http://www.ufmg.br/ieat/2011/09/humberto-maturana/
Humberto Maturana - Universidade do Chile
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Humberto Maturana é biólogo, nascido no Chile, e co-criador da Teoria da Autopoiese junto com Francisco Varela. Na década de 50 Maturana trabalhou com o pioneiro da epistemologia experimental Warren McCullouch, e desenvolveu vários trabalhos de ruptura na área de neurofisiologia da percepção. Publicou inúmeros artigos em revistas especializadas, explorando as implicações da teoria da autopoiese em áreas tão diversas quanto a terapia de familia, a ciência política e a educação. É autor dos livros Autopoiesis and Cognition e The Tree of Knowledge (ambos em parceria com Francisco Varela), Origen de las Especies por Medio de la Deriva Natural (em parceria com Jorge Mpodozis), El Sentido de lo Humano, Emociones y Lenguaje en Educacion y Politica, La Democracia como una Obra de Arte, Amor y Juego: Fundamentos Olvidados de lo Humano (com Gerda Verden-Zoller), dentre outros. Desde o início dos anos 50 Maturana vem atuando como professor da Universidade do Chile, onde criou o Laboratório de Epistemologia Experimental, atualmente dirigido por seu ex-aluno e colaborador Jorge Mpodozis. Em 1995 Maturana foi premiado pela Academia de Ciências do Chile em reconhecimento ao conjunto de sua produção intelectual.
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As idéias de Maturana e sua repercussão
Paulo Margutti *
segunda metade do século 20 foi marcada pela ascensão de uma nova abordagem científica de caráter sistêmico, em que as ciências da vida desempenham um papel paradigmático. Nesta nova perspectiva, as idéias do biólogo chileno Humberto Maturana exercem um papel fundamental. Embora seja bastante difícil resumi-las, vale a pena uma pequena introdução, com o objetivo de motivar estudos posteriores.
De acordo com Maturana, a organização comum a todo sistema vivo unicelular é aautopoiese ou produção de si próprio. A célula é uma rede de processos, na qual cada elemento constitutivo participa da produção de outros. A rede produz os seus componentes e é produzida pelos seus componentes. Neste sentido, ela produz a si mesma e possui auto-organização ou fechamento operacional. Nosso sistema nervoso, por exemplo, funciona como uma rede fechada de processos: ele é uma rede auto-organizada e auto-referente, de tal modo que a percepção das coisas não constitui a representação de uma realidade exterior, mas sim a criação de um mundo particular. É por isso que uma rã cujo olho foi cirurgicamente girado por 180º lança a língua para o lado errado, quando tenta caçar um inseto. É por isso que nossa percepção do mundo vem acompanhada de uma série de ilusões. O que nos permite corrigi-las é o fato de interagirmos com o ambiente. São as interações que ajudam a determinar a correção de nossas percepções. Maturana dá o nome de acoplamento estrutural ao domínio destas interações.
Deste modo, todos os sistemas vivos são conhecidos através de dois domínios de descrição complementares e independentes. No domínio do fechamento operacional (fisiologia), tudo aquilo que é aceito como perturbação do sistema é determinado pela dinâmica interna do próprio sistema. Neste caso, esta dinâmica é relevante para a descrição, mas não as interações com o ambiente. No domínio do acoplamento estrutural (conduta), a estrutura do ambiente dispara mudanças no sistema, sem, entretanto, especificá-las ou dirigi-las, e a estrutura do sistema dispara mudanças no ambiente, também sem especificá-las ou dirigi-las. Neste caso, as interações com o ambiente são relevantes para a descrição, mas não a estrutura interna do sistema. Assim, quando o sistema vivo sobrevive num dado ambiente, temos uma história de mudanças estruturais em ambos, as quais são mutuamente disparadas e congruentes. De acordo com Maturana, embora as duas descrições sejam válidas e necessárias para uma compreensão mais completa dos sistemas vivos, podemos criar problemas quando transitamos inadvertidamente de um domínio de descrição para o outro.
O modelo biológico de Maturana pode ser aplicado na explicação de diversos fenômenos importantes. O conhecimento, por exemplo, pode ser definido como comportamento adequado ou ação congruente com o mundo. Do ponto de vista do fechamento operacional, nós, seres vivos, criamos um mundo; do ponto de vista do acoplamento estrutural, experimentamos interações com o ambiente e corrigimos nossa imagem do mundo a partir delas.
