do Conhecer como referencial teórico.

Relação corpo e linguagem nas ciências linguísticas
A pergunta sobre a relação entre corpo e linguagem é quase tão antiga quanto a própria consideração do fenômeno na linguagem no humano. Essa discussão de longa estirpe abrange, além da pergunta sobre as estruturas e processos anatômicos e fisiológicos envolvidos na produção e percepção dos sons da fala (uma tradição bem estabelecida na Índia, e não na Grécia, clássica). As estruturas e processos gerativos das regularidades que permitem, na linguagem, o que observamos e comentamos como "entendimento mútuo", assim como as palavras, as frases, o significado, o dizer e o modo de dizer sobre o mundo. Quando Platão propõe, há 2 mil anos, no Crátilo (1994), o debate sobre as palavras serem artifícios humanos ou relacionarem-se naturalmente às coisas, ele está perguntando, implicitamente, se há processos inerentes ao humano que dêem conta do fenômeno da significação ou da denotação (do apontar para as coisas do mundo).
À primeira vista, portanto, a problematização da relação entre corpo e linguagem parece ter que dar conta desses três elementos que surgem na descrição, tal como tradicionalmente colocado no pensamento ocidental: a) o fenômeno da linguagem, no qual observamos regularidades na descrição do mundo; b) corpos humanos que, de algum modo, produzem, permitem ou experimentam a linguagem; c) e um mundo situado fora desses corpos que é descrito, significado ou denotado pela linguagem e, portanto, direta ou indiretamente, por aqueles corpos que produzem, permitem ou experimentam a linguagem. Na perspectiva da inter-relação entre estes três elementos mencionados - corpo, linguagem e mundo - a pergunta sobre o entendimento mútuo dos seres humanos acerca do mundo através da linguagem é uma pergunta sobre a emergência do significado.
Em ciência linguística, aceita-se geralmente que o significado seja um aspecto do signo linguístico - pertinente, portanto, apenas ao universo do humano - que nos permite "selecionar um ou outro aspecto do mundo não-linguístico" (Trask, 2006: 265). Para que o significado cumpra o que promete, ele deve, ao mesmo tempo, denotar (apontar para algo no mundo) e ter sentido (relacionar-se com os demais signos de um sistema linguístico). Por exemplo, a palavra "humana" denota um ser no mundo com tais e tais propriedades consensualmente admitidas. E a palavra "humana" encerra os sentidos de membro de certa espécie biológica, ser feminino, ou pessoa sensível, na medida em que se relacione linguisticamente com termos como "ser vivo", "minha colega de trabalho", "humanitário", e assim por diante.
Essa abordagem do significado nos diz algo mais sobre a inter-relação entre corpo e linguagem. Ela nos diz que o mundo só é dado ao conhecimento do corpo pela linguagem (ou seja, é pela linguagem que o corpo tem acesso ao mundo). E, por outro lado, que corpo e mundo existem independente um do outro e ambos independente da linguagem, mesmo que não haja nenhum modo de se ter acesso ao mundo a não ser pela linguagem. O mundo seria, então, "um só", uma mesma realidade, ainda que, ao acessar o mundo pela linguagem, dois corpos (ou um corpo em momentos diferentes) possam experienciar mundos distintos (Eicheverria, 1994).
Mas como de dá, então, o fenômeno que observamos em que corpos individuais (seres humanos individuais) tenham o mesmo acesso ao mundo - acesso a um mesmo mundo - ou pelo menos experimentem uma regularidade na descrição desse mundo, permitindo-os conversar sobre esse mundo de modo mutuamente compreensível? As duas respostas tradicionais, em ciências linguísticas, para essa questão, é que a linguagem é universal no humano e, por outro lado, que a linguagem é específica da espécie humana. Ou seja, de algum modo (a resposta particular varia segundo determinadas linhas de pesquisa, escolas e correntes de pensamento) estamos naturalmente equipados para produzir, processar ou experienciar a linguagem de modo semelhante, enquanto membros da mesma espécie. Por exemplo, para a escola da gramática gerativa, uma das mais influentes em ciências linguísticas e ligada ao cognitivismo no contexto das ciências cognitivas, o processo gerativo básico da linguagem é a sintaxe: a manipulação de símbolos como um processo geneticamente disponível na constituição da arquitetura neural do humano que permite uma convergência do desenvolvimento linguístico de qualquer falante (ceteris paribus) em uma mesma comunidade de fala. Podemos hierarquizar esse domínio de explicações como no Esquema 1, abaixo:

Corpo > sintaxe > interação (linguagem)
Esquema 1 - Hierarquia do domínio de explicações lingüísticas.

