Este trabalho nasceu do contato com mães de comunidade pobre, que precisam dar conta de jornadas triplas de trabalho: casa, filhos, trabalho; quando não quíntuplas pensando que precisam cuidar de ser esposa e mulher também. A questão é como essas mulheres conseguem renovar suas energias para a luta diária pela vida? Será que há condições de só viver de trabalho, de exigências externas, de responsabilidades? Assim encaminhou-se a discussão sobre o lazer e o trabalho, pensando-os como instâncias importantes para a condição humana, para a expressão e manutenção de si. A proposta é apresentar uma visão crítica sobre o papel do lazer e do trabalho no cotidiano das pessoas no início do século XXI, a partir da linha de Frederic Munné, de que a sociedade desta época está sob uma intensa influência da propaganda e do lucro e de que o tempo não deve ser dividido entre trabalho e lazer. Cristophe Dejours traz uma possibilidade nova de interpretação sobre o conceito de saúde: por mais controlados que os desejos estejam pela mídia e propaganda, as pessoas têm necessidades básicas de buscar seus interesses. E esta busca é fundamental para manutenção do desejo pela vida. O que se faz na diversificação de atividades. Este ponto se aproxima do pensamento de Donald Winnicott, que vê a possibilidade de se colocar no mundo, ou seja, a capacidade de viver de forma saudável, a partir do brincar e da relação mãe-bebê. Esta pesquisa tem o objetivo de conhecer as formas de vida de mulheres, mães, de comunidade pobre de São Paulo a São Remo, vizinha à USP. Por conta desta vizinhança, a São Remo apresenta uma relação peculiar com as pesquisas que ali são propostas. Não há uma grande valorização desta atividade, já que eles encontram tantos pesquisadores de diversos cursos diferentes na comunidade e sentem pouco retorno disso. Esta distância aparece na presente pesquisa, que trabalhou a partir do interesse das moradoras, e também por ter se deparado com mulheres se propondo a participar por conta da especialidade da interlocutora: psicologia. A partir de encontros mensais organizados pela Pastoral da Criança na região, sete mulheres deram seus nomes para conversar sobre suas rotinas. Rotinas cheias de sentimentos e que mostram uma variedade de sentidos a cada atividade que fazem. Estes momentos dos encontros são marcados pela presença de muitas mães com seus filhos, aguardando pesagem, sorteio de cesta básica, lanche, sol, espaço para os meninos brincarem, outras mães para conversar. Um espaço tão rico, já começa a mostrar o quanto a maioria das atividades destas mulheres está marcada pela maternidade e também pela união da responsabilidade e do relaxamento. Mesmo quando falam em trabalho fora de casa, valorizam o sair, a diversidade de coisas para ver, o dinheiro para suas coisas, entre outros. Inclusive a viabilização do grande sonho de todas elas: ter uma casa sua e arrumada. Elas nos ensinam diferentes maneiras de viver, de enfrentar as dificuldades, de sonhar e manter o desejo pela vida.
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Dissertação de Mestrado
Instituto de Psicologia USP
Stucchi, Mariana Peres
Área do Conhecimento
Psicologia Escolar e do Desenvolvimento HumanoData de Defesa2009-06-15ImprentaSão Paulo, 2009OrientadorSchmidt, Maria Luisa Sandoval (Catálogo USP)
Título em português
Artes de viver em mulheres de camadas populares: o cotidiano de mães da comunidade São Remo (SP)
Palavras-chave em português
Áreas de pobreza
Brincar (Winnicott)
Cotidiano
Lazer
Mães
Mulheres
Trabalho
Banca examinadora Schmidt, Maria Luisa Sandoval (Presidente)
Dalmaso, Ana Silvia Whitaker
Mello, Sylvia Leser de
Título em inglêsPoor Womens Art of Living The daily routine at São Remos communityPalavras-chave em inglês Daily Life
Labour
Leasure time
Mothers
Playing (Winnicott)
Poverty areas
Women
Resumo em inglês
The idea for this work started from contact with poor mothers who must take care of a lot of things during their days: housework, children, work, and also being a wife and a woman. How can they have enough energy for all of that? Is it possible to live only working and dealing with obligations? This lead to the discussion of work and leisure. They are both very important activities for ability of human beings to express and to keep life going on. This dissertation presents a critical view of the role of work and leisure for people who live in the twentyfirst century. Frederic Munné says that this is a time when our lives are very influenced by marketing and money and that we normally think in a double way: or work or leisure. Cristophe Dejours thinks that being healthy today is to keep engaged and to have a desire for living. This, we can do if we have different activities each day. This is similar to Donald Winnicott´s idea that our interest for living and for life is something people develop from creativity and from the mother/child relationship. This research studies the way of life of poor mothers from a poor community in São Paulo called São Remo, USP neighborhood. Because of this neighborhood São Remo doesn´t give much value for researches in the area. They are studied often, but little feed back is given. This is shown in this work, that is based on São Remo women´s interest, and also they are interested on psychologist consultation. Starting with my presence in a monthly meeting organized by Pastoral da Criança, I met seven women who would like to talk about their daily routines. Those are full of emotion and shows lots of different meanings in each activity. The Pastoral meetings have a lot of mothers with their children, waiting to check each child weight, to see who will be the lucky three winners of donated food, for snacks. These mothers and children enjoy the outside atmosphere with space for children play and an opportunity to speak with other mothers. A very rich moment that demonstrate the big part that motherhood plays in their routines. They can unite responsibility and relaxing. Even when they talk about work, they can give value to the way they do things, the diversity of things to see and the money they can have to pay bills and sometimes buy women things, among other points. As well as their dream to have their own beautiful house. They teach us many ways of living, to fight for life, to dream and to keep desire to live.
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