A linguagem, por sua vez, surge a partir do acoplamento estrutural entre seres humanos. Ela depende de uma convivência íntima e colaborativa, que gera uma rede de conversações (conjunto de comportamentos coordenados mutuamente disparados entre os falantes). Nesta perspectiva, a linguagem não envolve transmissão de informação, mas apenas coordenação comportamental num domínio fechado de acoplamento estrutural. As trocas comunicativas constituem verdadeiras coreografias refinadas de coordenação comportamental. Os nossos conceitos são todos derivados destas interações comportamentais.
Quanto à sociedade, ela surge das interações cooperativas e recorrentes entre seus membros. Um sistema social é uma rede de interações que funciona como um meio no qual os seres vivos se realizam como tais e conservam sua organização e adaptação. A base das interações cooperativas humanas é a emoção biológica do amor. Esta constitui a condição dinâmica espontânea de aceitação, por um sistema vivo, de sua convivência com outro sistema vivo. Enquanto fenômeno biológico, o amor não precisa de fundamentação racional. Uma sociedade sem amor se desintegra: não há competição sadia, porque a negação do outro envolve a negação de si mesmo.
Como se pode ver, o modelo de Maturana desloca a explicação de uma série de fenômenos para o nível biológico, naturalizando-os. Isto promete modificações significativas em diversas disciplinas, como, por exemplo, a lingüística, a psicologia, a sociologia, a antropologia etc.
Embora Maturana diga que está fazendo ciência e não filosofia, parece-me perfeitamente possível efetuar uma apropriação filosófica de suas idéias. Penso que seu modelo fornece os elementos adequados para superar muitos dos enigmas tradicionais, como a oposição realismo/idealismo, através da abordagem da dupla descrição. Outro aspecto digno de nota é que Maturana inclui uma dimensão ética no seu modelo, ao afirmar a emoção do amor como base do social. Isto tudo significa uma aproximação harmoniosa entre ciência, filosofia e sabedoria de vida, permitindo uma sintonia maior entre nossa maneira de ver o mundo e a realidade que vivemos. É nesta direção que tem caminhado meu trabalho filosófico.
* Professor titular do departamento de Filosofia
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Universidade recebe Humberto Maturana
Biólogo chileno, autor da Teoria da Autopoiese, faz duas conferências no auditório da Reitoria
m dos mais expressivos pensadores do século 20, o biólogo chileno Humberto Maturana, chega à UFMG para um ciclo de conferências organizado pelo Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT) e Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos da Faculdade de Letras. No dia 19 de março, Maturana falará sobre as Idades da Humanidade. No dia seguinte, abordará o tema A origem da linguagem.
Durante a visita à UFMG, Maturana também se encontrará com o reitor Francisco César de Sá Barreto e sua equipe. "Eles discutirão a universidade do futuro", informa o presidente do IEAT, Ivan Domingues. Maturana também reservará espaço em sua agenda para se reunir com pesquisadores da UFMG influenciados por suas idéias, como Nelson Vaz (ICB), Paulo Margutti (Fafich) e Cristina Magro (Faculdade de Letras).
Nascido em 1928, Humberto Maturana formulou a chamada Teoria da Autopoiese em conjunto com o cientista Francisco Varela. Em linhas gerais, a autopoiese pode ser definida como uma rede fechada de relações moleculares que, ao entrar em funcionamento, produz a si mesma.
Segundo a professora Cristina Magro, do departamento de Lingüística da UFMG, as idéias de Maturana acabaram permeando campos díspares do conhecimento. "Seu pensamento influenciou desde a química (estudos sobre a origem dos primeiros seres vivos) até a psicoterapia, passando pelas áreas de filosofia, lingüística, organização de empresas e engenharia de automação", detalha. Para ela, a obra do pensador chileno tem também o mérito de responder e de se antecipar a questões postas hoje pela chamada ciência da cognição, como o papel das emoções no processo de formação da inteligência.
Brisa alentadora
Na opinião do professor Nelson Vaz, do departamento de Bioquímica e Imunologia do ICB, a obra de Maturana interfere diretamente no combate às "super-simplificações" da biologia comercial e à adoção de regras de produtividade industrial na avaliação do trabalho da Universidade. "A nova visita de Maturana à UFMG é como uma brisa alentadora", define Vaz, para quem a obra do cientista chileno afeta todas as áreas da Biologia. "A abrangência de sua teoria explica a impropriedade das tentativas de apropriação do patrimônio biológico como `recursos' para a exploração econômica."