Explicitando a hierarquia acima: a) o corpo humano possui tais e tais características anatômicas e fisiológicas universais e específicas da espécie; b) essas características universais produzem regularidades gerativas, como a sintaxe; c) finalmente, essas regularidades permitem a interação linguística entre os corpos humanos: o conversar, o apontar comum para as coisas do mundo.
Assim como acontece em muitas outras linhas investigativas da linguística, a gramática gerativa explica a linguagem aceitando, como princípio explicativo, que a linguagem é um produto do corpo, no caso mediado pela sintaxe. No caso da gramática gerativa, o mecanismo gerativo (a explicação) da linguagem é a sintaxe: um sistema de manipulação de símbolos embutido em nossa arquitetura neural. Outras explicações, de outras escolas, falam do envolvimento do cérebro na ação de denotar, de apontar para coisas do mundo. Outras, ainda, sobre a capacidade cognitiva de aprender a linguagem em correspondência com os fatos do mundo. Em um e outro caso, as regularidades encontradas na linguagem, seja a sintaxe ou os símbolos, ao mesmo tempo em que são produzidas ou aprendidas pelo corpo (humano), tornam-se o mecanismo que explica o fato de podermos conversar uns com os outros acerca do mundo.
O problema das abordagens supracitadas é que a relação entre corpo e linguagem não é explicitada, ainda que o corpo seja apontado como causando a linguagem: o corpo, aqui, é utilizado como um princípio explicativo. De onde vem a linguagem? Resposta: das regularidades (a sintaxe ou os símbolos). E de onde vêm as regularidades? De um corpo geneticamente dotado para produzir tais regularidades. Para nós, no entanto, a pergunta crucial sobre a linguagem é justamente entender como, dado um organismo vivo (que pode ser um ser humano), surge o fenômeno do conversar, do apontarmos juntos para as coisas. As relações entre a corporeidade, os domínios lingüísticos e o linguajar humano serão expandidas nos tópicos seguintes.

Relação corpo e linguagem na abordagem da Biologia do Conhecer
No contexto da escola chilena da Biologia do Conhecer (BC), uma abordagem sistêmica para a explicação do viver e do conhecer, um sistema vivo é uma organização autopoiética (Maturana e Varela, 1997). Isso faz referência à produção (poiesis), no curso do viver, dos próprios elementos que constituem, a cada momento, o sistema vivo. Em segundo lugar, esse sistema (assim como qualquer sistema passível de uma explicação científica), é um sistema determinado estruturalmente. Isso significa que tudo o que acontece com o sistema depende, a cada momento, de sua própria estrutura, e não, da instrução interna determinada pelas perturbações externas, ainda que as perturbações possam desencadear as mudanças internas, determinadas pela estrutura do organismo. Observar essa dinâmica organismo-meio nos permite dizer, enquanto observadores do processo, que o sistema muda, a cada momento, em congruência com a sua história de interações (Vianna, 2008). Ainda, dentro das coerências explicativas da BC, devemos fazer a distinção entre organização e estrutura. A organização é o sistema como um todo definido pela relação entre seus componentes: se a organização se perde, o sistema não existe mais enquanto sistema de um determinado tipo. A estrutura (a relação particular entre os componentes do sistema) pode variar sem perda da organização (Maturana e Varela, 1990). No caso do vivo, essa diferença entre estrutura e organização é crucial, pois o vivo é um sistema dinâmico, variando estruturalmente sem perder a organização, ou, seja, o vivo sofre contínuas mudanças estruturais com conservação da organização em toda a sua ontogenia, do nascimento até a morte, sem a perda da organização autopoiética (Maturana e Varela, 1990; Vianna e Gómez-Soriano, 2007).
Ao observar um sistema vivo, distinguimos dois domínios distintos, que não se intersectam operacionalmente (apesar de, como observadores, possamos apontar uma correspondência entre os dois): no domínio da fisiologia, observamos as relações particulares e dinâmicas entre os componentes do organismo; e, no domínio do comportamento, observamos o organismo, em sua totalidade, em interação com o meio (Maturana, 1997).
Como tanto o organismo quanto o meio são sistemas determinados estruturalmente, tudo o que acontece com cada um deles é determinado pelas respectivas estruturas de ambos e não pela instrução de um sobre o outro. No entanto, as modificações estruturais por que passa o organismo possuem uma correspondência histórica justamente com o curso de suas interações com o meio: o organismo irá mudar em congruência com as perturbações do meio, assim como o meio irá mudar, de forma correspondente, em acordo com as interações com o organismo. Esse processo de interações recorrentes do organismo em um meio é chamado por Maturana e Varela de acoplamento estrutural. Conservar o acoplamento estrutural com o meio é condição necessária para a conservação da autopoiese - organização a que pertence o ser vivo. A história ontogenética e filogenética em que o vivo se mantém em acoplamento estrutural com o meio, mudando a estrutura mas conservando a sua organização é denominado de deriva natural. Se mais de um organismo está envolvido, o processo como um todo é denominado de co-deriva natural (Maturana e Podozis, 1992).
No caso do observador descrever dois (ou mais) organismos em interações recorrentes, o olhar do observador estará direcionado para o sistema, como um todo, ou seja, aquele constituído pelos dois, ou mais, organismos e o entorno. Nos termos da BC, isso significa que suas respectivas organizações autopoiéticas são conservadas em coerência com a história das relações entre os dois sistemas vivos observados e referenciados. Veja que, operacionalmente, para o organismo, tudo o que existe são perturbações externas que ele irá tratar como perturbações de um, ou outro tipo, dependendo de sua própria estrutura interna. O organismo não distingue entre um meio inerte e um sistema vivo. Quem faz essa distinção somos nós, observadores, na descrição de um sistema em que podemos observar, ao mesmo tempo, o curso das interações e as mudanças estruturais do organismo ou dos organismos envolvidos.