Na UFMG, o pensamento de Maturana _ hoje reunido na chamada Biologia do Conhecer, que busca compreender as inter-relações entre cognição e linguagem como fenômenos biológicos _ vem sendo estudado desde o final dos anos 80 por diferentes grupos de pesquisadores. Duas coletâneas de artigos do biólogo foram transformadas em livros pela Editora UFMG: Ontologia da realidade e Emoções e Linguagem na Educação e na Política, que figuram entre os seus livros mais vendidos. Uma terceira coletânea está sendo finalizada pela Editora: Cognição, ciência e vida cotidiana, organizada pela professora Cristina Magro, e pelo aluno de mestrado em Lingüística da Fale, Victor Paredes.
Agenda
Dia 19, segunda-feira, às 9 horas
As idades da Humanidade (auditório da Reitoria)
Dia 20, terça-feira, às 9 horas
A origem da linguagem (auditório da Reitoria)
Entrada franca
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http://livrosdamara.pbworks.com/f/Humberto%2520Maturana%2520-%2520Emo%25C3%25A7%25C3%25B5es%2520e%2520Linguagem%2520na%2520Educa%25C3%25A7%25C3%25A3o%2520e%2520na%2520P%25E2%2580%25A6.pdf++++++++++++++++
http://livrosdamara.pbworks.com/f/Humberto%20Maturana%20-%20Cogni%C3%A7%C3%A3o,%20Ci%C3%AAncia%20e%20Vida%20Cotidiana.pdf++++++++++++++++++
http://pensamentosistemico.blogspot.com.br/
EMOÇÕES
Não há nenhuma atividade humana que não esteja fundada, sustentada por uma emoção, nem mesmo os sistemas racionais, porque todo sistema racional, além disso, se constitui como um sistema de coerências operacionais fundado num conjunto de premissas aceitas a priori.
E esta aceitação a priori desse conjunto de premissas é o espaço emocional.
E quando se muda a emoção, também muda o sistema racional.
(ex-traído de "Cognição, Ciência e Vida Cotidiana" H. Maturana, 2001 - ED. UFMG)
# publicado por Haylton : 10:23 AM
Quinta-feira, Abril 07, 2005
RESPONSABILIDADE II
Não, a responsabilidade não é da ciência.
A Responsabilidade é das pessoas. Nenhum domínio de conhecimento é responsável. São as pessoas as responsáveis.
Porque a responsabilidade tem a ver com os desejos das pessoas, com o dar-se conta de que as consequências de seus atos são desejáveis. Tem a ver com o querer, com os desejos. Eu conheço as consequências dos meus atos, e as desejo?
Então meus atos são atos responsáveis.
Conheço as consequências dos meus atos e não as desejo e, portanto, não ajo assim. Então meu não agir é responsável. A responsabilidade do cientista está na sua responsabilidade como pessoa!
(ex-traído de "A Ontologia da Realidade" de H. Maturana, UFMG, 2001)
# publicado por Haylton : 2:47 PM
Terça-feira, Abril 05, 2005
RESPONSABILIDADE
Bem, eu penso que no momento em que a gente se dá conta da responsabilidade - quer dizer, não se encontra simplesmente envolvido com ela; mas se dá conta de que o mundo que vivemos tem a ver com a gente, com o indivíduo - esse é um momento que é
comovente e
libertador.
É comovente porque resulta que o que fazemos não é trivial.
É libertador porque dá sentido ao viver.
Não lhe dá sentido transcendente, mas um sentido imediato todo o tempo. As coisas que fazemos são sempre significativas. Quaisquer que sejam, até mesmo coçar o nariz e, claro, dependendo do espaço em que se faz algo, são distintas sua implicações, sua forma de integração no contexto da convivência.
(ex-traído de "A Ontologia da Realidade" de H. Maturana, UFMG, 2001)
# publicado por Haylton : 6:56 PM
Terça-feira, Março 15, 2005
RACIONALIDADE
Dizem que nós, seres humanos, somos animais racionais.
Nossa crença nessa afirmação, nos leva a menosprezar as emoções e a enaltecer a racionalidade, a ponto de querermos atribuir pensamento racional a animais não-humanos sempre que observamos neles comportamentos complexos. Nesse processo, fizemos com que a noção de
realidade objetiva se tornasse referência a algo que supomos ser universal e independente do que fazemos e que usamos como argumento visando convencer alguém, quando não queremos usar a força bruta.
(ex-traído de "A Ontologia da Realidade" de H. Maturana, 200l - ED. UFMG)
# publicado por Haylton : 3:14 PM
A ÉTICA E O HUMANO
Já contei a experiência que tive na Inglaterra visitando um museu que exibia o
sofrimento provocado pela bomba atômica em Hiroshima, e disse como um amigo meu
se mostrou indiferente à dor daquele povo.