Domínio linguístico e linguagem
O fato de ser preciso um observador para fazer a distinção entre fisiologia e comportamento não é secundário, mas crucial: isso significa que estamos levando em conta, na explicação, o fundamento biológico do linguajar, que é a coordenação de coordenação de ações em um domínio consensual. O observador é um organismo (no caso, um organismo humano), que diz aquilo que diz de acordo com a sua própria experiência, mas diz o que diz a outro observador, que irá escutá-lo a partir de uma história de interações (ou de uma mesma comunidade de conversações) e irá coordenar suas ações de forma correspondente à interação na linguagem.
A manutenção do acoplamento estrutural entre os organismos participantes de uma interação recursiva configura um domínio linguístico. Veja que, para haver um domínio linguístico, nos termos da BC, não é necessária a participação de um organismo humano na interação. Bastam coordenações de ações recursivas entre dois ou mais organismos em acoplamento estrutural co-ontogênico. Ainda, uma rede social pode ser formada como uma rede de interações consensuais e recursivas entre os membros de uma mesma comunidade de organismos. Nos termos da BC, o que é peculiar às interações humanas é que as próprias coordenações de ações co-ontogênicas, ou seja, o comportamento consensual, é utilizado como elemento para novas coordenações de ações. Linguagem são coordenações de coordenações condutuais consensuais. É como se desse uma volta sobre a volta, recursivamente, ou seja, incorporando continuamente a experiência e a criação da novidade (linguística), no rodar.
Ainda que, para a Biologia do Conhecer, seja possível que nós, seres humanos, possamos manter coordenações condutuais com outros organismos não-humanos (nossos animais domésticos, por exemplo), não vivemos com eles, ininterruptamente, na linguagem.
Veja que, para falar de domínio linguístico e de linguagem, aqui, não precisamos fazer referência a nenhum elemento tradicionalmente descrito como característico da fala humana. Nenhum som, gesto ou desenho particular pertence à linguagem. Da mesma forma, qualquer som, gesto ou desenho particular pode pertencer à linguagem, pois essa é definida historicamente. Se há recursão, se há consenso, se no curso da interação aquele som, gesto ou desenho é distinguido como um elemento na coordenação de coordenação de ações recursivas e consensuais, ele fará parte da linguagem na descrição do observador (Eicheverria, 1994). O mesmo se dá com outras regularidades percebidas na língua, como a sintaxe. A sintaxe só pode ser descrita como uma regularidade das interações linguísticas a partir do momento em que se tornem consensuais e recursivas. É preciso fazer referência à história, ao curso de interações, para se dizer que uma palavra pertence à linguagem. E como as interações linguísticas podem conformar uma comunidade de interações (como no caso humano), podemos dizer que as palavras são "nós" nessa rede de interações consensuais e recursivas.
Uma exigência na BC é que, em uma explicação mecanicista, é preciso distinguir entre um sistema e seus componentes, tratando-os como "unidades operacionalmente diferentes, que pertencem a conjuntos discretos que geram domínios fenomênicos que não se intersectam" (Maturana, 1997: 27). Isso é exatamente o que um observador faz quando distingue os componentes de um sistema vivo (a fisiologia) ou, de outro lado, o operar desse sistema em um meio (o comportamento). Assim, fisiologia e conduta são dois domínios diferentes, operacionalmente disjuntos e não podem ser confundidos, sob pena de cometer equívocos na descrição. Por exemplo, pode se falar que a memória depende da atividade das redes neurais, enquanto propriedade emergente desta rede, mas é um equivoco falar que a memória está guardada nos neurônios, haja vista que a memória pertence à relação do individuo (corpo) com o meio e não do sistema nervoso (domínio da fisiologia) diretamente com o meio externo. Afirmar isto seria um reducionismo. Se há redução fenomênica, a explicação pressupõe uma força vital (vitalismo) e não um mecanismo.
Nesta perspectiva, devemos também distinguir os elementos de uma interação linguística (os organismos e os sons, gestos ou desenhos utilizados na interação) e a própria interação. Nenhum elemento do organismo é responsável por "produzir" linguagem, pois a linguagem está no domínio interpessoal e não pode, portanto, ser reduzida à fisiologia do organismo, sob pena de um equívoco reducionista. Da mesma forma, nenhuma palavra (sons, gestos ou desenhos) ou gramática pode ser colocada em uma posição gerativa da linguagem, justamente por dependerem do consenso para surgirem. As palavras e a gramática já fazem parte da descrição da linguagem no momento em que esses elementos são descritos como uma parte dela.
Destarte, o modo de vida humano surge e se conserva na linguagem como modo de conservar sua organização. Para Maturana (1997: 168) o humano vive nesse "fluir de interações recorrentes". E como a fisiologia muda em congruência com a história das interações do organismo, devemos esperar uma correspondência estrutural do organismo humano com o curso de suas interações na linguagem. Do mesmo modo, ao falarmos do processo de denotação, de apontar para um mundo lá fora com nossas palavras, não precisamos fazer referência nem a uma constituição cognitiva prévia do humano (pois esse é um domínio que não se intersecta com o domínio comportamental), e nem a uma realidade "informativa" lá fora (pois tudo o que acontece com o organismo é determinado, nele, estruturalmente). Falamos da denotação como se estivéssemos apontando para um mundo prévio lá fora, mas tudo o que estamos fazendo, de fato, é coordenando nossas ações com outros observadores.
Assim, a denotação, como afirma Maturana (1997: 150) "não é uma operação primitiva. Ela requer concordância - consenso - para a especificação, tanto do denotante, quanto do denotado. Se a denotação, portanto, não é primitiva, não pode ser tampouco uma operação linguística primitiva".
Se denotação não é uma operação primitiva, não é preciso fazer referência a uma realidade externa "intermediada" pela linguagem. De fato, apontamos (descrevemos) consensualmente para objetos do mundo e é na descrição desse apontar para os objetos, de modo consensual, que surge, ao mesmo tempo, a denotação e os objetos que trazemos à mão no linguajar. A linguagem é um espaço de relações em que nos movemos e é neste mover recursivo na linguagem que surgem tanto o ato de observar quanto o próprio observador.

Domínio linguístico e linguagem não-humana
Iniciaremos este tópico fazendo uma pergunta provocativa, qual seja: é possível falar em linguagem não-humana?
Ainda que a BC não utilize o termo "linguagem" para as interações recorrentes não-humanas, nesse domínio explicativo podemos, pelo menos, tratar essas interações de modo bem diferente das abordagens tradicionais da psicologia comparada e da etologia.
O bonobo (Pan paniscus) Kanzi é a estrela nas pesquisas com linguagem símia, ou linguagem não-humana, da psicologia comparada. Kanzi comunica-se, basicamente, através de um teclado de "lexigramas", símbolos criados na década de 70 para experimentos em linguagem símia mas que, posteriormente, foram utilizados também para o trabalho com crianças humanas autistas. Kanzi estava sempre por perto durante o treinamento de sua mãe adotiva, Matata, e foi observado utilizando o teclado algumas vezes. No dia seguinte à saída de Matata do experimento (para fins de procriação) houve a primeira tentativa de treinamento formal de Kanzi. Nesse primeiro dia de aula, Kanzi utilizou o teclado de lexigramas 120 vezes, sem ter sido requisitado a fazê-lo. Comunicou-se fluentemente com a pesquisadora Sue Savage-Rumbaugh através dos lexigramas e, segundo a investigadora, sabia o que os símbolos significavam (Savage-Rumbaugh e Lewin, 1994).
A carreira de Kanzi prossegue (ainda hoje) com outras conquistas linguísticas e cognitivas tão reveladoras quanto seu desempenho precoce com os lexigramas. Kanzi desenvolveu um repertório vocal próprio e controlado, utilizado em seus processos interacionais com humanos e outros símios, além da compreensão do inglês falado. Muito da admiração pelo desempenho de Kanzi vem de sua manipulação de símbolos equivalentes àqueles utilizados num contexto humano, e ações igualmente apropriadas para o observador humano (é justamente o desempenhar de "ações apropriadas" o que nos leva a dizer, ao observar a performance de Kanzi, que o que ele faz é linguagem). Pensamos, no entanto, que o dado mais fundamental da ontogenia de Kanzi, que nos leva a apontá-lo como um ser linguístico, foram seus processos relacionais. Os modos de aquisição linguística de Kanzi, ao menos inicialmente, não eram parte de um experimento formal, mas o resultado da relação co-ontogênica estabelecida com a mãe e os cuidadores humanos e da relação ecológica estabelecida com atividades, palavras e objetos ligados à investigação, cruciais para Kanzi oferecer respostas linguísticas consideradas adequadas por seus investigadores, independente do ceticismo do restante da comunidade científica. No caso de Kanzi, e nos termos da BC, podemos dizer que esse organismo, pelo menos nos momentos em que ele coordena, junto com os investigadores, ações consensuais coordenadas, está na linguagem com os observadores humanos. Frans de Wall (2007) relata vários exemplos dessas recursões linguísticas de bonobos com humanos em seu livro intitulado "Eu, primata".
Outro caso interessante, que talvez não diga respeito à linguagem (nos termos da BC) mas, ao menos, às coordenações recursivas que conformam um domínio linguístico, é o do cavalo Clever Hans (Candland, 1993).
Em 1980, Thomas Sebeok organizou, sob os auspícios da New York Academy of Sciences, um Congresso intitulado "The Clever Hans Phenomenon: Communication with Horses, Whales, Apes and People" (Candland, 1993). O propósito político do congresso foi muito mais discernível que seu conteúdo científico, a começar pelo título: o "fenômeno Clever Hans", cuja simples menção é suficiente para lançar suspeitas sobre qualquer pesquisa em linguagem não-humana.
O cavalo Clever Hans mobilizou vários estudiosos, no início do século XX, para entender como esse animal, além de compreender alemão falado, respondia corretamente às perguntas feitas, batendo os cascos no chão ou realizando outros movimentos corporais. Em 1904 foi constituida uma comissão reunindo zoólogos, professores, donos de circo e até militares para avaliar o fenômeno. Os membros da comissão investigavam a possibilidade de truques, principalmente pistas não-verbais dadas por seu cuidador, Wilhem Von Osten, mas chegaram à conclusão que, apesar de não ser possível avaliar a inteligência de Clever Hans, nenhum truque podia ser detectado. O psicólogo Oskar Pfungst (aluno de Carl Stumpf, membro da Comissão) continuou os estudos com Hans, e, por meio de engenhosos experimentos, formulou a hipótese de que o cavalo, por algum meio não compreendido, era capaz de detectar mudanças comportamentais na audiência, iniciando ou completando seus próprios movimentos indicativos da resposta (Candland, 1993).
Se a história investigativa do cavalo Clever Hans é admirável, o mito Clever Hans atingiu uma dimensão científica bem maior, alimentado igualmente por opositores e defensores dos estudos em linguagem não-humana. Segundo esse mito bem difundido, Pfungst "desvendou a farsa", demonstrando que Clever Hans não era nem inteligente nem linguístico, mas um animal induzido por pistas inadvertidas de Van Osten e outros membros da audiência. Para os pesquisadores em linguagem não-humana, portanto, o desafio é demonstrar, para a comunidade acadêmica, que a própria pesquisa não sofre o "efeito Clever Hans": seus sujeitos não recebem pistas não-verbais dos investigadores humanos. Mas será possível isolar experimentalmente, na linguagem, o símbolo dos processos gerativos desse símbolo?
Pfungst demonstrou algo que, para nós, é mais fundamental que um conhecimento "denotativo" ou "simbólico" de Clever Hans. Talvez por sua vivência co-ontogênica com o tratador, talvez por ser um organismo particularmente orientado para as ações humanas, o cavalo foi capaz de coordenar suas ações com as ações humanas. E, estando ou não na linguagem (na condição de observador), Clever Hans foi capaz de transformar suas coordenações de ações em palavras - em nós na rede conversacional - para a audiência humana. Para os observadores, naquele momento, Clever Hans estava dizendo algo.