Com relação a esta atitude penso que, se estou na emoção que não inclui o outro
em meu mundo, não posso me ocupar de seu bem estar.
Os discursos sôbre os direitos humanos, fundados na
justificativa racional do respeito ao humano, serão válidos sómente para
aqueles que aceitam o humano como central, para os que aceitam a esse outro
como membro de sua própria comunidade.
É por isso que os discursos sobre os direitos humanos, os discursos éticos fundados na razão, nunca vão além daqueles que os aceitam desde o início, e não podem convencer ninguém que não esteja convencido de antemão. Sómente se aceitamos o outro, o outro é visível e tem presença.
(ex-traído de "Emoções e Linguagem na Educação e na Política" de H. Maturana, 2001)
# publicado por Haylton : 10:13 AM
O HUMANO
O Que Somos? O que é o Humano?
Habitualmente pensamos no humano, no ser humano, como um ser racional, e frequentemente declaramos em nosso discurso que o que distingue o ser humano dos animais é seu ser racional.
Quero chamar atenção para essas afirmações, que são feitas na suposição implícita de que é absolutamente claro o que dizem. Quero fazer isso porque essas afirmações, feitas assim, com tanta liberdade, constituem, realmente, antolhos como os que os cavalos usam para não se assustarem com a trânsito de veículos que os ultrapassam numa velocidade maior que a sua.
Todos os conceitos e afirmações sobre os quais não temos refletido, e que aceitamos como se significassem algo simplesmente porque parece que todo mundo os entende, são antolhos.
Dizer que a razão caracteriza o humano é um antolho, porque nos deixa cegos frente à emoção, que fica desvalorizada como algo animal ou como algo que nega o racional.
Quer dizer, ao nos declararmos seres racionais vivemos numa cultura que desvaloriza as emoções, e não vemos o entrelaçamento cotidiano entre razão e emoção, que constitui nosso viver humano, e não nos damos conta de que todo sistema racional tem um fundamento no emocional.
Emoções são disposições corporais dinâmicas que definem os diferentes domínios de ação em que nos movemos.
Quando mudamos de emoção, mudamos de domínio de ação, e mudamos as nossas racionalizações.
(ex-traído de "Emoções e Linguagem na Educação e na Política" de H. Maturana, 2001)
# publicado por Haylton : 7:45 AM
Segunda-feira, Dezembro 20, 2004
EVOLUÇÃO HUMANA
A Evolução biológica dá-se como um sistema ramificado de filogenias, no qual cada linhagem nova surge como uma ramificação filogenética, quando começa a se conservar, reprodutivamente, um novo modo de vida que é uma variante da que definia a linhagem anterior.
Quando isso acontece, a conservação reprodutiva do novo modo de vida permite que tudo o mais possa mudar em torno dele. E a nova linhagem dura enquanto o modo de vida que a define se conserva, qualquer que seja a magnitude de outras mudanças.
Na qualidade de processo, a evolução acontece como uma deriva filogenética que segue um caminho gerado a cada passo reprodutivo, na conservação de uma forma específica de viver. Esta se estende desde a concepção do organismo até sua morte. A isso chamamos de fenótipo ontogénetico.
É por essa razão que sustentamos, que foi a conservação de um modo de vida que incluia coordenações comportamentais consensuais em ternura e sensualidade sob a emoção do amor - na dinâmica de aceitação mútua em convivência próxima - que tornou possível a origem da linguagem.
No curso da história, isso resultou no primata linguajeante que somos.
Também sustentamos que quando a linguagem surgiu nas coordenações de ações de uma convivência sensual íntima, ela o fez dando forma a uma maneira de viver no entrelaçamento do linguajear com o emocionar. É o que chamamos de conversar e constitui, de fato, a maneira humana de viver
(ex-traído de " Amar e Brincar - Fundamentos Esquecidos do Humano" H. Maturna e Gerda Verden-Zöller - 1993)
# publicado por Haylton : 1:22 PM
Terça-feira, Dezembro 07, 2004
A LINGUAGEM
A forma de vida própria de nossos ancestrais era, basicamente igual à nossa de hoje. Mas sem linguagem: eles viviam em grupos pequenos, como famílias que compartilhavam os alimentos.
Viviam na proximidade sensual da carícia, pois eram animais que andavam eretos. Viviam na sexualidade frontal, o que implicava estar face a face uns com os outros, na ternura e na intimidade de encontros visuais e táteis. Por ultimo, viviam também na participação dos machos na criação dos filhos, num âmbito de relações permanentes, sustentado pela sexualidade contínua, não sazonal, da fêmeas.