A emergência da autoconsciência e a epigrafe de Nietzsche
Mesmo reconhecendo que termos como consciência e autoconsciência são polissêmicos e que os seus significados dependem do referencial teórico a partir do qual se fala e que, mesmo dentro de uma mesma teoria, ainda assim, eles podem ser matéria de intensos debates (Searle, 1998), vamos primeiramente nos posicionar e explicitar o que estamos denominando com a expressão "emergência da autoconsciência".
Assim, o que estamos conotando como emergência da autoconsciência ou auto-reflexividade é somente a capacidade do homem de fazer referência a si e ao mundo com o qual interage, utilizando o corpo e as recursões linguísticas.
Acreditamos que a dificuldade de compreender a autoconsciência como um fenômeno imanente, particular ao viver biológico humano, reside no fato de termos de encontrar o mecanismo pelo qual somos capazes de distinguir a nós mesmos, como se fossemos entidades independentes de nosso próprio viver, e, ao mesmo tempo, de especificarmos um eu que nos habita e que, portanto, é dependente de nossa biologia.
Este aparente paradoxo pode ser resolvido se aceitarmos que a operação de autoconsciência é uma distinção reflexiva de um "eu" forjado na linguagem, de tal forma que este eu não somente constitui o corpo que surge na distinção, mas também que este eu pode ser referenciado, como uma abstração, no fluir da rede linguística.
Para tornar mais claro este argumento, desdobraremos a questão em duas perguntas, quais sejam: 1- Como este eu, corpóreo e abstrato, é capaz de fazer referência ao mundo e se auto-referenciar, ou seja, como nos tornamos observadores? 2- Como os laços da rede linguística, que nos liga uns aos outros e ao mundo, mesmo se mantendo na exterioridade de nossa corporeidade, nas franjas das relações interpessoais, cria em nós o que, em nós, é tão intimo - a autoconsciência?
Vamos tentar responder estas duas perguntas e esperamos que, ao final, tenhamos explicado nossa indagação inicial, qual seja: como nos tornamos autoconscientes no devir?
Cônscios de que toda explicação exige tanto uma condição formal, mecanismo gerativo, quanto uma informal, aceitabilidade, convidamos o leitor para participar conosco da formulação de um mecanismo gerativo para a autoconsciência. Antes, porém, faremos uma solicitação, sem a qual será impossível caminharmos juntos: é indispensável romper com a crença de que representamos os objetos que estão no mundo em nossa mente, como um espelho.
A razão de nosso alerta e de nossa controversa advém do fato de que tanto a célula nervosa quanto o sistema nervoso, como um todo, é sensível somente à intensidade dos sinais químicos de seu próprio modo de operar e, portanto, não podem captar e processar informações ou qualidades do mundo lá fora, como música, cheiro, sabor, cores, etc. Ou seja, não há uma correspondência, ponto a ponto, do que acreditamos ser o mundo lá fora com o que acreditamos ser o mundo de dentro - nossa mente. Somente para se ter uma ideia da ordem de grandeza e do diferencial que separa estes dois mundos, para os duzentos ou trezentos milhões de receptores sensoriais, há cerca de dez bilhões de sinapses no sistema nervoso, sugerindo que as dinâmicas internas de nosso próprio organismo, ao se entrecruzarem com as perturbações advindas do meio externo, participam na criação interna do que o organismo "vê", "sente" e nomeia, tais como cores, sons e sensações (Von Foster, 1994).
Quais as consequências desse entendimento para nossa discussão?
A consequência mais fundamental é a de que o mundo lá fora, com os seus objetos e acontecimentos, não pré-existem ao observador, pois que eles não são entidades primárias ao ato de observar e, portanto, independentes da biologia do observador. As características que supostamente são dadas às coisas mostram-se também como características do observador. As cores não estão lá fora, independentes de nossa biologia, mas também não estão cá dentro, independentes de nosso mundo cultural. Se isso é assim, nega-se tanto o realismo de um mundo predeterminado que o organismo é capaz de representar quanto o idealismo que toma a percepção como uma projeção de um mundo interno predeterminado (Varela et al. 2003).
É com essa dupla negação que se diz que os objetos não antecedem à distinção que deles é feita pelo observador. Os objetos surgem na práxis do viver do observador e o que é essa práxis do viver humano senão as coordenações de coordenações de ações que realizamos em nosso cotidiano?
Seguindo esta linha de raciocínio, o observar surge no domínio das coerências experienciais inerentes ao próprio viver. Ao darmos ênfase ao processo, deslocamos a posição do observador de ente corporificado para ente operacional.
Se o leitor aceitou que é impossível a este ente operacional fazer referência a algo fora de seu domínio de experiências, fora de sua própria história, deduz-se que os objetos, o corpo e suas partes e, por extensão, o próprio "eu", surgem no operar das coordenações de coordenações condutuais consensuais, ou seja, na linguagem. É importante notar que, embora enclausurados em nossa própria biologia, nós só nos tornamos observadores na presença do outro, ao partilharmos do processo recursivo e transgeracional que é o viver na linguagem.
O importante é que nós repetimos esse processo conservado transgeracionalmente em cada ontogenia. Assim, quando nascemos e nos inserimos no mundo através das primeiras triangulações criadas pelo apontar da mãe, no sentido lato deste termo, para um objeto, que pode ser o nosso corpo ou parte dele, já estamos na linguagem.
A necessidade do outro, fundado na relação, já nos coloca frente ao desafio de responder à segunda questão anteriormente formulada, qual seja: como os laços de uma rede linguística podem criar em nós o que, em nós, é tão intimo - a autoconsciência?
A Biologia do Conhecer tem nos mostrado como o devir autoconsciente pode ser entendido como uma co-emergência da experiência de um mundo vivido e da identidade do eu vivente (Varela et al, 2003). No entanto, há de se fazer uma ressalva: a experiência é claramente um evento pessoal, mas isso não significa que seja um evento privado, no sentido de algum tipo de sujeito isolado que caiu de pára-quedas sobre um mundo objetivo previamente dado. Se aceitarmos a ressalva que a experiência é tanto um evento pessoal, porque necessariamente auto-referencial, mas também coletivo, porque necessariamente relacional, poderemos compreender o surgimento de seres vivos capazes de fazer referência ao mundo e se auto-referenciar, sem termos de apelar para uma transcendência ou para a imanência de um suposto "eu", independente e centro desta vivência (Varela et al., 2003).
Seria este o entendimento de Nietzsche (que nós recusamos a acreditar): o corpo que procede como um "eu", sem precisar falar!