A Biologia não determina o que acontece no viver, mas especifíca o que pode acontecer. Não se pode esperar que um gato macho adulto cuide de suas crias. Para ele, elas simplesmente não existem, ou só existem marginalmente.
Mas nós, os machos humanos, não temos nenhum problema em relação a isso - ao contrário. De modo que esse é um ponto importante da história dos seres humanos: os machos têm participado da criação dos filhos. Desse modo de viver em ternura e estreita interação sensual, compartilhando o alimento, com a participação dos machos no cuidado dos filhos, originou-se a linguagem como forma de coordenar ações.
(ex-traido de "Amar e Brincar - Fundamentos Esquecidos do Humano" de H. Maturana e Gerda Verden-Zöller. 1993)
A NOSSA NATUREZA
Na Tradição greco-judaico-cristã de nossa cultura ocidental, percebemos aquilo que chamamos de natureza como um âmbito de forças independentes, com frequência ameaçadoras, que temos de subjugar e controlar para viver.
Não vemos a natureza como nosso domínio de existência e a fonte de todas as possibilidades. Além disso, nossa cultura ocidental nos centra emocionalmente na valorização da intencionalidade, produtividade e controle.
Nossa atenção está tão orientada para os resultados do que fazemos que raramente vivemos o nosso fazer como um ato no presente. Em consequência, não confiamos nos processos naturais que nos constituem e nos quais estamos imersos como condição de nossa existência. Estamos insensíveis para as distorções que introduzimos em nossas vidas e nas dos outros, com nosso contínuo intento de controlá-las.
Mais ainda, devido a essa falta de confiança, vemos as dificuldades que encontramos, em nosso contínuo empenho para controlar a natureza, como expressões de controle insufuciente.
Por isso insistimos no comportamento controlador...
(ex-traído de "Amar e Brincar - Fundamentos Esquecidos do Humano" de H. Maturana e Gerda Verden-Zöller, 1993)
# publicado por Haylton : 2:09 PM
Terça-feira, Novembro 23, 2004
O FAZER HUMANO
Estejamos ou não conscientes disso, o curso da hitória da humanidade segue o caminho do emocionar, e não o da razão ou o das possibilidades materiais.
Isso se dá porque são nossas emoções que constituem os domínios de ações que vivemos nas diferentes conversações em que aparecem os recursos, as necessidades ou as possibilidades. Assim, a vida que vivemos, o que somos e o que chegaremos a ser - e também o mundo ou os mundos que construímos com o viver e o modo como os vivemos - são sempre o nosso fazer.
No fim das contas, ao percebermos que assim é, os mundos em que vivermos serão de nossa total responsabilidade. A compreensão, como modo de olhar contextual, que acolhe todas as dimensões da rede de relações e interações na qual ocorre o que se compreende, abre-nos a possibilidade de sermos responsáveis por nossas ações.
Por fim, se ao percebermos nossa responsabilidade nos dermos conta de nossa percepção e agirmos de acordo com ela, seremos livres e nossas ações surgirão na liberdade.
(ex-traído de "Amar e Brincar - Fundamentos Esquecidos do Humano" de H. Maturana e Gerda Verden-Zöller, 1993)
# publicado por Haylton : 6:45 AM
Terça-feira, Novembro 16, 2004
PENSAMENTO SISTÊMICO
Na mudança do pensamento mecanicista para o pensamento sistêmico, a relação entre as partes e o todo foi invertida. A ciência cartesiana acreditava que em qualquer sistema complexo o comportamento do todo podia ser analisado em termos das propriedades de suas partes. A ciência sistêmcia mostra que os sistemas vivos não podem ser compreendidos por meio da análise. As propriedades das partes não são propriedades intrínsecas, mas só podem ser entendidas dentro do todo maior. Desse modo o pensamento sistêmico é pensamento "contextual"; e, uma vez que explicar coisas considerando o seu contexto significa explicá-las considerando seu meio ambiente, também podemos dizer que o pensamento sistêmico é pensamento ambientalista.
Em última análise - como a física quântica mostrou de maneira tão dramática - não há partes, em absoluto. Aquilo que denominamos parte é apenas um padrão numa teia inseparável de relações.
(ex-traído de "A Teia da Vida" de F. Capra, 1996)
O HUMANO
O humano surge na história evolutiva a que pertencemos ao surgir a linguagem, mas se constitui de fato como tal na conservação de um modo de viver particular centrado no compartilhamento de alimentos, na colaboração de machos e fêmeas, na criação da prole, no encontro sensual individualizado recorrente, no conversar.