Referencias Bibliográficas
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Notas
Luiz Antonio Andrade
E-mail para correspondência: labauff@yahoo.com.br.

O amor como princípio epistemológico em Humberto Maturana

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Por uma ecologia da aprendizagem humana –
o amor como princípio epistemológico em Humberto Romesín Maturana

VALDO BARCELOS


Este texto é a síntese de alguns anos de estudos e pesquisas onde as idéias do pensador chileno Humberto Romesín Maturana são tomadas como uma referência importante para o entendimento do processo educativo. A ênfase é buscar contribuir para a construção de um processo de aprendizagem humana, que tenha como ponto de partida alguns valores como: solidariedade, cooperação, acolhimento e reconhecimento do outro. Neste texto, discuto a idéia de Maturana do amor como o princípio epistemológico para a construção de uma aprendizagem que privilegie a cooperação entre os seres humanos e não a competição. Esta idéia está ancorada na tese de que nos construímos humanos não pela competição e sim pela cooperação.

Descritores – Humberto Maturana; aprendizagem humana; amor e epistemologia.




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Octavio Paz - O Arco e a Lira

https://pt.scribd.com/doc/99149378/Octavio-Paz-O-Arco-e-a-Lira-COMPLETO#download

Um dos livros-chave para a compreensão da experiência poética e da poesia de todas as épocas e matizes, O arco e a lira (1956), de Octavio Paz, Prêmio Nobel de Literatura em 1990, é também um relato a um só tempo rigoroso e apaixonado das possibilidades da linguagem e da imaginação. Paz esmiúça cada aspecto do fazer poético com argumentação original e exemplos de rara erudição, o que resulta num livro inspirado e inspirador, que escapa dos limites acadêmicos e atinge também o leitor não especializado


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/97545-quoto-arco-e-a-liraquot-reflete-a-forca-do-poeta-e-critico-octavio-paz.shtml






















sábado, 28 de novembro de 2015

A questão da neutralidade em Max Weber

É possível isentar-se dos valores construídos socialmente e elaborar, por sua vez, um conhecimento autêntico?

Em que medida e circunstâncias a neutralidade/ imparcialidade não passa (e limita-se) a uma utopia científica?
Para chegar à neutralidade axiológica Weber utiliza um recurso metodológico: os tipos ideais. De forma resumida, os tipos ideais representam, basicamente, a construção teórica de causas irreais para se chegar às causas prontamente reais. A partir desse procedimento – a saber, a delimitação dos tipos ideais – é possível detectar, no plano erigido pelo cientista, o que é e, do mesmo modo, o que não deve ser.
Desse modo, os tipos ideais são um recurso metodológico que o cientista se utiliza em determinado momento, mas que, de início, representam somente um modelo abstratoNão constituem, de maneira alguma, uma etapa final do processo de investigação, mas apenas um meio. No tocante à neutralidade axiológica, os tipos ideais são considerados para Weber uma ferramenta útil. Não representam a realidade, mas apenas indícios da mesma e podem ser utilizados pelos cientistas sociais. A partir desse procedimento, segundo o autor, é possível flexibilizar a pesquisa científica e alcançar, de forma cognoscível, um conhecimento objetivo.
Nesse sentido, a figura de Weber é central, uma vez que, tentando superar as limitações da neutralidade axiológica de sua época pretendeu, com suas formulações e estudos, atingir um nível mais elaborado do conhecimento objetivo.
De forma sucinta, ao analisar as implicações em torno da neutralidade axiológica em Max Weber, evidentemente, muitas questões saltam aos nossos olhos e mostram-se altamente pertinentes. É incontestável a contribuição de Weber para as ciências da cultura. Entretanto, é difícil escamotear que o processo de investigação científica seja carregado por valores subjetivos. 

Dessa forma, a busca pela clássica objetiva não exclui, de maneira absoluta, por assim dizer, sua amiga: a subjetividade. Ao contrário, 
é no contato – e na fronteira – entre esses dois elementos que surge, efetivamente, o caráter ideológico do conhecimento científico na sociedade capitalista.

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A questão da neutralidade em Max Weber

O tema da neutralidade (axiológica ou, numa acepção mais comum, a imparcialidade) é, sem dúvida, um assunto que levanta discussões e atrai, como uma fruta saborosa e convidativa, os intelectuais (desde jornalistas até empresários) comprometidos com um saber ou decisões – aparentemente – “científicas e objetivas”. O tratamento rigoroso de determinadas questões, assim como os elementos teórico-metodológicos, fazem parte de um repertório que busca constantemente, à sua maneira, a utilização correta dos procedimentos científicos com o objetivo de elaborar resultados plausíveis e, sobretudo, objetivos.
Do ponto de vista social e histórico, a neutralidade é um procedimento exequível, em outras palavras: é possível isentar-se dos valores construídos socialmente e elaborar, por sua vez, um conhecimento autêntico? Em que medida e circunstâncias a neutralidade/ imparcialidade não passa (e limita-se) a uma utopia científica? Parafraseando o historiador Febvre (1989), a cidade da objetividade pode, realmente, vigiar e expulsar, de vez, o cavalo de Tróia da subjetividade? Essas questões, embora sucintas, nos ajudam a pensar, de fato, as características do saber científico e, com isso, também nos ajudam a esquivar de um emaranhado de armadilhas e ideias sem fundamentação.
Dentro desse contexto, a figura do barbudinho e sociólogo Max Weber é referência obrigatória, por um lado, ao desenvolver um método específico para as ciências sociais – ou seja, o método compreensivo – e, por outro lado, por conferir legitimidade às ciências sociais e elevá-la, diretamente, ao estatuto de ciência. Na obra de Weber e, por conseguinte, na sua vida individual, a “neutralidade axiológica” ou precisamente a “isenção de valores” (Wertfreiheit) assume um papel fundamental – e, por sinal, onipresente – em seus postulados teóricos.
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De início, duas questões são válidas e esclarecedoras para nossa discussão: em primeiro lugar, é fundamental contextualizar que a palavra “objetividade”, em contraposição à palavra “subjetividade”, era uma aspiração intelectual que, na época de Weber e no campo do positivismo do século XIX, significava a independência completa dos valores e posições de um indivíduo. Por outro lado, a palavra “objetividade” denotava, basicamente, a análise pura – isto é, sem intermediários – de um objeto.
Desse modo, a compreensão dos fenômenos sociais e políticos, em termos científicos, só teriam validade a partir do momento que oWEBER_02-300x300 cientista abnegasse seus valores e concepções pessoais e, finalmente, realizasse uma análise precisa sem mediações e ideologias. Outra questão fundamental é, ademais, o conceito de axiologia. O que é axiologia? Para muitos – e seguindo a etimologia da palavra – é considerada “ciência dos valores” ou, mais adiante, um ramo científico que, para além das questões valorativas, preocupa-se em elaborar um conhecimento, por assim dizer, objetivo.  Se analisarmos a axiologia do ponto de vista prático e não somente teórico, conclui-se, de fato, que é uma proposta de difícil aplicação.
Dentro desse contexto, qual seria, aliás, a concepção de Max Weber ao desenvolver – em seus escritos – a idéia de neutralidade axiológica? Teria esse autor, como os demais de sua época, caído na idéia ingênua de acreditar na neutralidade como um campo isento de qualquer concepção ideológica ou subjetiva? Ademais, qual procedimento torna possível uma efetiva neutralidade em que o indivíduo é capaz de produzir, a seu modo, um conhecimento (totalmente) puro? Para responder essas questões, além de uma análise pontual e concisa das principais idéias e procedimentos desenvolvidos pelo respectivo autor em estudo, é necessário recorrer à própria trajetória intelectual de Weber.
A preocupação de Weber com a objetividade nas ciências sociais – ou mais precisamente, com as ciências da cultura – é resultado, de um lado, do contexto histórico-social da República de Weimar na Alemanha, instaurado logo após a I Guerra Mundial e ligado, diretamente, à legitimação das ciências humanas num contexto marcado, sobretudo, pelas ideias de cientificidade e a emergência de um método contingente e plausível para as ciências humanas, já que, em decorrência da hegemonia das ciências naturais e do positivismo, a disputa entre as duas tendências no âmbito estritamente científico eram, de fato, conflituosas.
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Naquela conjuntura, e durante a existência de Weber, em determinadas passagens de suas obras é possível perceber, de modo categórico, a exposição de problemas enfrentados pelas universidades alemãs, impregnadas de ideologias – profissão de fé em relação à política e à religião.  Nota-se que em sua trajetória intelectual e teórica a busca da neutralidade axiológica resultou, dentre outros fatores, no abandono da Associação para a Política Social (Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik) e, mais adiante, da Sociedade Alemã de Sociologia.
É, portanto, nesse contexto que Weber buscou valorizar um conhecimento objetivo, longe de juízos de valores e o comprometimento com a realidade concreta (em outras palavras, a busca pela neutralidade científica). O título de seu trabalho A “objetividade” do conhecimento nas ciências sociais não é escolhido aleatoriamente, ou seja, é interessante observar em nossa discussão que Weber coloca a palavra “objetividade” entre aspas. Isso mostra, certamente, que o respectivo autor não tratará de forma simplista o tema da objetividade como algo dado, pronto e acabado.