Por isso todo afazer humano se dá na linguagem, e o que na vida dos seres humanos não se dá na linguagem não é afazer humano; ao mesmo tempo, como todo afazer humano se dá a partir de uma emoção, nada do que seja humano ocorre fora do entrelaçamento do linguajar com o emocionar e, portanto, o humano se vive sempre num conversar.
O emocionar, em cuja conservação se constitui o humano ao surgir a linguagem, centra-se no prazer da convivência, na aceitação do outro junto a nós, ou seja, no amor, que é a emoção que constitui o espaço de ações no qual aceitamos o outro na proximidade da convivência.
Sendo o Amor a emoção que funda a origem do humano, e sendo o prazer do conversar nossa característica, resulta em que tanto nosso bem estar como nosso sofrimento dependem do nosso conversar.
(ex-traído de" A Ontologia da Realidade" de H. Maturana, 2001)
O AMOR
Quando falamos de emoções, fazemos referência ao domínio das ações em que um animal se move...o que conotamos quando falamos de emoções são os diferente domínios de ações possíveis nas pessoas e animais, e as distintas disposições corporais que os constituem e realizam.
Por isso mesmo, sustento que não há ação humana sem uma emoção que a estabeleça como tal e a torne possível como ato.
Por isso mesmo também que, para que se desse um modo de vida baseado no estar juntos em interações recorrentes no plano da sensualidade em que surge a linguagem, seria necessária uma emoção fundadora paticular, sem a qual esse modo de vida na convivência não seria possível.
Essa emoção é o
AMOR.
O amor é emoção que constitui o domínio de ações em que nossas interações recorrentes com o outro, fazem do outro um legítimo outro na convivência.
As interações recorrentes no amor ampliam e estabilizam a convivência; as interações recorrentes na agressão interferem e rompem a convivência.
(ex-traído de "Emoções e Linguagem na Educação e na Política" de H. Maturana,2001)
# publicado por Haylton : 6:19 PM
Terça-feira, Outubro 12, 2004
O QUE É EDUCAR
O educar se constitui no proceso em que a criança ou o adulto convive com o outro e, ao conviver com o outro, se transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro no espaço de convivência.
O educar ocorre, portanto, todo o tempo e de maneira recíproca. Ocorre como uma transformação estrutural contingente com uma história no conviver, e o resultado disso é que as pessoas aprendem a viver de uma maneira que se configura de acordo com o conviver da comunidade em que vivem.
A Educação como "sistema educacional" configura um mundo, e os educandos confirmam em seu viver o mundo que viveram em sua educação. Os educadores, por sua vez, confirmam o mundo que viveram ao ser educados no educar.
A educação é um processo contínuo que dura toda a vida, e que faz da comunidade onde vivemos um mundo espontaneamente conservador, ao qual o educar se refere.
Isso não significa, é claro, que o mundo do educar não mude, mas sim que a educação, como sistema de formação da criança e do adulto, tem efeitos de longa duração que não mudam facílmente.
(ex-traído de "Emoções e linguagem na educação e na política" H. Maturana, 2001)
# publicado por Haylton : 9:49 PM
Quarta-feira, Setembro 29, 2004
C O N F L I T O S
Na condição de seres humanos ocidentais modernos, falamos em valorizar a paz e vivemos como se os conflitos que surgem na convivência pudessem ser resolvidos na luta pelo poder; falamos de cooperação e valorizamos a competição; falamos em valorizar a participação, mas vivemos na apropriação, que nega aos outros os meios naturais de subsistência; falamos da igualdade humana, mas sempre validamos a descriminação; falamos da justiça como um valor, mas vivemos no abuso e na desonestidade; afirmamos valorizar a verdade, mas negamos que mentimos para conservar as vantagens que temos sobre os demais... Isto é: em nossa cultura patriarcal ocidental vivemos em conflitos, e frequentemente dizemos que a fonte deles está no caráter conflituoso de nossa natureza humana.
Com frequência, dizemos que tanto a luta entre o bem e o mal quanto o viver em agressão são características prórpias da natureza biológica dos seres humanos.
Discordo, não por pensar que o ser humano, em sua natureza, seja pura bondade ou pura maldade, mas porque considero que a questão do bem e do mal não é biológica e sim cultural. Esse conflito em que nós, seres humanos patriarcais modernos, vivemos, nos dobrará com sofrimentos e por fim nos destruirá, a menos que o resolvamos.
(ex-traído de "Amar e Brincar - Fundamentos Esquecidos do Humano" de H. Maturana e G. Verden-Zöller, 1993)
# publicado por Haylton : 8:29 AM
Quinta-feira, Agosto 19, 2004
AMOR E GUERRA
Devido à nossa origem evolutiva, nós, seres humanos, somos animais - animais dependentes do amor, que adoencem ao ser privados dele em qualquer idade.
A guerra a agressão e a maldade como formas de viver na negação dos outros não são características de nossa biologia. Como animais, nós, seres humanos sem dúvida somos biologicamente capazes de agressão, ódio, raiva - ou de qualquer emoção que a experiência nos mostra que podemos viver e que constitua um domínio de ações que leve à destruição ou à negação dos outros. Mas vivemos esses domínios de ações seja como episódios transitórios, seja como alienações culturais, que, como sabemos, distorcem nossa condição humana e nos levam à loucura ou à infelicidade.
A agressão, a guerra e a maldade não são parte da maneira de viver que nos define como seres humanos e que nos deu origem como humanos.
(ex-traído de "Amar e Brincar - Fundamentos Esquecidos do Humano" de H. Maturana e Gerda Verden-Zöller, 1993)
# publicado por Haylton : 5:28 PM
Terça-feira, Agosto 10, 2004
PERCEPÇÃO
A palavra percepção é hábitualmente ouvida como se conotasse uma operação de captação de uma realidade externa, mediante um processo de recepção de informações dessa realidade.
Isso é todavia, constitutivamente impossível, porque seres vivos são sistemas dinâmicos determinados estruturalmente, e tudo o que acontece neles é determinado a cada instante por sua estrutura. Isso significa que o meio não pode especificar o que acontece num sistema vivo – ele pode apenas desencadear em sua estrutura mudanças determinadas por sua estrutura.
Como resultado disso, constitutivamente, um sistema vivo opera sempre em congruência estrutural com o meio, e existe como tal somente na medida em que essa congruência estrutural ( adaptação) for conservada. Caso contrário ele se desintegra.
Nessas circunstâncias, o fenômeno conotado pela palavra percepção consiste na associação, pelo observador, das regularidades de comportamento que ele ou ela distingue no organismo observado com as condições do meio que ele ou ela vê como desencadeando essas regularidades.
O observador usa tais regularidades comportamentais para caracterizar objetos perceptivos. Isso se aplica a todos os seres vivos, incluindo o observador.
(ex-traído de "Ontologia da Realidade" de H Maturana. 2001)
# publicado por Haylton : 12:07 PM
Quarta-feira, Julho 28, 2004
E M O Ç Õ E S
Nossos desejos e preferências surgem em nós a cada instante, no entrelaçamento de nossa biologia com nossa cultura e determinam, a cada momento, nossas ações. São eles, portanto , que definem, nesses instantes, o que constitui um recurso, o que é uma possibilidade ou aquilo que vemos como uma oportunidade.
Além disso, sustento que agimos segundo nosso desejos, mesmo quando parece que atuamos contra algo ou forçados pelas circunstâncias; fazemos sempre o que queremos, seja de modo direto , porque gostamos de fazê-lo, ou indiretamente, porque queremos as consequências de nossas ações, mesmo que estas não nos agradem.
Se não compreendermos que nossas ações constituem e guiam nossas ações na vida, não teremos elementos conceituais para entender a participação de nossas emoções no que fazemos como membros de uma cultura e, consequentemente, o curso de nossas ações nela. Também afirmo, por fim, que se não entendermos que o curso das ações humanas segue o das emoções, não poderemos compreender a trajetória da história da humanidade.
(ex-traído de "Amar e Brincar - Fundamentos Esquecidos do Humano" de H. Maturana e Gerda Verden-Zöller, 1993)
# publicado por Haylton : 5:13 PM
Terça-feira, Julho 20, 2004
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NÓS HUMANOS
Nós, Humanos, surgimos na história da família dos primatas bípedes á qual pertencemos quando o linguajear - como maneira de conviver em coordenações de coordenações comportamentais consensuais - deixou de ser um fenômeno ocasional.
A linhagem a que pertencemos como seres humanos surgiu quando a prática da convivência em coordenações de coordenações comportamentais consensuais - que constitui o linguajear - passou a ser conservada de maneira transgeracional pelas formas juvenis desse grupo de primatas, ao ser aprendida, geração após geração, como parte da prática cotidiana do convívio.
O Humano surgiu quando nossos ancestrais começaram a viver no
conversar como uma maneira cotidiana de vida que se conservou, geração após geração, pela prendizagem dos filhos.
Em outras palavras, digo que o que nos constitui como seres humanos é nossa existência no conversar.