 Ao contrário: Weber problematiza a idéia de objetividade e a coloca, portanto, em discussão. Naturalmente, essa preocupação com os termos além de representar, em certa medida, o avanço intelectual de Weber é, na verdade, uma tentativa – aparentemente exitosa e plausível – mas certamente cheia de falhas e lacunas teórico-metodológicos – de abnegar à ingenuidade e malogro de outros autores (especialmente Durkheim) que defenderam a isenção de valores. No entanto, a um só tempo Weber pretende justificar, no campo teórico, a possibilidade da neutralidade axiológica.
Segundo a perspectiva weberiana, o procedimento científico deve ser realizado com objetivo de apreender a realidade concreta. No entanto, antes de tudo isso é necessário que o cientista da cultura mantenha uma neutralidade científica para desviar-se das ideias e valores humanos que, no processo de investigação, apareceram como um prato convidativo cheio de iguarias. Com o objetivo de explicar suas ideias a respeito da neutralidade axiológica, em termos práticos, Weber propõe a separação rigorosa entre juízo de fato (o que é) e juízo de valor (o que deve ser).
 A partir da tensão e o contato desses elementos, pode-se, categoricamente, rastrear o epicentro da teoria de Weber: o conhecimento objetivo (juízo de fato) e, em contraposição, o conhecimento valorativo (juízo de valor). Conforme o próprio nome, o juízo de valor é, para Weber, um conjunto de crenças pessoais, sentimentos: enfim, todos os elementos subjetivos que não podem oferecer, cientificamente, um conhecimento coerente. Dessa forma, segundo o próprio autor “juízos de valor não deveriam ser extraídos de maneira nenhuma da análise científica, devido ao fato de derivarem (…) de determinados ideais, e de por isso terem origens ‘subjetivas’” (WEBER, 2006, p. 109). Em outras palavras: o conhecimento guiado por valores pessoais não contribuiu, como também esconde, em sua análise, alguns elementos da realidade. Como conseqüência, o juízo de valor é responsável por camuflar e ao mesmo tempo restringir o campo de análise.
De maneira sistemática e, talvez forçosamente, Weber, à sua maneira, nos mostra que fazer ciência não implica abandonar (totalmente, aliás) o juízo de valor. Ou seja: o juízo está presente desde o começo da pesquisa e perpassa, basicamente, os elementos a priori da investigação científica (Weber, 2005). Após esses primeiros passos, como a delimitação do tema de pesquisa, as fontes e métodos são, portanto, escolhidos pelo cientista da cultura e obedecem, obviamente, suas predileções individuais.
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Em seus argumentos, Weber defende a neutralidade axiológica afirmando, quase sempre, que o abandono dos valores pessoais é factível no âmbito científico. Em geral, seus argumentos giram em torno da ideia de que o cientista da cultura, utilizando-se, por sua vez, da interpretação, é um atribuidor de significados. Destarte, sua própria condição é perpassada por valores culturais. As perguntas da investigação são, verdadeiramente, oriundas da perspectiva do pesquisador, mas as respostas devem constituir-se livres de julgamentos ideológicos. Para Weber, cabe ao pesquisador refrear, no processo de análise de dados, os julgamentos valorativos e, por conseguinte, elaborar um conhecimento objetivo.
Para chegar à neutralidade axiológica Weber utiliza um recurso metodológico: os tipos ideais. De forma resumida, os tipos ideais representam, basicamente, a construção teórica de causas irreais para se chegar às causas prontamente reais. A partir desse procedimento – a saber, a delimitação dos tipos ideais – é possível detectar, no plano erigido pelo cientista, o que é e, do mesmo modo, o que não deve ser.
Desse modo, os tipos ideais são um recurso metodológico que o cientista se utiliza em determinado momento, mas que, de início, representam somente um modelo abstrato. Não constituem, de maneira alguma, uma etapa final do processo de investigação, mas apenas um meio. No tocante à neutralidade axiológica, os tipos ideais são considerados para Weber uma ferramenta útil. Não representam a realidade, mas apenas indícios da mesma e podem ser utilizados pelos cientistas sociais. A partir desse procedimento, segundo o autor, é possível flexibilizar a pesquisa científica e alcançar, de forma cognoscível, um conhecimento objetivo.
Nesse sentido, a figura de Weber é central, uma vez que, tentando superar as limitações da neutralidade axiológica de sua época pretendeu, com suas formulações e estudos, atingir um nível mais elaborado do conhecimento objetivo.
De forma sucinta, ao analisar as implicações em torno da neutralidade axiológica em Max Weber, evidentemente, muitas questões saltam aos nossos olhos e mostram-se altamente pertinentes. É incontestável a contribuição de Weber para as ciências da cultura. Entretanto, é difícil escamotear que o processo de investigação científica seja carregado por valores subjetivos. 

Dessa forma, a busca pela clássica objetiva não exclui, de maneira absoluta, por assim dizer, sua amiga: a subjetividade. Ao contrário,
é no contato – e na fronteira – entre esses dois elementos que surge, efetivamente, o caráter ideológico do conhecimento científico na sociedade capitalista.

Texto adaptado para o Causas Perdidas. Publicado originalmente na Revista Espaço Livre.
PEREIRA, Alan Ricardo Duarte. A neutralidade axiológica em Max Weber: crítica e convergência de uma debate.  Revista Espaço Livre.Vol. 08 num. 15 jan/jul 2013. Disponível para leitura onlinehttp://revistaespacolivre.net/el15.pdf.

Revisado por Bruno Oliveira – https://www.facebook.com/bru.know









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Fonte: http://causasperdidas.literatortura.com/2013/09/06/questao-neutralidade-max-weber/