Assim, caçar, pescar, guardar um rebanho, cuidar das crianças, a veneração, a construção de casas, a fabricação de tijolos, a medicina... como atividades humanas, são diferentes classes de
conversações. Consistem em distintas redes de
coordenações de coordenações consensuais de ações de emoções.
(ex-traído de "Amar e Brincar - Fundamentos Esquecidos do Humano" de H. Maturana e Gerda Verden-Zöller, 1993)
# publicado por Haylton : 9:42 AM
Segunda-feira, Julho 05, 2004
DO HUMANO
A julgar pelos modos atuais de vida de humanos e antropóides, e reconhecendo que em todas as linhagens a maneira presente de viver é uma variação em torno da configuração básica do viver, que foi conservada geração após geração, e que de fato é o modo de vida que define a linhagem, proponho que a diferença entre nós e os antropóides ( como o chimpanzé )é o resultado de variações em torno da conservação de dois modos de vida basicamente diferentes no que se refere às relações interindividuais, a saber:
A) O modo de vida Humano, centrado na sensualidade, na ternura, na sexualidade aberta, no compartilhamento, na cooperação, na intimidade de pequenos grupos ( de 7-8 indivíduos );
B) O modo de vida Antropóide, centrado na oposição hierárquica, na manipulação mútua através da intimidação, da força,
da trapaça, e a instrumentalização da sexualidade em uma contínua luta por um acesso privilegiado à comida e ao sexo, em grandes grupos (de 15-ou mais indivíduos ).
De acordo com isso, eu sustento que nós, seres humanos pertencemos a uma linhagem definida por um modo de vida centrado em torno de relações de cooperação na biologia do amor, e que os grandes antropóides, tais como os chimpanzés, pertencem a uma linhagem definida por uma modo de vida centrado em relações de hierarquia na biologia da dominação e da submissão.
(ex-traído de "A Ontologia da Realidade" H. Maturana /2001)
# publicado por Haylton : 11:39 AM
Segunda-feira, Maio 10, 2004
Mudança de Paradigma
Segundo Thomas Kuhn em seu livro " A Estrutura das Revoluções Científicas" a noção de um "paradigma" científico é definida "como uma constelação de realizações - concepções, valôres, técnicas, ect. - compartilhada por uma comunidade científica e utilizada por essa comunidade para definir problemas e soluções legítimos"
O paradigma que está agora começando a retroceder dominou a nossa cultura por várias centenas de anos, durante os quais modelou nossa moderna sociedade ocidental e inflenciou significativamente o restante do mundo.
Esse paradigma consiste em várias idéias e valôres entrincheirados, entre os quais a visão do Universo como um sistema mecânico composto de blocos de construção elementares, a visão do corpo humano como uma máquina, a visão da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso material ilimitado a ser obtido por intermédio de crescimento econômico e tecnológico, e - por fim, mas não menos importante - a crença em que uma sociedade na qual a mulher é, por toda a parte, classificada em posição inferior à do homem é uma sociedade que segue uma lei básica da natureza.
Todas essas suposições têm sido decesivamente desafiadas por eventos recentes. E, na verdade, está ocorrendo, na atualidade, uma revisão radical dessas suposições.
(ex-traído de "A Teia da Vida" Fritjof Capra 1996)
# publicado por Haylton : 1:31 PM
Segunda-feira, Maio 03, 2004
O Sistema Nervoso humano não processa nehuma informação (no sentido de elementos separados que existem já prontos no mundo exterior, a serem apreendidos pelo sistema cognitivo), mas interage com o meio ambiente modulando continuamente sua estrutura.
Além disso, os neurocientistas descobriram fortes evidências de que a inteligência humana, a memória humana e as decisões humanas nunca são completamente racionais, mas sempre se manifestam coloridas por emoções, como todos sabemos a partir da experiência.
Nosso pensamento é sempre acompanhado por sensações e processos somáticos, mesmo que com frequência, tendamos a suprimir estes últimos, pois sempre pensamos também com o nosso corpo.
Essas considerações implicam no fato de que certas tarefas nunca deveriam ser deixadas para os computadores, como Joseph Weizenbaum afirmou enfáticamente em seu livro clássico Computer Power and Human Reason.
Essas tarefas incluem todas aquelas que exigem qualidades humanas genuínas, tais como sabedoria,compaixão, respeito, compreensão e amor.
Decisões e comunicações que exigem essas qualidades desumanizarão nossas vidas se forem feitas por computadores.
(ex-traído de "A Teia da Vida" de Fritjof Capra 1996)
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